Há muito tempo o Brasil não via em uma Copa do Mundo um atacante que reunisse tantas qualidades para ser artilheiro e também se transformar em ídolo pela história escrita na competição.
Richarlison voltou à seleção para o mata-mata e foi mais uma vez o responsável por transformar um jogo de futebol em um retrato da irreverência que traduz a essência de um país.
A brincadeira com Tite na dança do pombo virou nova ferramenta de motivação antes da vitória sobre a Coreia. E o comportamento de Richarlison, desde o começo da competição, tem sido algo que úne o grupo por conta de sua simplicidade.
De jeito humilde, mas sem abrir mão de um discurso positivo e confiante, o capixaba de Nova Venécia não tem medo de dizer que é o camisa 9 que “fede” a gol, que vai buscar a artilharia.
Com três gols marcados em três jogos, dois a menos que Mbappé, da França, ainda sonha em repetir Ronaldo, último brasileiro a ser artilheiro de uma Copa, em 2002, com cinco gols. A meta, segundo o atual camisa 9, é fazer seis gols.
O Fenômeno interagiu com o centroavante em seu canal após a goleada sobre a Coreia do Sul e o fez tremer e chorar. Richarlison não imaginava que encontraria o ídolo após o jogo:
— Sem palavras, fiquei emocionado. Ele é meu ídolo, uma inspiração.
Assim como Ronaldo, Richarlison é dono de uma explosão física e capacidade de finalização muito boa. Há semelhança ainda na voz mansa, sorriso amarelo e cabeça baixa quando não está em campo.
Se não tem o mesmo talento nato de Ronaldo com a bola nos pés, Richarlison empresta ao time outras qualidades. É comum ouvir os demais jogadores dizerem que a consistência defensiva do sistema criado por Tite começa por ele. Não citam os atacantes, citam “o” atacante.
Dedicação tática
Em campo, fica claro como essa obediência tática influencia no tipo de jogo da seleção. Em várias situações, Richarlison é o responsável por retornar ao campo de defesa para fechar espaços, enquanto Neymar e Vini Jr. ainda estão em movimento de recomposição. Contra a Coreia, o camisa 9 por várias vezes dominou a bola recuperada pela defesa e levou o time ao ataque, sobretudo com a vitória encaminhada.
A dedicação e a capacidade física são outros fatores que causam boa impressão e afastam qualquer possibilidade de que outro jogador tenha chance de barrá-lo nesta Copa do Mundo. No momento da convocação, Richarlison vinha de lesão no Tottenham, e havia uma comoção para o aproveitamento de Pedro, em boa fase no Flamengo. O centroavante rubro-negro teve chance no amistoso contra a Tunísia e fez gol. Entretanto, para o esquema principal do Brasil, Richarlison nunca foi ameaçado de fato.
Gabriel Jesus era a segunda opção e teve oportunidade contra Camarões, mas não só passou em branco, como não conseguiu se contagiar por esse comportamento coletivo. Pedro entrou no segundo tempo, quando a equipe já estava desorganizada e pressionada para conseguir a vitória, e também não ofereceu muito além de uma finalização por cima da trave.
Diante da Coreia, Richarlison teve duas oportunidades, e acertou as duas no gol, marcando uma vez. No jogo contra a Suíça, o mais difícil de todos até agora, apareceu pouco no ataque, com apenas uma chance de finalizar, mas esteve presente no esquema consistente que evitou qualquer perigo do adversário. Na estreia, nas duas chances que teve, fez dois gols. Um deles, um voleio que o fez cair nas graças do público brasileiro logo de cara.