Essa semana o Brasil alcançou a faixa de 500 mil vidas perdidas por Covid-19. Essas perdas se somam entre amigos, familiares, vizinhos, colegas, trabalhadoras domésticas, a atriz da novela, aquela moça da loja… absolutamente todas/os nós conhecemos alguém que faleceu.
A ausência que é presente da última conversa, o último “visto” no aplicativo de mensagem, o último abraço, o “até logo” e “tudo vai ficar bem” de quem entrou pela porta do hospital e retornou em um cortejo. A presença da incerteza, do receio, dos bares cheios e das UTIs lotadas, da “gripezinha” e do “mimimi” dito por quem deveria acolher, orientar e ofertar suporte para a própria população.
É difícil não sentir medo ou ansiedade diante de um cenário como esse. Um estudo intitulado “Global Behaviours and Beliefs at the Onset of the Covid-19 Pandemia” feito por pesquisadoras/es da Universidade de Princeton, Cambridge, Harvard e pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em 2020, demonstrou que as informações difusas por parte do governo, contribuem para que as pessoas se sintam potencialmente ansiosas, deprimidas e cansadas.
A pandemia por Covid-19 atravessou nossos lares, nossas histórias, alterou a forma como o luto é vivenciado. Pesquisadoras da Universidade Estadual de Maringá (UEM) publicaram em 2020 um trabalho sobre alguns impactos psicológicos dos processos de luto na pandemia, dentre eles estariam as dificuldades em se despedir da pessoa falecida, tendo em vista que após a entrada no hospital o contato é mantido apenas pelo celular.
O falecimento também pode acontecer de forma muito rápida, as medidas de segurança em virtude da especificidade do vírus impossibilitam os rituais funerários de costume, suscitando um luto complicado. Algumas famílias perdem mais de um membro, o que acarreta dificuldade para que uns ofertem apoio aos outros, pois toda a rede se encontra fragilizada.
Além disso, as pesquisadoras destacaram que esse cenário de enlutamento também afeta a comunidade em geral que está em contato com as constantes notícias de mortes, emergindo um sentimento coletivo de instabilidade social. Estamos sofrendo. Não podemos considerar “mimimi” a morte de 500 mil brasileiras e brasileiros, os mais de meio milhão de lares e histórias marcadas pela ausência presente da perda.
500 mil pessoas do nosso país morreram não só por Covid-19, mas, também, por negligência do Poder Público para compra e distribuição de vacinas. Ao contrário da fala “tire sua máscara”, assim como não foi “apenas uma gripezinha”, esse não é o momento de negar a ciência, vacinadas/os ou não, não tire sua máscara, continue a seguir todas as medidas e recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS)!
Acredite nas/os pesquisadoras/es, cobre dos representantes da nossa cidade, estado e país, rapidez no processo de vacinação e qualidade de divulgação das informações para que mais histórias sejam poupadas. Vacinas salvam vidas!
Rio Branco, Acre, 24 de junho de 2021.
Instagram: @psi.kahuana
Fontes:
LUKACHAKI, K. R. DOS S.; et al. Luto e Covid-19: alguns aspectos psicológicos. CadernoS de PsicologiaS, Curitiba, n. 1, 2020. Disponível em: https://cadernosdepsicologias.crppr.org.br/luto-e-covid-19-alguns-aspectos psicologicos.
FETZER, R. T., et al. Comportamentos e crenças globais no início da pandemia Covid-19. NBER National Bureau of economic research. Disponível em: https://www.nber.org/papers/w27082.