Rio Negro está a 50 centímetros de bater recorde histórico em Manaus

MANAUS – Após inundar dezenas de cidades no interior do Amazonas e à beira de bater mais um recorde histórico neste ano, a enchente da maior bacia hidrográfica do mundo está invadindo as ruas da capital amazonense, “expulsando” moradores e preocupando comerciantes.

Ainda longe de atingir o pico previsto, o nível do Rio Negro em Manaus chegou aos 29,47 metros, nesta segunda-feira (10), já se tornando a sétima maior cheia desde o início dos registros, em 1902. Entretanto, especialistas apontam que a enchente de 2021 deverá ser a maior da história, superando a de 2012, quando a cota do rio atingiu a marca de 29,97 metros.

O avanço da água fluvial sobre alguns bairros manauaras já expulsa moradores. Além disso, a Prefeitura informou, no domingo (9), que pelo menos 200 trabalhadores da Feira da Manaus Moderna, na região central da capital, deverão ser realocados para uma balsa, que servirá como um mercado provisório durante o período de cheia em Manaus. A previsão é que ela comece a operar em até 10 dias, com vendedores de peixes e carnes.

A construção de pontes de madeira também começou a ser realizada no domingo. Antes disso, os próprios trabalhadores da área estavam improvisando pallets de mercadorias para serem utilizadas por pedestres, que transitam pelo local.

Comerciantes se preocupam com as vendas

De acordo com o comerciante Elson Freitas, de 40 anos, os trabalhadores têm contabilizado, na rua dos Barés, zona Sul de Manaus, a queda nas vendas.

“Tem caído, porque temos dificuldades de trafegar por aqui, agora. No meu comércio, estamos nos preparando com um aumento do número de mercadorias. Caso a água chegue a entrar aqui, não queremos sentir tanto as perdas”, afirma.

Ainda de acordo com Elson, o mau cheiro da água é outro incômodo e que tem espantado os clientes da área, além do próprio medo da pandemia.

“Isso está prejudicando. Uma das ações que poderiam ser tomadas é jogar algum produto nesta água como um cloro, para eliminar o cheiro e matar focos de mosquito. Devido à enchente, os ratos, por exemplo, não têm para onde correr e invadem os estabelecimentos”, disse.

Frequência retrata descontrole ambiental

Após a maior cheia história, em 2012, o rio Negro voltou a registrar uma cota histórica apenas três anos depois, quando alcançou 29,66 metros, em 2015. A frequência com que fenômenos extremos ocorrem tem sido alvo de diferentes estudos que buscam entender a causa para tamanho desequilíbrio ambiental.

Em 2018, uma pesquisa publicada na revista Science Advances revelou que as cheias e secas extremas eram registradas em um intervalo médio de 20 anos, até a primeira metade do século XX. No entanto, a partir da metade do século passado, esses fenômenos passaram a ocorrer a cada quatro anos.

Devido a um forte aquecimento do oceano Atlântico e o esfriamento do Pacífico no mesmo período, observam-se mudanças na circulação de Walker, o que afeta as precipitações sobre o Amazonas.

Quanto às causas, os investigadores não têm muita certeza. Boa parte deste padrão pode ser decorrente de uma variabilidade natural que pode operar em períodos muito longos, superiores ao início dos registros em 1903. Mas a mudança climática, com seu aquecimento global, está afetando os padrões da circulação atmosférica global.

 

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