“Muitas das vezes, saio (de casa) para matar um leão por dia”. Assim falou Alef Fernandes, de 26 anos, que trabalha com vendas de geladinhos gourmet nos ônibus de Rio Branco. O rapaz, que chama atenção por se portar como garçom, trabalha de segunda a sexta nos coletivos e no centro da cidade há aproximadamente cinco anos para complementar renda e ajudar nas despesas de casa.
A rotina começa no horário de pico, às 11h30, e termina quase no fim da tarde, às 16h. Movido pelas necessidades financeiras, Alef, que é deficiente visual, começou com a ideia de vender algumas trufas que sua mãe, Aldenizia Pereira, fazia. “Lembro como se fosse hoje: tinha uns 40 bombons. Com eles, tomei a iniciativa de pedir para tentar vender nos ônibus da cidade. Ela de pronto deixou eu ir e foi aí onde comecei. Quando notei, já estava pedindo para ela fazer as trufas todo dia, e todo dia tinha dinheiro”.
Atualmente, o “garçom do busão”, como é carinhosamente conhecido pelos clientes, foca apenas nos geladinhos por acreditar que a temperatura no Acre no verão é propícia para isso. Segundo ele, adotou o visual pois gosta de andar bem vestido para transparecer confiança e credibilidade ao trabalho que desempenha. “Para vender, a dedicação é a alma do negócio. Eu via que muitas pessoas vendiam coisas de comer e de beber sem luva na mão e transpirando, e o público não simpatiza muito com isso”, comenta.
Alef trabalha vestido assim há 2 anos, e desde então, conta que apesar de ser ignorado e de ser alvo de preconceito com relação à grossura da lente dos óculos que utiliza, costuma ter sucesso com as vendas e recebe muitos elogios. “Muitas vezes sou bem recebido pelas pessoas, alguns falam que acham linda a forma como eu trabalho, bem vestido para fornecer um melhor atendimento, mas outras não compreendem e falam que estou vendendo no meio da rua vestido assim para me aparecer”.
Durante a pandemia, ele parou apenas quando a geladeira dele queimou. No entanto, os clientes se mobilizaram nas redes sociais para ele conseguir dar entrada em outra. “Depois disso, continuei vendendo normalmente. Se eu parei por três meses, foi muito”, destaca.
A unidade do geladinho custa R$2 e ele vende tanto pelos coletivos no centro da cidade, como pelas redes sociais através de encomendas no Instagram do @garcom_do_busao. Apesar das dificuldades, ele encara o trabalho como uma diversão. “Para mim, vender geladinho é como se eu estivesse comendo uma barra de chocolate inteira, é o melhor passatempo”, fala.