Martín Fernandez: Santos deu as costas à empatia e só evita Robinho por ruína financeira

Quando foi visitar a CBF na semana passada, o presidente do Santos, Orlando Rollo, estava acompanhado de seis pessoas. Na comitiva havia um vereador, um deputado estadual e um delegado da Polícia Civil de São Paulo. Nenhum deles foi capaz de aconselhar o cartola — ele próprio um policial civil —a desistir de contratar um jogador condenado por violência sexual contra uma mulher na Itália. Sim, a decisão é de primeira instância. Sim, cabem recursos. Sim, a defesa recorreu. Sim, Robinho é um homem livre para jogar futebol no Brasil. Mas não é disso que se trata.

Felizmente o repórter Lucas Ferraz fez o trabalho que o presidente do Santos e seu batalhão de assessores e advogados não foram capazes de fazer e foi atrás da sentença, proferida em novembro de 2017 por um tribunal de Milão, um documento público na Itália. A reportagem publicada nesta sexta-feira (16) pelo Globo Esporte (GE) tem detalhes estarrecedores sobre o que aconteceu durante e depois da madrugada de 22 de janeiro de 2013.

É desnecessário descrever as cenas daquela noite, mas é importante destacar o comportamento de Robinho e de seus amigos durante a investigação do caso. Grampeados pelas autoridades italianas, o jogador e seus amigos foram flagrados desdenhando da vítima e combinando o que diriam em seus depoimentos. Para usar o termo de uma juíza do caso – chamada de “lacradora” pela advogada de Robinho – as escutas são “autoacusatórias”.

Todas essas informações estavam ao alcance do Santos há uma semana, quando o clube orgulhosamente anunciou a volta de Robinho, com direito a piadinhas nas redes sociais. Ou seus dirigentes não sabiam da situação — o que demonstra um nível de desleixo com o clube inaceitável até para os padrões flexíveis do futebol brasileiro —, ou sabiam de tudo e mesmo assim decidiram levar em frente o teatro da contratação. O que torna tudo pior.

Dois dias antes da publicação da reportagem, o Santos divulgou uma “nota oficial” delirante e deliberadamente escrita para confundir em vez de esclarecer. “Não seria a nossa coletividade a lhe dar as costas e decretar juízo final de valor em um processo com recursos em andamento”, diz um trecho do comunicado. Como se coubesse a um clube de futebol condenar ou absolver quem quer que seja.

O que se pedia ao Santos desde a semana passada era um pouco de empatia, de coerência com o discurso de quem prega o fim da violência contra mulheres, de quem leva o futebol feminino a sério — no mínimo, um pouco de zelo com a própria imagem, de cuidado com o recado que se envia à sociedade quando se tenta instalar no altar da idolatria um homem condenado por violência sexual contra uma mulher.

A nota do Santos envelheceu mal e envelheceu rápido. Assim que os detalhes do caso foram revelados pelo ge, os patrocinadores iniciaram um movimento coordenado para pressionar pela rescisão do contrato de Robinho. Sob a ameaça de fuga das empresas que financiam o clube, os cartolas finalmente desfizeram o que nunca deveriam ter feito e desistiram da contratação de Robinho. A ruína financeira do Santos acabou por evitar um erro maior. E por definir uma história que termina sem vencedores. [Foto de capa: Divulgação/Santos]

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