Moradores de Porto Iguaçu, na Argentina, desenterraram frangos apreendidos que foram descartados em um terreno pelo órgão sanitário do país, na terça-feira (17). A carne foi retirada por famílias que passam fome na cidade, segundo o Movimento Ativo Social e Político Iguaçu (MAS).
Vídeos e fotos mostram famílias cavando para pegar as 1,2 mil caixas de carnes, entre eles estão crianças, idosos e mulheres. Conforme o representante do movimento social, Claudio Altamirano, as imagens divulgadas nas redes sociais retratam a crise econômica que os moradores enfrentam.
“Toda essa situação complexa, socioeconômica, faz com que Porto Iguaçu esteja afundada na miséria, na pobreza e na fome. Essas imagens são o reflexo fiel, a realidade de como estamos hoje em Porto Iguaçu. A fome bate forte nas portas e também esvazia os potes das famílias. Eles tiveram que desenterrar frango para poder comer.”
A cidade tem cerca de 105 mil habitantes e liga o país, pela Ponte Tancredo Neves, a Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, que tem mais de 250 mil moradores. Porto Iguaçu depende do turismo economicamente, mas as fronteiras estão fechadas desde março.
De acordo com a Prefeitura de Porto Iguaçu, as carnes tinham ficado mais de 24 horas sem refrigeração e estavam impróprias para consumo, por isso, foram descartadas pelo Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Alimentar (Senasa).
O G1 tenta contato o Senasa e a prefeitura para entender sobre a forma de descarte da mercadoria e a situação exposta com as famílias em vulnerabilidade social.
A Marinha argentina, que apreendeu as caixas de frango, não se manifestou sobre o descarte dos alimentos ou sobre as imagens dos moradores nas redes sociais.
Crise econômica
De acordo com Altamirano, as imagens divulgadas mostram a transformação do que ocorreu em Porto Iguaçu. Dependente do turismo, o município abriga as Cataratas, como Foz do Iguaçu.
Por causa da pandemia, o Parque Nacional Iguazú está recebendo apenas visitantes da Província de Misiones, na Argentina. O funcionamento do parque tem ocorrido nos fins de semana, com 500 ingressos no sábado e 500 no domingo.
Antes do novo coronavírus a visitação média diária era de 4 mil pessoas.
“Essa é a verdadeira imagem de Porto Iguaçu, não a imagem da maravilha natural, das Cataratas, de milhões de turistas, de todo glamour, de filmes famosos, dinheiro, ouro, perfume. Essa não é a realidade daqui”, disse.
O representante do movimento explicou que durante a pandemia as organizações sociais têm ajudado as famílias da periferia da cidade.
Eles mantêm quatro centros comunitários para atender moradores com serviços de assistência social. A alimentação é preparada nas cozinhas dos centros com doações e alimentos comprados com fundos das próprias organizações, conforme Altamirano.
“Temos merenda, damos três copos de leite três vezes por semana. Fazemos um trabalho social de acompanhamento das crianças, que não podem ir à escola porque não há escola. Por causa da pandemia, há nove meses não há escola aqui, então há crianças que estão atrasadas nas tarefas.”
Protesto
Grupos de organizações sociais de Porto Iguaçu fizeram um protesto, na quinta-feira (19), cobrando medidas de assistência social do poder público aos moradores que foram flagrados desenterrando os frangos.
Segundo o representante do Movimento Ativo Social e Político Iguaçu, as carnes descartadas poderiam ter sido direcionadas para abrigos de bairros da periferia assim que foram apreendidas, para serem consumidas pelas famílias que passam fome.
“Nós, das organizações sociais, estamos questionando se esses alimentos, em vez de serem enterrados, poderiam ter sido direcionados para cozinhas comunitárias dos bairros, onde há muitas crianças, famílias, mulheres e idosos com fome, em Porto Iguaçu.”
O movimento informou que, até a publicação desta reportagem, não havia recebido nenhum retorno da Prefeitura de Porto Iguaçu e da Marinha da Argentina sobre as reivindicações apresentadas.
Apreensão de carnes
De acordo com a Marinha argentina, a carnes de frango foram apreendidas após uma denúncia de contrabando.
Durante a apreensão, foram identificadas 30 pessoas envolvidas no caso, em um lugar conhecido como um ex-clube de pesca, em Porto Iguaçu.
Segundo a Marinha, os suspeitos que estavam no local agrediram a equipe do órgão federal com pedras. Um dos soldados ficou ferido e o veículo da Marinha foi danificado.
Foram apreendidas caixas com frangos, azeites, farinhas e outros alimentos sem documento aduaneiro, além de dinheiro e 20 celulares.