Investigadores de São Paulo devem vir ao AC investigar produção de rapé e do Santo Daime

Membros da comunidade do Acre que produz o Santo Daime e difunde a cultura sob o viés da religiosidade devem receber visitas de investigadores da Polícia Civil de São Paulo. Eles buscam esclarecer a morte do ator e dançarino Micael Amorim de Macedo, de 26 anos, morto durante uma cerimônia espiritual com o uso da bebida e rapé numa chácara em São Sebastião, litoral paulista.

Familiares do rapaz acusam negligência de local em que foi realizado ritual e o caso passou a ser investigado pela Polícia Civil paulista.

Os familiares do rapaz relataram à polícia que ele teria desfalecido após ingerir ayahuasca seguida de várias aplicações de rapé durante um surto psicótico provocado pelo chá. O uso ritualístico do chá é reconhecido como prática religiosa legítima.

O santo daime seria a única religião genuinamente brasileira teria sido difundida no país a partir do Acre, por meio do maranhense Irineu Serra, que viveu no Acre do início do século passado, até os anos 1970, na localidade hoje conhecida como Alto Santo, nos arredores de Rio Branco, parte alta da cidade.

A morte do rapaz ocorreu há um mês, mas só veio à tona em publicação do Portal Terra, no último final de semana, a partir de uma publicação da mulher do ator falecido. Ela se manifestou em redes sociais em forma de denúncia:

“Ontem fez um mês que Micael se foi. Até hoje estamos sem saber a causa da morte. A previsão inicial para a conclusão do laudo do IML era de 30 dias [quinta] e, a resposta é que ainda têm exames pendentes. Vou recapitular um pouco dessa história, na esperança de que consigamos apoio para pressionar as autoridades e possamos ter respostas decentes e, consequentemente, algum conforto. Porque até agora eu e toda a família estamos desoladas”, afirmou ela em uma publicação divulgada pelo Portal Terra.

Segundo o relato da mulher, que não teve o nome divulgado, na madrugada do dia 24 de julho, Micael participava de uma cerimônia de ayahuasca e não voltou. Os participantes da cerimônia eram só homens e ele teria ido como convidado de um mestre de capoeira que morava no local, com quem ele tinha tido contato apenas duas vezes.

“A cerimônia foi dirigida pelo responsável do local. Cadê a responsabilidade na recepção e avaliação das condições físicas e psicológicas de novos adeptos? Há relatos de que ele tomou uma dose de 40 ml do chá e depois duas doses de 20 ml”, afirmou a companheira de Micael.

Ainda segundo ela, foi após a ingestão da última dose que as pessoas perceberam que ele estava tendo um surto psicótico e, na tentativa de contê-lo, aplicaram várias doses de rapé. “É um procedimento super perigoso para alguém que nem tá consciente. Até que ele desfaleceu e em seguida descobriram que ele já não estava mais entre nós. De acordo com uma pessoa, na ficha de anamnese dele [normalmente usada por médicos para saber as doenças de cada paciente] constava que ele havia feito uma cirurgia no coração”.

A companheira de Micael também destacou que o uso ritualístico do chá normalmente é realizado por pajés em aldeias indígenas, e que eles passam anos estudando as medicinas da floresta amazônica para isso.

“Seu uso tem crescido de maneira assustadora e irresponsável no contexto urbano por apropriadores que se intitulam xamãs, infelizmente. Pessoas estas, com espírito colonizador, que destroem, sujam e deturpam há séculos nesse país o sagrado de povos não brancos! Ou seja, temos um elemento medicinal e sagrado de povos originários milenares, sendo utilizado de maneira recreativa em comunidades pseudo religiosas fora das aldeias. Para quem não sabe, o uso do chá em contexto urbano só é permitido por lei em instituição religiosa com CNPJ, como regulamenta a resolução n° 01/2010 do Conselho Nacional de Política Sobre Drogas (Conad)”.

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