Escola barra aluna por roupa do candomblé e mãe de santo chama a polícia

A ialorixá Ya Ivone Maria abriu um boletim de ocorrência por racismo religioso e constrangimento contra a Escola Municipal Arx Tourinho, em Salvador, depois que sua filha de santo Júlia Almeida Lima, de 13 anos, foi impedida de entrar no colégio por estar vestida com roupas em alusão ao candomblé.

O caso aconteceu na manhã de quarta-feira (21). Ya Ivone contou ao UOL que a menina estava indo para o primeiro dia de aula presencial desde o início da pandemia, acompanhada pela mãe biológica, mas, já na entrada, foi barrada pelos porteiros, na frente dos colegas da adolescente.

Segundo a mãe de santo, os funcionários alegaram que estavam tentando impedir que Júlia sofresse bullying dos outros alunos.

“A mãe dela tentou falar com a diretoria, mas, com tudo isso, eles não deixaram nem ela, nem a mãe dela entrarem no colégio. (…) Eles alegaram que ela não ia entrar porque estava com aquela vestimenta, que era para ela voltar pra casa, para os coleguinhas não fazerem bullying. Mas, para mim, o bullying já começou aí, da parte deles”, afirma Ya Ivone.

A ialorixá detalhou que Júlia ficou nervosa com a situação e começou a chorar. Logo em seguida, a mãe da menina levou-a até o terreiro de Ya Ivone. Fora do local, no momento da chegada das duas, a religiosa logo foi avisada por telefone, e se dirigiu imediatamente à escola, onde gravou um desabafo, pedindo satisfações aos funcionários da instituição.

“Aí eu falei com o porteiro, para saber por que ele não deixou minha filha entrar no colégio. Aí ele disse a mim, na minha cara, que não tinha deixado para as outras crianças não fazerem bullying com ela. A diretora pediu à mãe da minha filha de santo que elas fossem para casa, que ela não ia colocar falta, e não deu outra satisfação, fez pouco caso. E quando eu cheguei lá, a única coisa que ela falou foi: ‘me desculpe’, ponto”, lamentou.

Ya Ivone explica que Júlia está passando por um regime religioso de 3 meses, iniciado em 5 de junho. Nesse período, a adolescente tem que usar as vestimentas religiosas, sempre estar com o “quelê” (um colar curto de miçangas usado por quem se inicia no candomblé) e seguir algumas regras, como não sentar em cadeira tradicional ou erguer demais a cabeça, como reverência ao orixá.

Para isso, no momento em que foi à escola, Júlia levava também um banco, o apoti, para não ter que ficar em pé.

Agora, conta Ya Ivone, a adolescente está resistindo à ideia de voltar ao colégio, com medo de possíveis ofensas dos colegas.

“Ela está muito chorosa, passou muito mal com esse constrangimento. Quando ela voltou à escola comigo foi quando eu consegui acalmar ela um pouco. Como eles não resolveram nada, eu disse que ia tomar minhas providências, mas ela não quer mais voltar para o colégio, porque agora ela está com vergonha dos colegas”.

A ialorixá conta que os funcionários da escola não fizeram nenhuma menção a um pedido de desculpas formal ou na frente dos outros alunos.

UOL tentou contato com a Secretaria Municipal de Educação de Salvador, mas não obteve resposta até o momento. Se houver, este espaço será atualizado.

PUBLICIDADE