A indígena Andressa Runi Shanenawa, de 21 anos, integrante do povo Shanenawa e pertencente à Aldeia Morada Nova, localizada às margens do Rio Envira, em Feijó, carrega o grande sonho de unir a medicina cientifíca aos saberes tradicionais e executar um projeto inovador na região.
Andressa saiu da aldeia aos 18 anos para cursar Enfermagem na Universidade Paulista (Unip), em Rio Branco, após receber uma bolsa parcial. Ela já está no último ano da graduação e pretende levar ao seu povo o projeto que batizou de Farmácia Viva – uma casa da saúde na floresta com a oferta de medicações e recursos naturais.
Seu sonho inicial era o de cursar Medicina, mas não foi possível realizá-lo por conta das condições financeiras. “Encontrei um caminho possível para realizar o sonho de levar ao meu povo a ideia de que um conhecimento não exclui o outro. A dipirona cura, e a garrafada também”, disse em entrevista ao ContilNet.
A estudante é filha do cacique Carlos Brandão e de Flaviana Melo (que é não-indígena) e neta de Runi Shanenawa, que é a pagé medicinal do seu povo e quem influenciou Andressa na escolha pela área da Saúde.
“Minha avó foi a pessoa que me influenciou nessa escolha pela área da saúde. Sempre disse que poderíamos crescer, buscar novos rumos, encontrar possibilidades para melhorar a saúde do nosso povo. Eu sigo fazendo o que ela fez, atendendo o seu pedido e dando sequência à sua missão. É uma responsabilidade que carrego”, acrescentou.
“A saúde indígena é precária”
O que também motiva Andressa a levar a prática científica aliada aos saberes naturais à aldeia – que tem mais de 700 moradores, atualmente – é a dificuldade que os povos indígenas têm de ter acesso à saúde.
“A saúde indígena é precária. Isso é fato. Quase não temos acesso à saúde, os investimentos são mínimos e a atenção que nos é dada ainda é insuficiente. Não temos muitas oportunidades”, destacou.
“Dia dos povos indígenas não é comemoração”
Andressa fez questão de afirmar que não se trata de um “Dia do Índio” a data comemorada nesta terça-feira, 19 de abril, mas sim do Dia dos Povos Indígenas, como propõe um projeto protocolado no Congresso Nacional – ainda em apreciação – para alterar a definição.
“Primeiro: não é Dia do Índio porque as nossas identidades são muito maiores. Somos indígenas, temos povos, somos diversos”, salientou.
“Outra coisa: não se trata de comemoração, mas luta por direitos, defesa das florestas. O 19 de abril tem um significado e ele precisa ser resgato. Todo dia é dia dos provos indígenas”, finalizou.