França prende dez pessoas depois de decapitação de professor nos arredores de Paris

Autoridades francesas anunciaram a detenção de dez pessoas na investigação do brutal assassinato de um professor nos arredores de Paris, na sexta-feira, em um ato que está sendo considerado um atentado terrorista ligado ao extremismo islâmico.

De acordo com o jornal Le Monde, entre os detidos estão quatro parentes — os pais, o irmão menor e o avô — de Abdoullakh Aboyezidvitch A., apontado como o autor do ataque e morto ao reagir à abordagem policial logo após o crime. Ele tinha 18 anos, nasceu na Rússia, com os pais de origem chechena, e vivia na França havia 12 anos, com status de refugiado. A polícia afirma que ele não tinha antecedentes criminais nem aparecia como suspeito de estar associado a radicais. A Embaixada da Rússia em Paris afirma que Abdoullakh não tinha qualquer relação com o país desde 2008.

Na sexta-feira (16), por volta das 17h (horário local), policiais municipais da cidade de Conflans-Sainte-Honorine encontraram o corpo de um homem decapitado perto de uma escola, ao lado de um homem muito agitado. Ao ser interpelado, ele fugiu até os limites da cidade vizinha de Eragny, quando foi parado pelas autoridades e as ameaçou com uma arma de airsoft, similar a uma arma de fogo. Em resposta, os policiais atiraram contra ele, que morreu no local. A faca usadas no crime foi abandonada perto do corpo.

Neste sábado (17), as autoridades revelaram a identidade da vítima: era Samuel Paty, de 47 anos, que lecionava História e Geografia e era querido dos alunos. No começo do mês, Paty iniciou um curso sobre liberdade de expressão, e no material didático ele apresentava caricaturas do profeta Maomé, a reprodução de cuja  imagem é vetada pelo islamismo.

Antes de uma dessas aulas, quando o professor mostrou a caricatura de Maomé agachado, ele sugeriu aos estudantes muçulmanos que saíssem da sala para evitar constrangimentos de qualquer tipo, de acordo com o relato à AFP do presidente da associação de pais e mestres da França. Além de sua brutalidade, o crime chocou por ter atingido a educação pública, que é considerada uma das bases da República francesa.

‘Isso tem que parar’

Mas alguns pais de alunos se sentiram ofendidos pelo conteúdo do curso e pela sugestão feita aos alunos muçulmanos: em um vídeo publicado no Facebook e relatado pelo Le Monde, o pai de uma aluna de 13 anos chama Paty de “criminoso” e afirma que “isso tem que parar”, referindo-se  às aulas. Outros vídeos semelhantes surgiram nos dias posteriores, além de muitos pedidos à direção da escola para que o professor fosse demitido. Um dos autores dos vídeos está sob custódia das autoridades, mas não se sabe se tem ligação com o assassino. A meia-irmã de um dos presos pertenceu ao Estado Islâmico, e um outro homem detido envolvido  na produção de um doa vídeos já era conhecido dos serviços de segurança.

De acordo com a polícia, Abdoullakh pediu a alunos da escola que apontassem Paty na saída das aulas. Ele o seguiu e o atacou com golpes de faca. Depois, o decapitou e postou a imagem no Twitter, em uma publicação rapidamente apagada pela rede social, mas ainda visível em outras plataformas.

O ataque, segundo do tipo em menos de um mês, provocou uma onda de consternação e soilidariedade ao redor da França, que viveu graves atentados em 2015 e 2016. Vigílias e homenagens ocorreram por todo o país. Na própria sexta-feira, o presidente Emmanuel Macron foi ao local do ataque e pediu que “toda a nação proteja e defenda os professores”. Neste sábado, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, enviou uma mensagem de solidariedade a todos os professores, “na França e na Europa”. [Foto de capa: Bertrand Guay/AFP]

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