A declaração foi feita pela ex-vereadora Hiamar Pinheiro, em Brasiléia, interior do Acre, nesta quarta-feira (21), em Brasiléia, ao falar sobre o assassinato de seu pai, o sindicalista Wilson Pinheiro de Souza, no dia em que o crime completa 41 anos.
Passavam pouco mais das 20h30min daquele longínquo 21 de julho de 1980, quando o então presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasileia e presidente da Comissão Municipal do PT (Partido dos Trabalhadores) foi assassinado pelas costas, com três tiros de armas de grosso calibre. Uma das balas atravessou seu corpo e foi alojar-se numa tábua da parede da sede do sindicato. Wilson Pinheiro estava na sala, vendo TV, na companhia de dois amigos, João Bronzeado e Antônio Pires.
A declaração de uma das filhas de Wilson Pinheiro, que tinha 15 anos de idade quando da morte de seu pai foi assassinado, revela a mágoa da família em relação ao que considera pouca importância para o tamanho da história do sindicalista. “Ele não é maior nem menor que Chico Mendes, mas, do ponto de vista histórico, as homenagens a meu pai são inferiores ao que é feito em relação a Chico Mendes, que apenas deu prosseguimento à luta que meu pai iniciou em defesa da posse da terra pelos trabalhadores, com a preservação da floresta. A diferença da luta de meu pai para a do Chico Mendes é que ele vendeu a Amazônia para os Estados Unidos enquanto meu pai queria apenas a floresta em pé como ativo de desenvolvimento”, disse Hiamar Pinheiro.
A ex-vereador afirma ainda que o desprezo pela memória de seu pai não é apenas de governos atuais. “No Governo Jorge Viana, para se ter uma ideia do que falo, quando o então governador distribuiu umas espécies de espadas como homenagens às pessoas históricas, a que levava o nome de chico mendes, enquanto a do Wilson Pinheiro parecia uma faquinha”, reclamou. Mas não é só isso: “no Governo atual, este descaso também permanece. O memorial em homenagem a meu pai, lá na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Brasiléia, está caindo de podre, sem reforma, com o asso9alho afundando”, acrescentou.
O maior descaso, no entanto, se relaciona às investigações sobre o crime, as quais jamais revelaram, nesses 41 anos, quem foram os assassinos ou seus mandantes. “Não interessava ao governo na época”, disse.
Dentro de oito dias também se completam 41 anos do assassinato do fazendeiro Nilo Sérgio de Oliveira, o “Nilão”, chacinado por amigos e aliados de Wilson Pinheiro oito dias após o crime. “Nilão” era apontado como a serviço dos pecuaristas interessados na morte de Wilson pinheiro, por conta das disputas pela posse das terras no Vale do Acre. “Não fosse aquela morte brutal do fazendeiro, a morte do meu pai teria passado em branco e seria só mais uma morte”, disse Hiamar Pinheiro. Por causa da chacina, o então presidente do sindicato de São Bernardo do Campo e futuro presidente da República, Lu´s Inácio da Silva, que ainda não havia incorporado o sobrenome Lula, Chico Mendes e João Maia, então delegado da Contag, foram iniciado e presos (mais tarde inocentados com base na Lei de Segurança Nacional, os trabalhadores teriam matado “Nilão” a partir de uma frase emblemática de Lula: “Está na hora da onça (sic) onça beber água”. A ditadura militar vigente à época, interpretou o discurso de Lula como incitação aos trabalhadores e ele teve que responder a processo baseado na Lei de Segurança Nacional junto com os sindicalistas Chico Mendes e João Maia. Os três foram absolvidos e anistiados.
A verdade é que, nesses 41 anos, pouco se sabe sobre a vida do líder seringueiro Wilson Pinheiro, mas sua história de luta inspirou toda uma geração. Wilson nasceu em 1933 e foi reconhecido nacionalmente por sua atividade sindical, conseguiu reunir os trabalhadores da floresta através do ideal de que o homem pode conviver pacificamente com a natureza.
Em 1979, liderou o ‘‘Mutirão contra a Jagunçada’’, movimento que reuniu centenas de trabalhadores marcharam contra jagunços armados que ameaçavam os posseiros da região amazônica. Os trabalhadores unidos tomaram mais de 20 rifles automáticos dos jagunços e entregaram ao Exército em Rio Branco.
No mesmo ano, Wilson liderou uma comissão de trabalhadores rurais e índios do Acre na busca pelo fim do conflito entre a etnia Apurinã e os assentados pelo INCRA em território indígena. Assim foi gerado o embrião que, mais tarde, se transformou na ‘‘Aliança dos Povos da Floresta’’.
Um ano após as empreitadas, os fazendeiros da região se uniram para dar cabo ao movimento de resistência dos seringueiros. O episódio ficou marcado como um momento de resistência dos trabalhadores da floresta. Wilson e sua luta inspiraram Chico Mendes e outros líderes e trabalhadores de sua época.
“Mataram meu pai duas vezes, mas estou certa de que na memória das pessoas de bem desta terra, ele vive”, diz a filha do líder sindical.