Envolvido no assassinato de missionária Dorothy é procurado no Acre

Condenado por envolvimento no assassinato da religiosa e missionária norte-americana Dorothy Stang, assassinada a tiros em 2005 num assentamento na cidade de Anapu, no sudoeste do Pará, Amair Feijoli da Cunha, o “Tato”, vivia livre no Acre até esta semana, mas desde a última quinta-feira (17) é procurado pela Polícia Federal, na companhia de um filho. Aos 54 anos de idade, o pai é procurado por denúncias de invasões de terras públicas na Floresta do Antymary, na região de Feijó, interior do Acre, e o filho Patrick da Cunha, por tentativa de homicídio contra um agricultor na região de Sena Madureira, também em território acreano. Uma filha do acusado também responde a processos na Justiça Federal por invasões de terras e desmatamento ilegal.

Amair Tato veio morar no interior do Acre após suspensão da execução de pena, estabelecida em 18 anos de prisão, depois reduzida até a extinção pela Vara Criminal de Rio Branco (AC). Aqui, o ex-condenado é procurado pelos crimes de ameaças e invasão de terras públicas, análogos aos crimes dos  aos quais era acusado antes da morte da religiosa, de cujo morte ele foi acusado de ter adquirido as armas utilizadas pelos pistoleiros.

Dorothy Stang foi morta com seis tiros pelo pistoleiro Rayfran das Neves Sales. A repercussão internacional do caso deu visibilidade aos conflitos de terra na Amazônia. Na época, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, esteve na região e deslocou um aparato policial para as investigações. As polícias Civil e Federal iniciaram uma caçada para prender os suspeitos. Rayfran foi detido 3 dias após o crime.

A religiosa denunciava ameaças e sua morte estava anunciada pelo clima de tensão na região. Dorothy foi morta a caminho de um encontro com agricultores. A missionária pertencia a uma congregação católica e morava no Brasil desde 1966, quando mudou-se dos Estados Unidos, na região de Ohio, onde nasceu, para atuar na Amazônia, em Anapu. Virou uma liderança na luta pela reforma agrária e começou a incomodar madeireiros, fazendeiros e grileiros da região.

Dorothy Stang coordenava projetos de uso sustentável da floresta em áreas de assentamento do Incra onde, segundo o Ministério Público Fderal (MPF), o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, apontado como mandante do crime, possuía títulos de terras ilegais. É aqui que começa o envolvimento de Amair Feijoli da Cunha, que vinha se tornando cidadão acreano. Ele foi inicialmente condenado a 27 anos de prisão como intermediário do crime, mas foi beneficiado com a redução de um terço da sentença, devido ao recurso de delação premiada. A pena então ficou em 18 anos de cadeia por ter contratado os pistoleiros Rayfran e Clodoaldo Carlos Batista. A pena de Rayfran foi de 28 anos, e Clodoaldo foi sentenciado a 17. Os julgamentos começaram um ano após o assassinato, em 2006.

Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão, apontados como mandantes do crime, foram condenados a 30 anos de prisão. Bida sentou quatro vezes no banco dos réus. Ele teria oferecido R$ 50 mil pela morte da missionária. Vitalmiro e Amair passaram a cumprir pena em regime aberto.

A Secretaria da Vara Única da Comarca de Ourilândia do Norte, no Pará, em junho deste ano, informou que Amair Feijoli da Cunha estava em cumprimento de condições impostas na prisão domiciliar, entre elas, o comparecimento na Comarca de Ourilândia do Norte mensalmente para assinatura da caderneta.

O Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC) informou que a execução da pena já foi arquivada. Ou seja, ele não deve nada à Justiça com relação a esse caso. No final de setembro deste ano acabou a pena na Vara de Execução e Medidas Alternativas da Comarca de Rio Branco (VEPMA) e o trânsito em julgado em 10 de novembro.

No entanto, a ficha criminal de Amair Feijoli da Cunha informa que ele responde a um processo em andamento na 2ª Vara Criminal da Comarca de Marabá, também no Pará. Ali, ele é acusado de estelionato – crime que consiste em o agente vender algo alheio como se fosse seu. 

No Acre, as denúncias contra o acusado são de crimes ambientais, de acordo com uma ação civil pública ingressada pelo Ministério Público Federal (MPF) por ele ter se apossado de terras da União dentro da Floresta do Antimary. Em outubro, a Justiça determinou que ele desocupasse a área em um prazo de 60 dias. 

A segunda denúncia é mais recente, já nos primeiros dias de novembro deste ano. O Ministério Público do Acre (MP-AC) denunciou o pecuarista e mais três homens por extração ilegal de madeira dentro da floresta do Antimary. Segundo trio preso, Tato pagaria R$ 100 por cada dúzia de vigas feitas de castanheira. 

As denúncias envolvem também os filhos de Amair. A psicóloga Patrícia Coutinho da Cunha, filha de Amair Feijoli, recebeu pelo menos três multas que juntas somam quase R$ 1 milhão, por desmatamento na Floresta Estadual Antimary (FEA), na BR-364 entre Sena Madureira e Bujari, interior do Acre. Além das multas, Patrícia recebeu três embargos da área. Já Patrick da Cunha, filho do fazendeiro, é procurado por tentativa de homicídio, inclusive tendo um mandado de prisão preventiva em aberto contra ele desde junho deste ano.

De acordo com a Polícia Civil, ele atirou duas vezes contra um agricultor que se desentendeu com Tato por conta de terras em Sena Madureira.

A Polícia Civil cumpriu mandados judiciais na Fazenda Canaã, atualmente ocupada pela família de Amair Feijoli, dentro da Floresta Estadual do Antimary, no Acre. Na operação realizada na propriedade, foram apreendidas duas espingardas, um rifle calibre 22, munições e um colete a prova de balas, que, segundo o delegado responsável pelo cumprimento do mandado, pode ser patrimônio das forças de segurança. “Havia uma placa de identificação que foi suprimida, mas a gente tenta verificar se era da Polícia Militar, Polícia Civil ou outra força de segurança”, explicou o delegado Marcus Frank, de Sena Madureira. Quatro pessoas foram presas por porte ilegal de armas de fogo.

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