A fintech Nubank publicou uma carta, nesse domingo (25/10), em que pede desculpas pela fala considerada racista da co-fundadora Cristina Junqueira durante entrevista ao programa Roda Vida, na última segunda-feira (19/10).
A empresária disse, durante a entrevista, que o Nubank não possui políticas afirmativas de contratação de pessoas negras. Para ela, o nível da empresa é alto e uma política dessas poderia “nivelar por baixo” a companhia.
“O Nubank errou”, diz o título da carta publicada (leia aqui a íntegra). Além da própria cofundadora Cristina Junqueira (foto em destaque), o texto é assinado pelo fundador e CEO do Nubank, David Vélez, e pelo cofundador Edward Wible.
“No Nubank, temos um enorme orgulho da nossa comunidade e pedimos desculpas aos Nubankers negros, ao movimento negro e aos grupos sub-representados por não termos feito mais. Como fundadores, nos comprometemos a ouvir mais”, dizem.
O Nubank diz que a diversidade sempre fez parte da cultura da empresa, mas que ficou acomodado com o progresso em estatísticas relativas à igualdade de gênero e LGBTQIA+. “O equívoco foi achar que ter o valor por si só bastava”.
“O erro foi achar que as coisas vão se resolvendo sozinhas, pela própria comunidade de Nubankers, organicamente, sem esforços contínuos e investimentos da liderança. Deixamos de nos questionar. Ignoramos o grande caminho que ainda tínhamos pela frente”.
Logo, a fintech afirmou que está “desenhando uma agenda real com ações concretas e ambiciosas de transformação na área de diversidade racial, a qual dividiremos ainda em novembro com os números do nosso compromisso”.
Esse foi o segundo pedido de desculpas feito pela empresa após a fala da cofundadora no Roda Viva. Na semana passada, Cristina Junqueira chegou a pedir desculpas em vídeo em sua conta na rede social profissional Linkedin.
Leia, a seguir, a íntegra da carta:
O Nubank errou
Nosso compromisso agora é desafiar de novo o status quo – desta vez, no campo da diversidade e inclusão racial no Brasil e na América Latina. Veja carta dos cofundadores.
Há sete anos, quando fundamos o Nubank, nosso maior desejo era ter uma cultura com valores muito sólidos.
Entre nossos valores mais admirados está Construímos Times Fortes e Diversos.
A diversidade foi sempre, sim, parte da nossa cultura.
O equívoco foi achar que ter o valor por si só bastava.
O erro foi achar que as coisas vão se resolvendo sozinhas, pela própria comunidade de Nubankers, organicamente, sem esforços contínuos e investimentos da liderança.
Ficamos acomodados com o progresso que tivemos nos nossos primeiros anos de vida que se refletia em algumas estatísticas relativas à igualdade de gênero e LGBTQIA+, por exemplo, que, repetidas, mascaravam a necessidade urgente de posicionamento ativo também na pauta antirracista.
Deixamos de nos questionar. Ignoramos o grande caminho que ainda tínhamos pela frente.
Com isso, perdemos a humildade, que sempre foi a característica que nos ajudou a entender velhos problemas com novas soluções e uma mentalidade inovadora.
Erramos.
A diversidade étnico-racial é um desafio muito maior e mais complexo do que imaginávamos.
Passamos os últimos dias em conversas com a comunidade negra de Nubankers, com ativistas negros de fora do Nubank e também com nossos clientes.
Nessas conversas, vimos o quanto precisamos avançar, dentro e fora de casa, com uma agenda de reparação histórica e de combate ao racismo estrutural.
O Brasil tem excelentes profissionais negros em diferentes carreiras.
No Nubank, temos um enorme orgulho da nossa comunidade e pedimos desculpas aos Nubankers negros, ao movimento negro e aos grupos sub-representados por não termos feito mais.
O Nubank precisa ouvir para se transformar. Precisamos de muito mais ações concretas. Queremos aprender sobre raça para liderar nossos times nesta transformação.
Como fundadores, nos comprometemos a ouvir mais e a agir mais.
Já tínhamos iniciativas focadas em recrutamento e inclusão, mas sabemos que é pouco.
Somos inconformados por natureza, questionamos tudo inclusive nós mesmos. Vamos usar essa característica para recomeçar uma jornada de inclusão racial.
Mas não temos e nem queremos soluções simplistas.
Por isso, estamos desenhando uma agenda real com ações concretas e ambiciosas de transformação na área de diversidade racial, a qual dividiremos ainda em Novembro com os números do nosso compromisso.
Para criá-la, estamos trabalhando com nossos Nubankers, representantes da comunidade negra, especialistas em diversidade racial, consultores e ONGs.
Para já, acabamos de firmar uma parceria com o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) como primeiro passo nessa jornada de aprendizado e transformação. O objetivo é ampliar nosso entendimento sobre o tema, firmar nosso engajamento público e contínuo e acelerar a promoção da igualdade racial no Nubank.
O ID_BR confere às empresas que estão neste caminho o Selo “Sim à Igualdade Racial” no nível “Compromisso”, e o Nubank já está incluso nesse processo. Existe uma agenda a ser realizada e o instituto irá nos acompanhar nessa jornada para darmos sequência no planejamento estratégico voltado à temática racial.
Decidimos também dobrar o tamanho do time interno dedicado a recrutar profissionais de grupos sub-representados em todas as posições e níveis da empresa e reforçar a busca por lideranças negras para nos ajudar nesse processo.
Temos certeza que esse trabalho trará benefícios para o Nubank e para a sociedade.
Esperamos que bancos, fintechs e demais agentes do sistema financeiro entrem nesse movimento conosco para ajudar a mudar a realidade à nossa volta.
Nosso compromisso agora é desafiar de novo o status quo — desta vez, no campo da diversidade e inclusão racial no Brasil e na América Latina.
David Vélez, fundador e CEO do Nubank.
Cristina Junqueira, cofundadora.
Edward Wible, cofundador.
São Paulo, 25 deoutubro de 2020
(Foto de capa: Metrópoles)