Um dos fundadores do PT no Acre declara voto em Bolsonaro e fala sobre crises

Primeiro petista a conquistar um mandato na região Norte, em 1982, quando foi eleito deputado estadual, o comerciante aposentado Ivan de Castro Melo, decepcionou-se com a política ao ponto de, nos dias atuais, buscar manter-se distante da atividade. Um dos fundadores do PT no Acre naqueles anos difíceis, quando nem de longe se poderia imaginar que o partido se tornasse um dos maiores do mundo e uma das forças políticas mais expressivas do Brasil, capaz de eleger presidente da República por três mandatos seguintes e de estar muito próximo de trazer de volta à presidência seu líder máximo, Luís Inácio Lula da Silva, Ivan Melo revela as razões que o levaram a deixar o Partido e a política.

Eleitor de Jair Bolsonaro na última eleição presidencial, Ivan Melo atualmente vive em Manaus (AM). Aos 83 anos de idade, aposentado, ele também  revela que deixou o Partido por causa do líder sindical Chico Mendes, que seria assassinado em Xapuri em 1988. Na época, os dirigentes partidários queriam que Ivan Melo se afastasse do Partido por quatro meses, com uma falsa licença médica, para que o líder sindical e primeiro suplente de deputado assumisse o mandato.

A seguir, os principais trechos de uma entrevista com o Ivan Melo: 

Quantos votos o senhor teve quando conquistou o primeiro mandato de um petista na Região Norte, em 1982?

Ivan Melo – Obtive 968 votos, uma boa votação na época. Era professor do ginásio e proprietário de drogaria, muito conhecido, o que favoreceu. Tarauacá e Feijó também contribuíram. Sou grato a todos pela eleição e também por não ter conseguido reeleição, no que decidi vir pra Manaus A confiança no ramo de drogaria garantiriam o sustento da família em Manaus. 

Qual a diferença do PT daquela época para o atual, que é umas das forças políticas mais fortes do país?

Ivan Melo – Penso que o PT civilizou-se. Na época, havia muito radicalismo por visão de grande parte dos seguidores.

O senhor tinha contatos com o Lula naquela época?

Ivan Melo – Não tinha. Ele parecia muito ocupado já naquela época.

O que levou o senhor a entrar para o PT naquela época?

Ivan Melo – O interesse em ajudar um Partido que se propunha defender direitos para os trabalhadores e também combater a corrupção

O senhor deixou o Partido quando?

Ivan Melo –  Saí no primeiro semestre de 1985. Em 1986, tentei a reeleição pelo MDB. Recebi um pouco mais de votos do que na eleição anterior, mas não foi suficiente. Decidi abandonar a política.

Por que? Há informações de que o senhor teve atritos com a direção do partido, incluindo o líder sindical Chico Mendes. O senhor confirma isso?

Ivan Melo – A direção do PT queria que eu concordasse com uma licença médica de quatro meses, que seria conseguida por um dos gurus do partido, para que o Chico Mendes assumisse pelo mesmo período. Por não aceitar licença médica, pedi que me dessem quatro meses a fim de que eu fizesse uma economia para licenciar-me sem vencimentos. Não concordaram e um determinado grupo do partido pichou ruas dizendo que eu estava sendo expulso do partido por traição. Daí a convivência azedou e fiquei sem chão na convivência com a direção. O Santiago (ex-deputado Elson Santiago, outro fundador do PT no Acre), terceiro colocado, não concordou com a exigência da direção do PT.

Por isso o senhor deixou o Acre?

Ivan Melo – Deixei o Acre para que os filhos tivessem opção de uma faculdade de sua opção, pois no Acre não existia formação superior na área de saúde. Foi isso. Tenho quatro filhos, sendo duas formadas na área de saúde, medicina e odontologia, ambas professoras universitárias, um outro profissional de educação física e um microempreendedor. Trabalhei em Manaus como proprietário de drogaria, estando, hoje, aposentado.

O senhor abandonou a política mesmo? Como analisa o atual governo em seu Estado, que é executado por um conterrâneo seu, o senhor Gladson Cameli, também de Cruzeiro do Sul?

Ivan Melo – Desde que saí do Acre, mantenho contato com inúmeros amigos, mas sempre evitei opinar sobre os políticos do Acre, entendendo que cabe aos habitantes. Apenas torço pelo desenvolvimento do Estado.

O senhor ainda acha que o PT pode contribuir para o desenvolvimento do país?

Ivan Melo – Penso que o PT, assim como os demais partidos políticos, têm o direito de participar e ajudar no debate das soluções para o país.

O senhor continuou votando no PT depois de ter saído da sigla? Em quem o senhor votou para presidente em 2018, por exemplo?

Ivan Melo –  Na última eleição presidencial votei no Bolsonaro, pois sou a favor da alternância de poder. O Bolsonaro deixou muito a desejar, deve dar lugar a outro. Se for o Lula, fico na torcida para que escolha um bom ministério, trabalhe muito e não permita corrupção.

Como se deu sua entrada na política e para o PT? 

Ivan Melo – Ajudei a fundar o PT sem pensar em ser candidato. Só que o partido queria um candidato de Cruzeiro do Sul para ajudar a formar uma legenda capaz de eleger, pelo menos, um candidato. Ofereci apoio a dois outros membros do diretório municipal de Cruzeiro do Sul, o José Saraiva, saudoso presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cruzeiro do Sul e ao Jonas Daniel de Araújo, mas não aceitaram. Daí que entrei na disputa para atender o pedido do diretório estadual.

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