Marina anuncia oficialmente apoio a Lula: “Nunca deixamos de estar próximos”

A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, acreana que hoje vive em São Paulo e por onde concorre como candidata a deputada federal pela Rede Sustentabilidade, anunciou, na manhã desta segunda-feira (12), apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antigos companheiros na militância política no Acre, Marina e Lula chegaram a romper relações já no segundo mandato do petista na presidência da República, quando a acreana, então senadora licenciada para assumir o Ministério do Ambiente, deixou o governo e o PT.

Vereadora em Rio Branco no período de 1988 a 1990, quando se elegeu deputada estadual e senadora da República de 1994 a 2010, Marina Silva disputou a presidência da República em três eleições seguidas – em 2010, 2014 e 2018. Na campanha de 2014, com Dilma Rousseff disputando a eleição como candidata de Lula, Marina rompeu com o presidente e o PT por entender que o comando petista estava desconstruindo sua imagem política nos programas de rádio e TV do horário eleitoral.

Ao passar a morar em São Paulo, na cidade de Santos, onde vive a família de seu marido, Fábio Vaz, ela também transferiu o título de eleitor e chegou a ser convidada para ser candidata a vice-governadora de Fernando Hadad, que lidera as pesquisas para o Governo de São Paulo, do PT. As antigas mágoas com o petismo levaram-na a dizer não a Haddad e a manter sua candidatura a deputada federal, na esperança de ser eleita e poder contribuir com votos da legenda para aumentar a bancada da Rede de São Paulo na Câmara Federal.

Nos últimos dias, no entanto, o comando de campanha de Lula vinha acenando para um encontro entre Marina e Lula, o que acabou ocorrendo no último domingo, em São Paulo. Foi o primeiro encontro entre ambos depois de mais de dez anos do rompimento da ex-senadora com o PT. Embora ela resistisse se reconectar com o petismo, seu Partido, através do senador pelo Amapá, Randolfe Rodrigues, já estava com Lula desde o começo da campanha. Pressionada pelos aliados, ela acabou cedendo e aceitando conversar com Lula.

Em sua primeira entrevista coletiva após o encontro com Lula para anunciar sua adesão à candidatura presidencial do petista, Marina disse que apoiará o ex-presidente sob algumas condições, entre as quais a política ambiental, o que consta no plano do PT, com propostas de tolerância zero para garimpo, reformulação dos negócios na floresta, incentivo a indústrias mais compatíveis, como a farmacêutica ou de comércio, e a criação do chamado “crédito verde” — incentivo fiscal a empresas que atendam a regras ambientais instituídas. Marina Silva justifica o apoio a Lula com a necessidade de um governo que possa recuperar os danos ambientais no país, principalmente à Amazônia, no governo e Jair Bolsonaro.

“Estamos vivendo aqui um reencontro político e programático. Porque do ponto de vista das nossas relações pessoais, tanto eu quanto o presidente Lula nunca deixamos de estar próximos e de conversar, inclusive em momentos dolorosos de nossas vidas. Nosso reencontro político e programático se dá diante de um quadro grave da política do nosso país, diante de uma ameaça, a ameaça das ameaças, à nossa democracia”, disse Marina Silva, que começou seu discurso com um agradecimento a Deus, à filha, a companheiros de partido e “amigos da jornada de longos tempos”, como o economista Eduardo Gianetti, presente no evento.

Perguntada sobre o que a levava a essa reaproximação, Marina disse que o momento do país pesou e que esse é um encontro “em defesa dos interesses estratégicos do Brasil”. Segundo ela, o país está entre “democracia ou barbárie”.

— É pela responsabilidade com o que está acontecendo com nosso país. Relações políticas e institucionais estão sendo destruídas. Precisaremos de uma grande bancada comprometida com o povo brasileiro para reverter tudo isso.

‘Estado é laico’

Marina também criticou o uso da religião na atual campanha, reforçou que o Estado é laico e que deve garantir políticas públicas a todos:

— O maior mandamento de Jesus é o mandamento de amor, e essa deve ser sempre a orientação de quem professa a fé cristã. Qualquer coisa que leve ao caminho do ódio, ao exclusivismo político ou religioso não é bom, e desrespeita a nossa Constituição. Nunca fiz do palanque um púlpito. Nossa Constituição assegura liberdade religiosa, direito de crer ou não crer. O Estado brasileiro é laico, e com esse espírito devemos fazer o que na democracia e em um Estado laico se faz.

A ex-ministra criticou, ainda, a disseminação de notícias falsas de que Lula fecharia igrejas evangélicas caso eleito.

— Em dois mandatos dele como presidente, nunca se teve notícia de nenhuma igreja fechada.

Lula discursou em seguida e afirmou que esse é um “dia histórico” para o partido, para sua candidatura e para “quem sonha em fortalecer a democracia no país”.

— De vez em quando na política tomamos decisões de percorrer determinados caminhos, nem sempre a gente se encontra, mas também há momentos na História em que a gente se reencontra. E ele é importante não só pela qualidade do programa que a Marina apresenta. Mas muito mais pelo momento político que vivemos — disse Lula.

O petista lembrou os casos recentes de violência política e criticou a política “feita no ódio”. Disse que o Brasil que quer construir “ainda existe na Marina” e reforçou que os brasileiros precisam ser “cuidados”.

A aliança com a ex-ministra é uma sinalização de Lula ao eleitor de centro. O apoio de Marina também pode ajudar o petista com os evangélicos, segmento em que o ex-presidente está atrás do presidente Jair Bolsonaro (PL). Marina é seguidora da Assembleia de Deus desde 1996.

Com informações do Jornal O Globo. 

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