Vencimentos atrasados, redução salarial, ausência de férias e décimo terceiro. Esse é o cenário vivido pelos trabalhadores do transporte coletivo de Rio Branco desde que a pandemia de coronavírus se intensificou na capital, ainda no ano passado.
Nesta terça-feira (27), representantes dos motoristas de cada uma das três empresas que operam na cidade participaram da sessão remota na Câmara dos Vereadores para compartilhar as dificuldades que têm passado por conta da crise no sistema de transporte.
Um deles, Mauricélio Freire, que trabalha á 26 anos na empresa Floresta, afirmou que o salário do mês de janeiro e de uma das quinzenas de fevereiro ainda não caiu na conta e que desde 2019 não recebe férias, sem contar o 13º salário referente a 2020.
“Estamos passando uma grande dificuldade com essa pandemia. Para a empresa não precisar fechar as portas, 70 funcionários foram trabalhar recebendo diária de R$ 100. Acontece que ficamos três ou quatro dias assim e depois mais dois dias sem receber, porque a empresa usa o dinheiro para pagar o diesel. Isso tá gerando uma bola de neve”.
Segundo o trabalhador, se a prefeitura de Rio Branco e a Câmara dos Vereadores não tomarem providências, a situação tende a piorar. “Vocês precisam interceder por nós”, implorou o pai de família.
Motorista na São Judas Tadeu há uma década, Cássio Muniz informou que dos 110 condutores da empresa, apenas 28 trabalham normalmente. Os demais estão em casa recebendo benefício do governo federal. Todos os funcionários tiveram contrato de trabalho suspenso.
“Muito triste porque não temos um olhar diferente. Toda vez que vejo tratando de transporte coletivo, as pessoas só falam sobre a máquina, operação, empresas e prefeitura. Não existe preocupação com os trabalhadores. Ficamos tristes quando chega um projeto e vocês negam. Não batam tanto, pensem nos trabalhadores”, disse.
Em dezembro do ano passado, a então prefeita Socorro Neri (PSB) apresentou um projeto de lei que repassaria R$ 2,4 milhões às empresas de transporte coletivo. Parte do montante seria usado para sanar dívidas trabalhistas. A Câmara rejeitou a proposta alegando inconstitucionalidade por se tratar de repasse público para a iniciativa privada.
O atual prefeito, Tião Bocalom (Progressistas), prometeu abrir o que chama de “caixa preta” do transporte coletivo e não tem mostrado disposição para atender as demandas das empresas.
“O prefeito assumiu e disse que ia abrir essa caixa preta. Pois essa caixa somos nós, os trabalhadores. Quando a prefeitura abrir, ela terá ciência que dentro dessa caixa está a nossa situação”, disse o motorista Muniz.