19 de maio é o Dia Mundial de Doação do Leite Humano, criado para promover a conscientização sobre a doação aos bancos de leite .
A data, criada no ano de 2010, tem como objetivo incentivar lactantes a realizarem a doação, divulgar os serviços dos Bancos de Leite Humano (BLH) e os benefícios da doação para mulheres e recém-nascidos.
A artesã Letícia Alves, 28, descobriu a importância do BLH quando precisou dele. Em 2010, ela deu à luz ao primeiro filho, que precisou passar 11 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e foi amamentado com doações. “Eu tinha muito leite, e por conhecer a necessidade de bebês na Unidade Neonatal, passei a doar diariamente”, diz.
A jornalista Alyne Kaiser, 41, também teve dificuldades na primeira gestação. A filha não conseguia mamar quando nasceu.
Ela tinha dificuldade para amamentar a bebê, o que fez com que seu seio ficasse em carne viva.
“Eu colocava a boquinha dela do jeito errado, chorava de dor só saía sangue. Quase tive depressão pós-parto ”, explica.
Na época, Alyne recorreu ao BLH para conseguir alimentar a filha. O fato de ter precisado do banco impactou a jornalista. Quando seu seio ficou saudável, ela passou a ser uma doadora de leite.
Para Amanda Lopes da Silva, 18, autônoma, a doação foi motivada pela empatia. “Eu me colocava no lugar das mães e principalmente das crianças que precisavam. Sei que o leite humano é muito importante para o desenvolvimento dos pequenos”, afirma.
As três doadoras sentem que puderam mudar a vida de muitas pessoas por meio da doação de leite humano.
No entanto, além de ajudar o próximo, Letícia percebeu que a doação trouxe benefícios ao próprio filho. “A extração diária ajudava na produção de leite. Meu filho mamou até os dois anos.”
Com a doação, Amanda se sentiu realizada. “Sei que de alguma maneira ajudei seres lindos e delicados”, explica.
Letícia está passando pela segunda gestação e pretende doar novamente. “Sempre tenho muito leite e sei que alguns bebês não podem ter por algum motivo”, diz.
Por que a doação de leite humano importa?
O Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (CEJAM) aponta que um litro de leite humano é capaz de alimentar 10 recém-nascidos.
Segundo dados do Governo Federal, o Brasil distribui cerca de 160 mil litros de leite humano para recém-nascidos que estão abaixo do peso.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a doação de leite humano é um fator relevante para a redução dos índices de mortalidade infantil.
Segundo o Ministério da Saúde, esta redução é de 13% em crianças com menos de cinco anos.
“A doação de leite humano é importante para nutrir os recém-nascidos que nascem prematuros ou doentes e ficam internados.
Além de nutrir os bebês, este leite também protege contra infecções e alergias”, explica Telma Farahte Giangiardi, médica responsável pelo BLH no Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Corrêa Netto.
A coordenadora do BLH do CEJAM, Maria Lúcia Ferreira Ramos, acrescenta que o leite humano é capaz de evitar infecções intestinais e respiratórias, além de diminuir riscos de diarréias e alergias.
Os benefícios se estendem até a vida adulta, evitando comorbidades como hipertensão, obesidade, colesterol e diabetes. Além de ser altamente nutritivo, o alimento é rentável.
No caso das mulheres lactantes , o Ministério da Saúde aponta que o risco de câncer de mama é reduzido em ao menos 6% a cada ano que amamentam.
Além disso, Giangiardi explica que a doação de leite humano pode auxiliar mães com maior produção láctea .
“A doação esvazia as mamas e evita que ela fique muito cheia e ingurgitada, facilitando a mamada do seu próprio bebê”, explica a médica.
Esse esvaziamento também foi um dos motivos pelo qual Aline decidiu doar. “Eu tinha muito leite, meu seio ficou muito cheio.
A bebê mamava e mamava, mas o leite não acabava. Por isso, eu também sentia um impacto positivo em mim quando passei a doar”, explica.
Como fazer a doação de leite humano?
Pessoas interessadas em fazer a doação de leite humano devem encontrar o BLH mais próximo de sua casa.
O Governo Federal aponta que existem 224 bancos e 216 postos de coleta pelos estados brasileiros.
É possível saber qual é o mais próximo pelo 136, número do Ministério da Saúde, e pelo mapeamento no site da Rede Brasileira de Banco de Leite Humano .
Nos BLHs, é oferecido suporte desde o momento da coleta e armazenamento do leite até instruções sobre o processamento e distribuição.
Ramos diz que o BLH pesquisa o histórico da lactante interessada em ser doadora. Diante da pandemia do novo coronavírus, o banco agenda visitas às casas das lactantes interessadas para fazer a coleta de exames que comprovem a aptidão para serem doadoras.
“A nutriz recebe frascos de vidro, que são esterilizados no hospital, para realizar a ordenha no seu domicílio. Ela deve congelar imediatamente o leite doado. Também são dadas orientações sobre a higiene na coleta, o uso de máscara e touca”, explica a Giangiardi.
A médica ressalta que é muito importante que a doadora siga as normas higiênicas e de armazenamento.
O BLH retira o leite doado e congelado da casa da doadora. O material é descongelado e passa por uma análise laboratorial. Depois, é pasteurizado e congelado até a distribuição.
Ramos diz que qualquer lactante pode fazer a doação desde que esteja saudável, não faça uso de medicamento controlado, não tenha recebido transfusão sanguínea ou feito tatuagem no período de um ano.
Doadoras que estiverem com suspeita ou que tiverem contraído a Covid-19 devem suspender a coleta pelo período de 14 dias.
No entanto, elas não devem interromper a amamentação do próprio bebê e deve cumprir com o uso de máscara e os protocolos de higiene das mãos.