As negociações para a prorrogação do tratado de desarmamento russo-americano Novo Start, que expira no início de 2021, foram paralisadas novamente nesta sexta-feira (16) depois que os Estados Unidos rejeitaram uma proposta da Rússia. Durante uma reunião de seu Conselho de Segurança, o presidente russo, Vladimir Putin, propôs “estender o acordo atual sem condições” por pelo menos um ano.
A paralisação das negociações sobre o tratado, o último de controle de armas nucleares vigentes entre os dois países, levanta temores do ressurgimento de uma corrida armamentista e do colapso das relações entre os dois gigantes em um setor altamente sensível.
“Os Estados Unidos propuseram uma extensão do Novo Start por um ano, em troca de a Rússia e de os Estados Unidos limitarem todas as ogivas nucleares durante esse período”, afirmou o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Robert O’Brien, no Twitter. “A resposta do presidente russo hoje para estender o Novo Start sem congelar as ogivas nucleares é inaceitável.”
O tratado bilateral, negociado na época dos presidentes Barack Obama e Dmitri Medvedev e concluído em 2010, mantém os arsenais dos dois países bem abaixo do nível da Guerra Fria, limitando o número de lançadores nucleares estratégicos a 700, e o número de ogivas nucleares, a 1.550. De acordo com o último relatório do Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisas para a Paz (SIPRI), Rússia e Estados Unidos ainda possuem mais de 90% das armas nucleares do mundo.
Durante meses, Washington e Moscou negociaram intensamente para encontrar uma base de entendimento. Na ausência de avanços e com o fim do atual mandato do presidente Donald Trump se aproximando, o negociador americano Marshall Billingslea propôs a Moscou prorrogar o tratado “por um tempo”, desde que a Rússia concorde em “congelar” seu arsenal nuclear.
O congelamento foi imediatamente considerado “inaceitável” pelo negociador russo, o vice-chanceler Sergei Riabkov, já que, para Moscou, o acordo deve ser estendido sem condições. Durante o encontro com Putin, o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, chegou a falar a favor da simples e pura extensão do atual acordo por cinco anos.
Na sexta-feira, Putin disse que seria “muito lamentável”, se o tratado chegasse ao fim sem ser substituído e saudou um acordo que, em sua opinião, tornou possível “limitar a corrida armamentista”.
O presidente Trump já abandonou o Tratado sobre Mísseis Terrestres de Médio Alcance e o Tratado de Céus Abertos, que visa verificar os movimentos militares e as medidas de controle de armas dos países signatários. Quanto ao Novo Start, os Estados Unidos insistem, até agora sem sucesso, em que o tratado de substituição também inclua a China — a China tem 290 ogivas, os EUA 6.185 — mesmo com a proclamada falta de interesse de Pequim em fazer parte de um acordo.
Os EUA também querem que o documento trate de armas nucleares táticas, bem como dos novos tipos de armamento que a Rússia se orgulha de ter desenvolvido.
Nos últimos anos, a Rússia desenvolveu uma nova geração de armas, incluindo mísseis apresentados pelo presidente russo como “invencíveis” por serem hipersônicos, em um contexto de tensões crescentes com Washington.
Para o especialista militar russo Vassili Kachine, os americanos propõem “um acordo radicalmente diferente” do Nova Start, que, em sua forma atual, é inaceitável para a Rússia. Portanto, sua prorrogação de um ano seria a “variante ideal”, segundo o especialista.
— Esta é uma chance de salvar o acordo antes de uma eleição presidencial incerta nos EUA — avaliou. [Foto de capa: Alexei Druzhinin/AFP]