Filha afetiva diz que Flordelis ‘era soberana de tudo na casa’ e que ‘com certeza’ mandou matar Anderson

O julgamento de Flordelis chega nesta quinta-feira (10) ao quarto dia, ainda sem previsão de término. Das 29 testemunhas arroladas, apenas 10 já foram ouvidas. Esse número pode aumentar ou diminuir, com base nas estratégias dos advogados.

Roberta dos Santos, filha afetiva de Flordelis, foi a primeira a depor e chorou muito. A mãe deixou o plenário pouco antes do início da fala de Roberta.

A testemunha pediu para que Flordelis não estivesse presente no depoimento, porque não queria falar na frente dela.

A filha afetiva firmou que tudo que acontecia na casa tinha a permissão da pastora e ex-deputada federal. e, perguntada se Flordelis mandou matar Anderson, respondeu: “Com certeza”.

“Ela era soberana de tudo na casa, e só aconteceu tudo porque ela permitiu que acontecesse.” 

Roberta afirmou que, quando chegou à casa de Flordelis após o crime, a mãe estava “em completo alívio”.

A testemunha disse que não foi ao enterro e contou que chorou a morte do pai adotivo ao lado de Rayane — que, segundo ela, participou do plano para matá-lo.

“Eu vi o corpo do Niel [Anderson] naquele caixão, e teve gente que está aqui hoje que chorou comigo que eu nem desconfiava, mas estava fazendo parte do plano. Rayane foi a minha amiga de infância. Eu não conseguia nem desconfiar”, disse ela, emocionada.

Roberta ainda contou que foi procurada por uma outra filha afetiva de Flordelis, Erica, um mês depois do assassinato.

“Ela disse: ‘Eu acho que eu sei o que aconteceu. A Rayane me procurou e me pediu indicação de um bandido bom, mas eu não dei, até porque eu nem conhecia’. Aí aconteceu o assassinato do Niel, e ela deduziu que tinha sido para isso.”

Abuso sexual

Questionada pela acusação se sabia de algum episódio de abuso sexual cometido pelo pastor Anderson do Carmo, Roberta dos Santos negou. A tese é sustentada pela defesa de Flordelis como o motivo principal para o assassinato da vítima.

“Nunca vi abuso dentro daquela casa. O Niel (nome de Anderson na família) não era um abusador. É um deboche contra as mulheres que realmente sofrem abuso sexual. É uma afronta”, irritou-se a testemunha. Segundo ela, o pastor não permitia roupas curtas ou que expusessem o corpo das meninas e mulheres da casa.

“Niel não permitia que andasse de biquíni e short curto dentro de casa, porque tinha muito homem dentro daquela casa”

‘Torta, errada, mas era uma família’

Para Roberta, “doía muito estar no julgamento”.

“Eu não vim falar na frente deles para ver a desgraça deles. Eu não fico nem um pouco feliz de ver eles na situação que eles estão”, resumiu. Segundo Roberta, ela ainda sente que é parte da família de Flordelis.

“A gente nunca foi uma família normal, mas era uma família. Torta, errada, mas era uma família”, disse.

Nem metade já depôs

Todos os 10 depoimentos tomados até quarta (9) foram pela acusação — além de Roberta, faltam duas testemunhas para encerrar essa rodada. Depois, 16 pessoas falarão em defesa dos réus.

Além da ex-parlamentar, estão sendo julgados a filha biológica de Flordelis Simone dos Santos, a neta Rayane dos Santos e os filhos adotivos André Luiz e Marzy Teixeira.

A morte de Anderson do Carmo ocorreu na noite de 16 de junho de 2019. O pastor foi atingido com mais de 30 tiros, na garagem da casa onde morava com a família, em Pendotiba, Niterói.

Flordelis e Anderson do Carmo — Foto: TV Globo

Flordelis e Anderson do Carmo — Foto: TV Globo

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