Mais de 90% dos brasileiros mudaram hábitos de consumo por conta da inflação no país, que chegou a 12,13% no acumulado de 12 meses em abril deste ano.
É o que mostra um levantamento da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), elaborado pela Euroconsumers e encaminhado em primeira mão à CNN. O estudo aponta que as principais mudanças feitas estão relacionadas ao uso de energia e de água, aos hábitos de mobilidade e ainda à alimentação.
Mais de 40% dos entrevistados declaram que têm dificuldades em pagar as contas de luz e de gás. Uma das soluções adotadas por 70% das pessoas é desligar aparelhos eletrodomésticos e usá-los com menos frequência para economizar energia.
Em relação à água, 41% já fazem racionamento, tomando menos banhos ou banhos mais curtos para diminuir os custos.
Para Gilberto Braga, economista do Ibmec-RJ, esse comportamento também foi influenciado pelo aumento do preço da energia com a bandeira “Escassez Hídrica”, que vigorou entre setembro do ano passado e abril deste ano.
“As contas de água, de luz e de gás são números que estão na mira dos brasileiros nesse momento que precisam cortar custos. E a pandemia ajudou nisso de certa forma, com o acesso à internet sobre medidas de racionamento para poupar o uso desses recursos e, assim, reduzir o impacto nos gastos”, avalia.
“A própria sobretaxa na conta de luz que terminou recentemente ajudou os brasileiros a se conscientizarem da necessidade do uso mais econômico e racional da energia, que agora é acentuado por conta do aumento dos custos por causa da inflação”, afirma o economista.
Já em relação à mobilidade, a pesquisa mostra que 44,5% dos brasileiros passaram a evitar o uso de carro por causa do aumento do preço do combustível. Uma alternativa é o uso de bicicleta. Cerca de 33% dos entrevistados afirmam que passaram a utilizar mais esse meio de transporte depois da eclosão da guerra na Ucrânia e dos aumentos dos preços da gasolina por conta da volatilidade do petróleo. O uso do transporte público também foi citado como forma de evitar gastos com deslocamento.
O consumo de alimentos foi outra parte importante impactada pela alta dos preços. Quase metade dos entrevistados afirma que diminuiu o consumo de carne bovina, frango e peixe para reduzir os custos. Já a escolha de produtos de marcas mais baratas é uma prática adotada por cerca de 65% das pessoas.
De acordo com Henrique Lian, diretor da Proteste, diante da mudança de hábitos relacionada aos alimentos por parte do consumidor, os comerciantes têm recorrido à estratégia chamada de “reduflação”, que é reduzir os produtos mantendo o preço. Segundo Lian, “os cortes de gastos nos alimentos são os mais cruéis”.
“Sabemos que a população mais impactada por esse aumento é a mais pobre, porque os alimentos representam boa parte da sua renda. Quando falamos da energia, por exemplo, as pessoas de classe alta também fazem cortes, diminuem uso de luz, de ar-condicionado. Mas quando o assunto são os alimentos, muito provável que as pessoas mais ricas não deixem de consumir a carne e essa tendência se concentre entre os mais pobres”, afirma o diretor da Proteste.
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