Ineditismo
Logo que assumiu a prefeitura da Capital, em janeiro deste ano, o prefeito Tião Bocalom (PP) quis fazer algo inédito: tocar a gestão sem um líder na Câmara de Vereadores. Segundo o prefeito, essa opção ampliaria sua relação com os vereadores, já que sem líder, os parlamentares teriam que recorrer diretamente ao chefe do Executivo municipal para tratar qualquer assunto e resolver os pepinos.
Não engrenou
O problema é que a ideia do prefeito não engrenou. A não escolha de um líder que representasse o prefeito na Câmara municipal virou reclamação recorrente dos vereadores. O vereador Emerson Jarude (MDB), em entrevista recente ao ContilNet, reclamou da escolha do prefeito. “Muitos problemas podem ser resolvidos através de um líder, porque ele tá ali, escuta o problema, entra em contato com o secretário e já resolve. Sem essa figura, a gente não sabe pra quem direcionar esses problemas. Para resolver algo eu tenho que entrar com requerimento, com ofício, esperar resposta, e tudo isso pode ser evitado através da presença de um líder, através de uma ponte que ele faz. É claro que a gente pode ligar pra um secretário, pro prefeito, mas não é a mesma coisa de um líder. Acho que ele tem muito a perder se continuar nesse formato”, disse o emedebista.
Mesa Diretora
A ausência do prefeito no legislativo municipal vai além da figura de um líder. Mesmo na eleição da Mesa Diretora, não houve interferência de Bocalom. Segundo relatou o próprio vereador N Lima (PP), a negociação para montagem da chapa em que se tornou presidente da Câmara, aconteceu de forma independente.
Pagando o preço
A distância entre o prefeito e os vereadores está cobrando seu preço. Sem influência no parlamento, o prefeito está de mãos atadas para enfrentar sua maior batalha até agora, a luta contra o impedimento.
Dia decisivo
É amanhã que a Câmara de Vereadores vai decidir se o pedido de impeachment do prefeito vai pra frente ou não. A sessão promete ser quente.
Coleção de erros
Em apenas oito meses de governo, o prefeito tem colecionado polêmicas em sua gestão. Acionou a Polícia Militar, que agiu com violência contra os trabalhadores da Zeladoria, que protestavam contra o atraso de salários. Viu um de seus principais secretários, Frank Lima, envolvido em denúncias de assédio sexual e não o afastou. Trocou farpas e acusações com vereadores. Não abriu a tão esperada caixa preta, como prometido em campanha, entre outros erros de menor repercussão. Uma sucessão de deslizes que tem derrubado a popularidade do prefeito.
Sem apoio popular
E é justo pela baixa popularidade, que o processo de impeachment pode prosseguir. Sem apoio popular, a Câmara fica livre para definir, sem medo de pressão, sobre o futuro do prefeito.
Vai ter que mudar
Se passar sem arranhões pela primeira grande prova de fogo na Câmara de Vereadores, o prefeito Tião Bocalom vai ter que reavaliar toda a sua postura até agora. A relação vai ter que mudar. Até como forma de agradecimento, o prefeito terá que sentar a mesa dos legisladores.
Quem assume?
E se hipoteticamente o processo for pra frente e o prefeito Bocalom for impedido? Quem assume? De acordo com a Lei 1.079/1950, conhecida como Lei do Impeachment, o vice assume em caso de vacância do cargo do titular. No caso, a prefeitura ficaria nas mãos de Marfisa Galvão (PSD). Somente em caso do titular e da vice serem impedidos, é que uma nova eleição deverá ser convocada, já que ambos ainda não completaram dois anos de gestão.
Na defesa
Em apoio ao prefeito, os senadores Márcio Bittar (MDB) e Sérgio Petecão (PSD) já saíram em defesa de Bocalom e contra o impeachment. Para Bittar, o progressista é um homem de bem, honrado e de família. “Não existem razões para tirar da Prefeitura um homem com uma carreira tão séria e tão proba, quanto a história do personagem e hoje prefeito Tião Bocalom”, disse. Já Petecão usou as redes sociais para dizer que a movimentação para caçar o mandato do prefeito é ridícula. “Força velho Boca! Quem manda é o povo”, disse.
Abacaxi
Em um evento de promoção de praças da PM e dos Bombeiros, ocorrido no fim da tarde de hoje, o governador Gladson Cameli (PP) comentou sobre o pedido de impeachment do prefeito. Com o presidente da Câmara na plateia, o vereador N Lima, o governador disse que o parlamentar tem um “abacaxi gigante pra descascar”. E continou, “que Deus lhe proteja, lhe abençoe e ilumine todos os nossos vereadores. Não vamos inventar moda, porque moda pega. E quem paga o preço é o povo”.