O caso Mariana Ferrer trouxe à tona algumas questões que ainda nos agridem como mulheres. Ali, em uma audiência criminal, local onde se deveria prezar pela lei, ela não conseguiu se defender dos ataques contra sua honra e intimidade. Naquela audiência tentavam demonstrar que Mariana era a verdadeira “culpada” por ter sido estuprada. Por outro lado, o acusado foi julgado inocente e absolvido porque “não teve a intensão” de estuprá-la.
A audiência não parecia um episódio deste século, mas sim, uma inquisição como aquelas da história medieval onde se queimavam mulheres “pecadoras” vivas. Na época, as execuções de mulheres eram vivenciadas como verdadeiros espetáculos. Ao redor dos locais de extermínio, as pessoas aproveitavam para liberar todas suas perversões contra as mulheres punidas e proferirem suas palavras de ódio, piadas e jogarem suas pedras.
Cenas como dessa audiência de Mariana são um contraste nos dias de hoje. O termo “estupro culposo” foi inaugurado a partir de então. A internet pulverizou rapidamente o repúdio social daquelas cenas de horror durante a audiência. O choro de Mariana e o clamor por respeito naquela ocasião ficou em nossa memória. Cada mulher poderia se ver na pele dela. Poderia ser eu ou você naquela audiência. Poderia ser nossa amiga, prima, irmã, etc.
Mariana foi vítima não só do crime de estupro, mas também, de tortura psicológica. Sem dúvidas, a audiência foi permeada por um discurso misógino por parte dos atores ali presentes. O caso chamou a atenção até mesmo do Ministro Gilmar Mendes que em seu twiter declarou: “as cenas da audiência de Mariana Ferrer são estarrecedoras. O sistema de Justiça deve ser instrumento de acolhimento, jamais de tortura e humilhação”.
A voz de Ferrer clamando ainda é muito recente e nos choca. As lágrimas dela, também são as nossas lágrimas. Nos vemos nela quando enfrentamos situações de desrespeito pelo simples fato de sermos mulheres. Sem dúvidas, até aqui, avançamos como nunca na luta por igualdade de gênero. O feminismo alavancou a ideia de autonomia e liberdade feminina. Contudo, essa luta continua. Por isso o caso Mariana Ferrer nos escancara e nos marca. Aquele dia representa tudo que não merecemos viver e reviver.