Fentanil: médica no Acre fala sobre medicamento para dor que tem causado overdose

Um medicamento, conhecido como fentanil, que é um opióide sintético usado na anestesia e para tratamento da dor no Brasil, tem sido alvo de polêmicas ao redor do mundo devido à explosão de casos de overdose a partir do uso. 

Os opióides são fármacos derivados do ópio, um látex extraído da cápsula da Papaver somniferum, conhecida como papoula. Existem opióides naturais, como a morfina e  codeína, e opióides sintéticos, como a meperidina, fentanil, tramadol, metadona, buprenorfina e alfentanil.  Todos eles têm ação semelhante no sistema nervoso, com diferentes potências em relação à analgesia, sedação, depressão respiratória, dependência e poder de adição. 

A médica Gilda Pinheiro, do ambulatório de dor e cuidados paliativos da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) explica o uso dos opióides para tratamentos, sobretudo, o oncológico.

Os analgésicos opióides são usados na dor aguda, tais como pacientes acidentados, pós-operatório, queimaduras, por um curto período de tempo. Em pacientes oncológicos, a utilização depende da intensidade da dor, nas dores moderadas a severas, que é mais frequente nos estágios avançados da doença, sendo a morfina o padrão no tratamento na dor oncológica.

Quando usados, os opióides em dores crônicas não oncológicas, como lombalgias, dores osteoarticulares, dores neuropáticas, a ideia é prescrever com responsabilidade, conhecimento e, sobretudo, durante o tempo necessário, pelo risco de dependência quando usados a longo prazo. 

“O fentanil, um opióide sintético potente, 80 a 100 vezes mais forte que a morfina, é usado principalmente por via endovenosa, junto a outros medicamentos para sedação ou  anestesia geral durante as cirurgias, inclusive em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), como sedativo também. Para tratar a dor em pacientes oncológicos, o fentanil é usado em adesivo, que é outra apresentação do fármaco, indicado sobretudo em pacientes que não conseguem ingerir medicamentos via oral, como é o caso de pacientes com câncer de cabeça e pescoço, câncer gástrico, ou como troca de opióides no transcurso do tratamento para controle da dor”, explica a médica.

O fentanil adesivo não é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e tem valor alto nas farmácias. “Em Rio Branco, poucas farmácias vendem o fentanil adesivo, mas ainda assim, tem apenas duas ou três no estoque, devido a baixa procura pelo alto valor, de aproximadamente R$900 reais por mês”, diz. 

Dra. Gilda explica ainda que, na sua prática diária, encontra uma resistência em relação ao uso da morfina, que é a mais prescrita, porque é relacionada a dependência e vício. “Eu atendo pacientes com câncer, que têm dor cada vez mais intensa, visto que, dependendo do estágio da doença, pode se tornar insuportável. A morfina é usada em tratamento para dor, porque o objetivo é que os pacientes não sofram com a dor, pois viver com dor causa menos qualidade de vida. Mas as pessoas têm muito preconceito com o medicamento, com os opióides no geral, o que dificulta muitas vezes a adesão ao tratamento”, acrescenta. 

Epidemia no exterior 

A médica também explica que no Brasil não está acontecendo o mesmo problema de saúde dos Estados Unidos. Pelo contrário, acontece um subtratamento com opióides, sobretudo, para pacientes oncológicos. 

Em 1996 nos Estados Unidos, um novo opióide sintético, a oxicodona, mais potente que a morfina, foi lançado com estratégias agressivas de marketing que levou a prescrição de forma indiscriminada, até para dores simples.  À medida que os pacientes se viciavam nesses opióides prescritos, muitos procuraram outros derivados ilícitos como a heroína e, depois, o fentanil que é 50 vezes mais potente que a heroína, causando muitas mortes por overdoses. A maior parte do fentanil que circula nos Estados Unidos, comercializado ilegalmente, é fabricado por laboratórios clandestinos de cartéis de drogas. No Brasil não estamos vivendo isso, até mesmo pela dificuldade de distribuição do medicamento. 

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