O Brasil terá de lidar com seus demônios na sexta-feira, às 12h, no Estádio da Educação, para chegar nas semifinais da Copa. Classificado para as quartas de final após golear a Coreia do Sul por 4 x 1, ontem, no Estádio 974, com gols no primeiro tempo de Vinicius Junior, Neymar, Richarlison e Lucas Paquetá, a Seleção enfrentará, pela quinta edição consecutiva, um adversário europeu na fase de mata-mata.
Depois de ter o sonho do hexa frustrado por França (2006), Holanda (2010), Alemanha (2014) e Bélgica (2018), a Seleção medirá forças com a Croácia, para quem jamais perdeu em mundiais. Venceu por 1 x 0 na primeira fase em 2006 e por 3 x 1 no jogo de abertura de 2014, em São Paulo. Há quatro anos, Tite usou o poder de voto na eleição da Fifa para escolher Luka Modric como melhor jogador. O mundo deu voltas e ele terá de pará-lo se quiser enfrentar Argentina ou Holanda.
Viciado em fazer gols no segundo tempo na Copa sob o comando de Tite, o Brasil mudou de hábito, ontem, contra a Coreia do Sul. Foi para o intervalo vencendo por 4 x 0, mais do que os três gols marcados em toda a fase de grupos. A facilidade do triunfo nas oitavas encaminha pontos relevantes para o duelo contra a Croácia na próxima fase.
“Vamos enfrentar um adversário não somente com mais camisa, uma equipe com jogadores extremamente fortes. Modric não precisa de comentários, Brozovic, Perisic, Kovacic, conheço bem esses jogadores. São fortes e acostumados com grandes partidas. Vai ser um jogo muito difícil, temos de nos preparar da melhor maneira possível”, alerta o lateral Danilo.
Alguns jogadores não terão a liberdade de ontem contra a Croácia. Apelidados de vatreni (ardente), os atuais vice-campeões costumam queimar planos de jogo dos rivais. O volante Casemiro, por exemplo, tem sido praticamente um armador nesta campanha.
Na sexta, é candidatíssimo a vigiar Modric, com quem formou um dos melhores e mais vencedores meio de campo da história do Real Madrid ao lado de Toni Kroos.
O potencial do adversário vai um pouco além de Modric. Há alternativas como Kovacic e Perisic. Portanto, Lucas Paquetá terá de redobrar a atenção na vigilância aos criadores do adversário. Ele pode até continuar infiltrando como fazia Paulinho na versão de 2018 da Seleção, porém sem se descuidar da partidinha de xadrez com as peças do tabuleiro rival.
A Croácia não ostenta mais um centroavante como Mandzukic, referência do ataque há quatro anos e meio. Isso não implica dizer que Marquinhos e Thiago Silva podem se lançar
à frente para tabelar com Richarlison, como no lance do terceiro gol contra a Coreia do Sul. Recomenda-se vigilância ostensiva a Bruno Petkovic, homem de referência na vitória de ontem nos pênaltis diante do Japão nas oitavas de final.
Os posicionamentos de Perisic aberto na esquerda e Kramaric na direita devem preservar Éder Militão na lateral-direita e Danilo na esquerda, a menos que Alex Sandro se recupere a tempo de restaurar a ordem na defesa. Nesse caso, Danilo retornaria à função de origem.
Artilheiro do Brasil com três gols, Richarlison fez até embaixadinha na frente da grande área da Coreia do Sul antes de balançar a rede. A defesa croata é protegida por um dos melhores zagueiros desta Copa. Gvardiol forma dupla de zaga com Lovren.
Uma parceria duríssima de encarar. A Bélgica usou quase todo o arsenal no empate por 0 x 0 na última rodada da primeira fase e nem mesmo o centroavante Lukaku foi capaz de fazer gol.
A próxima partida também exigirá mais de Neymar. A Coreia do Sul não cobrou tanta mobilidade de um craque afastado do futebol por 10 dias.
Foi possível ver, mais de uma vez, o atacante com as mãos na cintura e Richarlison se desdobrando para recompor o sistema defensivo pelo meio. Neymar ficava como se fosse um falso nove. A tendência é que ele trave duelos à parte com os bons volantes Brozovic e Kovacic.
Missão difícil para quem pode igualar Pelé em número de gols no próximo jogo. Nas contas da Fifa, o Rei coleciona 77. Neymar chegou a sete em mundiais e a 76 com a amarelinha. Para a CBF, o melhor jogador de todos os tempos, internado no Alberto Einstein, em São Paulo, soma 95.
Por fim, os brasileiros gostam de se iludir com análises de que o Brasil chegará em vantagem nas quartas de final porque a Croácia jogou 120 minutos e mais decisão por pênaltis contra o Japão.
Muito cuidado com o oba-oba. Em 2018, os atuais vice-campeões avançaram nos pênaltis contra Dinamarca (oitavas) e Rússia (quartas), na prorrogação diante da Inglaterra (semi) e perderam por 4 x 2 para a França na finalíssima. Além de talentosa, a Croácia acumula provas e mais provas de resistência física, técnica e tática.