A cor do mar nas praias do Rio de Janeiro mudou nos últimos dias. Com a água mais escura, muitos banhistas têm evitado frequentar as praias que passaram a ter manchas marrons ou vermelhas em diversos pontos, do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, até a Região dos Lagos, na cidade de Arraial do Cabo.
“Eu venho no Leme sempre e nunca vi a água assim. Sempre tem dias que ela está mais suja, mas assim eu nunca vi”, comentou o diretor de arte Arthur Magalhães.
Apesar da coloração mais escura da água, pesquisadores de universidades públicas disseram que o fenômeno está ligado à proliferação de microalgas de várias espécies. Segundo eles, até o momento, não foram encontradas microalgas tóxicas. Ainda assim, os especialistas recomendam cautela aos banhistas.
“As manchas que têm sido observadas nas praias do Rio de Janeiro desde novembro são causadas por microalgas marinhas que cresceram excessivamente. O evento de floração que ocorre atualmente no Rio pode ser considerado incomum porque abrange uma grande área geográfica. Até o momento, as análises que foram feitas não indicaram a presença dessas espécies produtoras de toxinas. Mas essas são análises preliminares”, explicou a professora do Laboratório de Microalgas Marinhas da Unirio, Silvia Nascimento.
“Como biólogas marinhas não podemos fazer recomendações referentes à saúde pública. O que podemos recomendar é cautela e monitoramento das espécies presentes na floração”, acrescentou a professora do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da UFRJ Priscila Lange.
Mesmo com a explicação cientifica, muitos frequentadores estão preocupados com a coloração do mar.
“O visual é lindo, mas tem uns três dias que a água tá assim suja, muito escura”, disse Nelza Macedo, cozinheira de um quiosque da orla da Zona Sul.
Para a fotógrafa Luciana Alves, a coloração do mar atrapalha as fotos e afasta os banhistas.
“Essa cor pra gente que é fotógrafo de surf não é muito legal. Hoje até melhorou um pouco, mas no final de semana estava bem difícil. Mas vamos esperar os dias melhores, com aquela luz maravilhosa”, disse a fotógrafa.
Fenômeno incomum
Segundo a professora Silvia Nascimento, do Laboratório de Microalgas Marinhas da Unirio, no dia 3 de dezembro a floração foi observada em Arraial do Cabo, na Região dos Lagos, e as águas geralmente cristalinas ficaram muito escuras na região.
Equipes de pesquisadores da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) têm atuado em conjunto para analisar amostras coletadas nas praias da capital e em Arraial do Cabo.
A gerente do Núcleo de Vida Marinha da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Simone Penna Firme, afirmou que algumas espécies marinhas podem sofrer com a floração – e que possíveis impactos na saúde humana ainda estão sendo analisados.
A água da chuva e o lançamento de esgotos domésticos são fonte de nutrientes para essas florações. Os impactos [da floração] na saúde humana não foram verificados, mas recomendamos cautela”, ponderou a gerente.
Crescimento excessivo
Uma nota técnica do grupo de pesquisadores informa que desde o início de novembro as águas das praias da capital fluminense têm apresentado manchas escuras ou avermelhadas.
As manchas, diz o texto, são causadas pelo “crescimento excessivo de microalgas marinhas, que constituem o fitoplâncton”. A cor na água, então, seria causada pelos pigmentos das microalgas que podem deixar a água vermelha, marrom (escuro ou claro) ou verde.
O estudo também aponta que, “quando as condições de luz, temperatura e nutrientes são favoráveis, esses micro-organismos podem se multiplicar e formar manchas na água do mar”.
Outro fator que favorece a proliferação é a água da chuva e o lançamento de esgotos domésticos, que segundo a nota técnica são fonte de nutrientes para essas florações.
Além disso, “nutrientes também são fornecidos em eventos naturais como a ressurgência”, que é quando “águas oceânicas profundas ricas em nutrientes emergem para a superfície onde existe luz disponível para a fotossíntese”.
Ainda que em outros locais do planeta haja a floração de algas nocivas, os pesquisadores afirmam que no fenômeno atual nenhuma espécie tóxica foi identificada até o momento. Mais análises de amostras coletadas estão sendo feitas pelos cientistas.