Após vitória de Lula, partidos e políticos já miram cargos em órgãos federais do Acre

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ainda nem definiu quantos nem quem serão seus ministros de Estado, que comandarão a partir dos ministérios, autarquias e órgãos em todas as unidades da federação, mas já há quem esteja de olho nesses cargos federais.

No Acre, os cargos incluem as superintendências do Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária), da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente), Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre), CGU (Controladoria Geral da União), Delegacia Regional do Trabalho, Delegacia Federal do Ministério da Agricultura, Superintendência Regional do INSS (Instituo Nacional de Seguridade Social) e outros não menos importantes.

São cargos em nível de DAS (Diretoria Assessoramento Superior) e de livre nomeação dos ministros de cada área, a partir da indicação de seus aliados nos estados. É neste sentido que os partidos que devem fazer parte da bancada de apoio ao governo de Lula no Congresso Nacional em nível local já comecem a mirar tais cargos, mesmo que ninguém admita isso publicamente. 

O único a falar sobre o assunto sem as reservas que a situação requer foi o senador Sérgio Petecão (PSD), cujo Partido deve fazer parte do novo governo Lula, inclusive com a indicação de ministros – o mais cotado do PSD para a Esplanada dos Ministérios em Brasília é o presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab, que inclusive já foi ministro em governos petistas. 

“Se vamos apoiar, é claro que vamos indicar pessoas a algum desses cargos”, admitiu Petecão, que perdeu as eleições para o Governo do Estado em 2022, mas ainda tem mais quatro anos de mandato no Senado e, nesta condição, já se apresenta para ser interlocutor da bancada e do governo federal junto ao governo estadual de Gladson Cameli.

No mesmo grau de importância, três cargos federais, os de superintendentes da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e do Banco do Brasil, são inegociáveis politicamente. A indicação dos superintendentes desses órgãos no Estado obedece a rigorosos critérios técnicos e os políticos devem passar longe dessas indicações. Nos outros, não. E isso já começa a movimentar alguns partidos.

Na base de apoio ao futuro governo Lula deve ser incluído o PP, os Republicanos e o MDB, aquele partido conhecido pelo pragmatismo e digno da assertiva do humorismo latino americano segundo o qual “se hay gobierno, yo soy a favor”. É claro que a bancada inclui ainda o PT, o partido do presidente eleito. As negociações executadas principalmente pela presidente nacional do PT, deputada federal reeleita Gleisi Hoffmann (PR), visando chegar ao número de 380 parlamentares na Câmara Federal, que daria folga ao novo governo para ver aprovadas suas propostas e não correr risco de aprovações de coisas indesejáveis, como, por exemplo, CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito), que todos sabem como começa, mas nunca como termina, incluem ainda outros partidos. PSDB e União Brasil estão na mira dos articuladores petistas.

No Acre, além do senador Alan Rick, o União elegeu dois deputados federais – Eduardo Veloso e  Meire Serafim; o Republicano, também dois – Antônia Lúcia e Roberto Duarte; o PP elegeu a professora Socorro Nery e o ex-prefeito de Porto Walter, Zezinho Barbary, e o deputado estadual Gerlen Diniz; o União Brasil, o coronel Ulysses Araújo. 

Dos oito deputados federais do Acre eleitos em 2022, todos têm perfil de aliados do chamado bolsonarismo, a corrente política de direita radical revelada no país a partir da eleição do ainda presidente Jair Bolsonaro, em 2018. Mas dos oito, a depender das articulações de Gleisi Hoffmann e de outros petistas graduados, todos podem acabar integrando a bancada de apoio a Lula, exceto o coronel Ulysses Araújo, ainda que o União Brasil passe a apoiar o governo. O DNA bolsonaristas do coronel não lhe permitiria chegar a tanto. Já o PSDB, que só elegeu um deputado estadual (Luiz Gonzaga) em 2022, não tem lá grande moral para pedir ou impor nada em nível local ao governo federal.

Os sete deputados restantes então teriam peso na indicação dos cargos federais de importância no Estado. A surpresa, no entanto, pode ficar por conta do velho MDB de guerra e tantos governos, de todos os governos desde a redemocratização do país, em 1985. Embora não tenha elegido nenhum deputado federal em 2022 no Acre, pode surpreender com a indicação de alguns desses cargos, através de seu eterno presidente regional, Flaviano Melo. É isso que se depreende de uma reunião ocorrida em Rio Branco às vésperas das eleições do segundo turno entre velhos caciques do MDB, entre os quais o ex-prefeito Vagner Sales e o já citado Flaviano Melo com o cacique petista local, Jorge Viana.

Além da reunião com o líder petista, a forte influência da senadora emedebista Simone Tebet na campanha do segundo turno que levou Lula de volta ao poder, dão aos dirigentes do MDB local a certeza de que a eles sobrará algum cargo federal. De preferência o Incra, para o qual já haverá até um nome sempre muito lembrado para ocupar a autarquia local, o do economista e ex-deputado João Correia.

No entanto, o Incra também é muito cobiçado pelo petismo, que também lembra o nome do ex-senador Sibá Machado como o ideal para a função face ás suas ligações com o setor rural. Mas, no caso de o Incra ir parar no colo do MDB, Machado ficaria contente coma Delegacia Federal da Agricultura.

Jorge Viana não pensaria em cargos locais para si ou para o irmão Tião Viana, médico e também ex-governador do Estado. O primeiro Viana pensa em cargos mais elevados no governo federal, talvez até na Esplanada dos Ministérios. Para ele, seria ideal o Ministério do Meio Ambiente, principalmente num momento em que se discute em nível internacional as mudanças climáticas, um assunto no qual o cacique petista acreano se julga um especialista. Mas, para o Ministério do Meio Ambiente, sob cuja alçada fica a superintendência regional do Ibama, vir a ser ocupado por Jorge Viana, há um problema, que atende por Marina Silva. É que a acreana que se elegeu deputada federal por São Paulo e foi uma das figuras de proa da campanha de Lula no segundo turno, que inclusive já ocupou o cargo no primeiro e na metade do segundo mandato de Lula, de 2003 a 2008, está muito cotada para voltar à função.

Mas, uma coisa é certa: sendo ministro ou não, Jorge Viana não deverá deixar na chuva o ex-prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre, o qual, se não tivesse deixado de concorrer à Assembleia Legislativa para embarcar na aventura de concorrer ao governo na condição de vice do próprio Jorge Viana, teria sido eleito deputado estadual. Para Marcus Alexandre, a depender de Jorge Viana, ocuparia a superintendência local do DNIT, órgão que cuidaria da recuperação e manutenção das rodovias federais no Acre, BRs 364 e 317, para as quais há sempre muito dinheiro para ser investido.

“Isso não está sendo discutido porque o presidente nem ainda abriu discussão sobre os ministérios”, disse ao ContilNet, nesta sexta-feira (11), o presidente regional do PT, Cesário Braga. Disse ainda que tais cargos nem foram contabilizados ou analisados porque, segundo ele, muitas dessas autarquias, como a Delegacia do Trabalho e do INSS, são tocadas “pelo pessoal da Casa”. Mas é fato é que o tal “Pessoal da Casa”, funcionários de carreira, também se movimenta ao encontro de políticos em busca dessas nomeações, cujo assunto, embora real, ainda é inefável por esses dias.

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