A Turquia lançou um foguete de uma região apontada pelos militares do país como o provável local de um teste crucial do sistema de defesa aérea russo S-400, pivô de uma crise do governo turco com a Otan, especialmente com o governo americano.
De acordo com um vídeo obtido pela agência Reuters, é possível ver uma coluna de fumaça perto da cidade de Sinop, na costa do Mar Negro. Na semana passada, o governo turco havia emitido um alerta para todas aeronaves e embarcações evitarem a região entre os dias 13 e 16 de outubro, por conta de um teste de mísseis, que usaria drones como alvos.
O lançamento foi confirmado por pelo menos dois meios locais de comunicação. O governo turco não negou nem confirmou o teste. Especialistas dizem que “provavelmente” se tratou de um lançamento associado ao armamento russo. No fim do ano passado, foram realizados testes de sistemas de radar do S-400, mas a pandemia adiou o cronograma para tornar o S-400 operacional.
O possível teste dos mísseis que integram o sistema S-400 deve provocar ainda mais atritos nas relações entre Ancara e os países da Otan, a principal aliança militar do Ocidente. Por meses, o governo americano tentou impedir que a Turquia comprasse o sistema, visto como um dos mais avançados do mercado e capaz de atingir alvos a mais de 400 km de distância.
Pentágono alerta
Além da perda de um mercado para seu sistema Patriot, o Pentágono apontava para o fato de os turcos também fazerem parte do programa de caças de quinta geração F-35 — e o uso conjunto de um sistema russo com aviões com avançados sistemas eletrônicos abriria caminho, segundo os americanos, para que potenciais rivais (leia-se Rússia) tivessem acesso a vulnerabilidades de equipamento.
Sem acordo, a Turquia começou a receber as primeiras peças do sistema em julho do ano passado — ao mesmo tempo, começou o processo de exclusão do país do programa F-35. Em seu lugar, o líder turco, Recep Tayyip Erdogan, sugeriu que poderia comprar os caças russos Sukhoi Su-35 e Su-37. O Congresso dos EUA também aprovou a aplicação de sanções contra o país, mas as medidas não foram adotadas pela Casa Branca, pelo menos até agora.
Segundo a porta-voz do Departamento de Estado, o governo americano foi claro “sobre as potenciais consequências para a relação de segurança se a Turquia ativar o sistema”, e que, se confirmado o lançamento, ele “seria condenado nos termos mais fortes”, uma vez que, para ela, o teste “é incompatível com as responsabilidades da Turquia como aliado da Otan e parceiro estratégico dos EUA”.
Na mesma linha, o Pentágono disse que o S-400 é “uma barreira ao progresso na relação bilateral”.
Na semana passada, em visita a Ancara, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, pediu que os turcos repensem sua decisão de usar o sistema russo, alegando que ele poderia colocar em risco os demais países da aliança. Em resposta, o chanceler turco afirmou que “precisou comprar” o S-400 porque não conseguiu comprar sistemas semelhantes de outros aliados.
Em entrevista ao site Al-Monitor, Sinem Adar, pesquisador do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança, sugeriu que os dois lados, apesar da animosidade aparente, estão em negociações nos bastidores. Ele cita que S-400 poderia se inserir em um contexto mais amplo de segurança entre a Turquia e a Europa, incluindo aí a crise no Leste do Mediterrâneo, envolvendo também a Grécia e o Chipre, tendo como ponto central uma disputa por limites marítimos e exploração de reservas de gás na área. [Foto de capa: Handout/AFP]