Pimenta no Reino: futuro do Acre e do país está a dois dias de ser decidido

Histórico 

Daqui a dois dias, no próximo domingo, dia 30 de outubro, o país vai escolher seu presidente para o próximo quadriênio, de 2023 até 2026. A disputa entre Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) já pode ser considerada a eleição mais importante do Brasil desde a redemocratização. O país nunca esteve tão dividido. 

Tendência 

A tendência, segundo apontam os institutos de pesquisa, é de uma vitória do candidato petista por uma pequena margem de votos. Lula conseguiu formar um arco maior de alianças e conversar com o povo mais pobre, que é quem mais tem sofrido com a alta inflação e com o preço caro dos alimentos e itens de necessidade básica. 

Cócegas 

Apesar do cenário nacional ser favorável a Lula, aqui no Acre a coisa muda de figura e Bolsonaro lidera com folga. A discussão aqui no Acre é de quantos por cento Bolsonaro vai ficar na frente de Lula, e não ‘se vai ficar’. O Acre tem lado e já mostrou inúmeras vezes que é o lado de Bolsonaro. O problema é que o voto do estado representa apenas cerca de 0,4% de todo o eleitorado nacional. Ou seja, não faz nem cócegas. 

Timidez 

Repleto de bolsonaristas de mandato, do Governador ao prefeito da capital, passando por todas as Casas Legislativas, tenho observado poucas manifestações dos políticos acreanos em favor de Bolsonaro. E os que fazem, é com certa timidez. Já jogaram a toalha? 

Na rua 

Enquanto os bolsonaristas têm agido com timidez, os lulistas têm sido muito mais incisivos, ocupando as redes e as ruas, todos os dias. Minoria no Acre, a turma da esquerda tá sabendo fazer barulho, todo dia tem evento, panfletagem e adesivaço. Ontem mesmo, dia do aniversário de 77 anos de Lula, o LulaDay, foi comemorado pela militância na Gameleira, com direito a bolo, parabéns e tudo mais. 

Pit stop 

Pra não dizer que não falei das flores, os bolsonaristas fizeram um evento de rua vistoso na última quarta (26). Comandado pela comunicadora e suplente de deputada federal, Mirla Miranda (UB), o ‘Pit Stop Juntos com o Capitão’ distribuiu adesivos para carros, motocicletas e bicicletas, na altura do sinal da Isaura Parente que corta a Avenida Antônio da Rocha Viana, em Rio Branco. O que argumento aqui é que ainda é muito pouco comparado ao número de bolsonaristas no Acre e frente ao que a campanha de Lula vem fazendo. 

Alianças 

Os petistas acreanos estão tão empenhados na campanha de Lula que estão conseguindo até costurar alianças improváveis. No início desta semana, por exemplo, o ex-senador Jorge Viana (PT) foi até a sede do MDB acreano, para conseguir o apoio do deputado federal Flaviano Melo, presidente regional da sigla, e de Wagner Sales, ex-prefeito de Cruzeiro do Sul e maior liderança do partido no Juruá. O curioso é que o MDB acreano sempre esteve na oposição ao PT, mesmo quando o partido teve a vice-presidência, na época em que Temer era vice de Dilma. Outra curiosidade que tornava esse apoio ainda mais improvável é que a chapa majoritária emedebista para Governo e Senado neste último pleito era 100% bolsonarista. 

Governo Lula 

Estou curioso para saber como será a relação dos políticos acreanos com um possível governo Lula. O Acre, que elegeu políticos bolsonaristas de cabo a rabo nas últimas eleições, precisará manter uma relação republicana com o petista se quiser ver os recursos chegarem. Entre 2003 e 2010, anos dos dois primeiros mandatos de Lula, o ex-presidente manteve diálogo com absolutamente todos os governadores, de situação, oposição e independentes. E ele já deixou claro que quer repetir o feito. 

Falsa equivalência 

É importante lembrar nesta reta final de campanha que alguns setores da imprensa incutiram uma falsa equivalência entre Bolsonaro e Lula. Bolsonaro é de extrema-direita e Lula não é de extrema-esquerda. Lula e o PT estão muito mais para a centro-esquerda, e se analisarmos a luz da ciência política, são classificados como sociais democratas. A equivalência mais próxima da realidade é quando Lula disputava com o PSDB. Que fique esclarecido. 

Não morre 

Mesmo que Bolsonaro não leve essa eleição, o bolsonarismo não morre. As pautas bolsonaristas e da extrema-direita já ganharam campo e conseguiram ampla defesa de uma parcela significativa da sociedade. Parte considerável do Congresso Nacional também dialoga com o bolsonarismo, apesar de que a grande maioria dos parlamentares que se elegeram no último dia 2, no rastro do bolsonarismo, estão mais para governistas de ocasião, se juntam com quem estiver no poder. Mesmo assim, o espectro ideológico caracterizado como bolsonarismo encontrará eco por um longo tempo. É uma tendência que vem se repetindo mundo afora. 

Pior momento 

Mesmo com a iminente vitória de Lula, o PT do Acre vive talvez o seu pior momento na história. Não tem vereador na capital e não conseguiu eleger nenhum deputado estadual e nem federal nesta eleição. Além disso, dos seus três prefeitos, tem gente que tá com o pé mais fora do que dentro da sigla. É preciso se reinventar e investir em novos quadros se quiser voltar a disputar eleições com chances de ganhar algo.

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