Dois caminhões foram incendiados hoje de manhã em meio a atos golpistas na BR-163 na altura de Sinop, no interior de Mato Grosso. Vídeos obtidos pelo UOL Notícias registraram as chamas na rodovia. Em áudio, uma testemunha disse que os motoristas foram rendidos por homens armados e encapuzados, que atearam fogo nos veículos.
É o segundo caso de relato de ação armada na região em pouco mais de 24 horas. Na noite de sábado (19), um grupo de dez pessoas foi flagrado em vídeo atirando e colocando fogo em caminhões na base da concessionária que administra a mesma rodovia entre os municípios de Nova Mutum e Lucas do Rio Verde.
Em meio a uma escalada de violência nas paralisações, que voltaram a ocorrer desde a última sexta-feira (18), as imagens do incêndio de hoje de manhã viralizam nas redes sociais. Os caminhões foram incendiados nos dois sentidos da BR-163.
Procurada, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) ainda não se manifestou sobre o caso. Os atos ocorrem desde o dia 30 de outubro, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) derrotou o presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições. Os manifestantes contestam o resultado das urnas e pedem intervenção militar.
Segundo uma testemunha, que relatou o que viu em áudio, os responsáveis pelo ataque portavam armas de grosso calibre. “Os caras encapuzados, armados com uma arma ponto 40. Meteram bala, tiraram o motorista de dentro e meteram fogo nos dois caminhões.”
Outra pessoa, que também diz ter testemunhado a ação, deu relato semelhante. “Mandaram os meninos [motoristas dos caminhões] descer batendo arma na porta. Aí eles falaram que vão trancar a BR. Ir nas empresas e fazendas. Vão colocar fogo nos caminhões que tiver carregando [produtos para pegar a estrada].
Como foi o ataque à concessionária
A PRF diz ver relação entre o ataque da noite de sábado e os bloqueios. “Isso já passou de ser um problema única e exclusivamente da Polícia Rodoviária Federal. Isso já está entrando em uma guerra civil e atitudes dos órgãos superiores precisam ser tomadas com urgência”, disse Felipe Dias Mesquita, delegado da PRF, em áudio obtido pela reportagem.
Em nota, a Polícia Civil de Mato Grosso afirmou que foi ao local para perícia e para apurar as circunstâncias do ataque. Segundo a corporação, os autores do atentado ainda não foram identificados.
Outras imagens mostraram o momento em que eles chegaram ao local. Após atirar e jogar bombas de coquetel molotov, os homens invadiram a base armados e renderam funcionários.
“Quebraram tudo”. Durante o ataque, as cancelas de pedágio foram quebradas. Os funcionários fugiram do local. Evacuada, a praça de pedágio da cidade de Sorriso ficou sem cobrança. Um vídeo feito por um funcionário mostra chamas do incêndio e a depredação na base. “Quebraram tudo. Gasolina aqui em tudo. Fogo…, está quase explodindo. Vai explodir. Bora vazar”, diz, ao falar com um colega.
“Estavam tudo armado”. Um funcionário grava um relato sobre a ação, feito por um colega que não aparece nas imagens. “Eram mais de dez. Estavam tudo armado. Eu pensando que era foguete. Os caras mandando eu sair: ‘sai, sai, corre, corre’. Entraram atirando.” Em seguida, o autor do vídeo mostra uma viatura com perfurações de tiro no vidro dianteiro.
MPF pede intervenção federal O MPF (Ministério Público Federal) enviou ontem recomendações ao Governo de Mato Grosso. No documento, os procuradores pedem que Otaviano Pivetta, governador em exercício, solicite ajuda da Força Nacional de Segurança Pública “para preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio nas rodovias federais”.
O documento ainda aponta que o MPF orientou ao governo que determine que a Polícia Militar mantenha seu efetivo para auxiliar a PRF e, se necessário, realizar a “ocupação territorial prévia aos bloqueios e interdições, com o estabelecimento de um cinturão de segurança para a manutenção do tráfego seguro nos focos de tensão nas rodo.
Governo de MT contra “atos de vandalismo”
Em nota, o Governo de Mato Grosso informou que as forças de segurança foram acionadas para atuar “contra atos de vandalismo” na BR-163. De acordo com o governo, a tropa de choque da Polícia Militar irá atuar com a PRF no desbloqueio das estradas e os serviços de inteligência atuaram juntos para “identificar e prender os responsáveis por atos criminosos”.
A nota foi finalizada apontando que “a atitude desse grupo de vândalos, com cerca de 10 integrantes armados, é reprovável e todo efetivo será empregado para identificar e capturar os responsáveis por esse ato criminoso” e que o governo “reforça seu respeito ao livre direito de manifestação.
Ataque ocorreu em região de suspeitos de financiar atos
A região é a mesma que concentra os empresários do agronegócio suspeitos de financiar os atos. Das 43 contas bloqueadas por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), 24 são de Sorriso (MT).
Entre eles, está Atilio Elias Rovaris, empresário do agronegócio e piloto amador de rally responsável por uma doação de R$ 500 mil para a campanha Jair Bolsonaro (PL). Ele foi procurado, mas não quis se manifestar.
Somados, os suspeitos de financiar os atos golpistas foram responsáveis também pelo pagamento de R$ 1,3 milhão destinados à disputa eleitoral.