Lensa: app levanta discussão sobre o que pode ser considerado arte; acreano explica

Há alguns dias as redes sociais presenciaram uma enxurrada de retratos digitais. Gerados por inteligência artificial (IA), os avatares criados pelo Lensa viraram febre entre os brasileiros. Entre as funções do aplicativo de edição de imagens, a criação de avatares digitais a partir de imagens enviadas pelos próprios usuários foi a que mais se destacou.

A arte gerada pela IA não é função única do aplicativo pago, outros sites como o Midjourney também geram artes a partir de comandos escritos, e também existem programas que podem ser instalados no próprio computador, como o Stable Diffusion.

O uso da inteligência artificial como uma ferramenta artística levanta inúmeras incertezas sobre o futuro da produção e do consumo de arte. A artista Roberta Marisa empreende artisticamente realizando pinturas à mão, além de encomendas de quadros, capas de livros e afins. A publicitária de 32 anos apresenta um ponto de vista de união entre o tradicional e as novas tecnologias.

“É um tema interessante porque eu sou publicitária e também artista, trabalho hoje profissionalmente com a arte já tem um tempo. Acredito na união das duas coisas, acho que uma valoriza a outra. Por exemplo, hoje a gente dá mais visibilidade ao nosso trabalho por conta da internet, que é capaz de conectar as pessoas, no sentido de divulgar e furar bolhas, para que nossa arte consiga chegar até o outro,” diz Roberta, que conduz o Studio Papoula, cujo perfil no Instagram possui mais de 9 mil seguidores.

Para a artista, as imagens geradas pela inteligência artificial não podem ser consideradas arte, mas sim uma manifestação digital.

“Sobre essa questão da inteligência artificial, acho que a arte no sentido mais literal precisa da ação humana, quando você vê uma arte que ela não tem ação humana, que ela é completamente manipulada por aplicativos ou algoritmos, ela é uma manifestação digital. Por exemplo, o Lensa, que transforma uma fotografia em uma expressão digital ou arte digital, mas é muito rápido, é uma tela, é algo que você vê ali, mas não te toca, não te instiga. Acho que a arte manual jamais vai acabar, morrer e muito menos perder o seu valor, porque ela tem uma capacidade de afetar o outro de uma forma mágica, porque ela é feita através da ação, então acho que a ação ainda é muito válida, espero que a gente não perca isso, porque o ser humano é muito mais importante que um robô”, explica.

A velocidade com que aplicativos como o Lensa geram imagens é assustadora, replicando técnicas que artistas levam anos para aprimorar, e depois longos períodos de tempo para executá-las. Isso pode gerar a preocupação de que a ascensão desse tipo de ferramenta pode desencadear uma desvalorização dos artistas manuais e de suas obras. Entretanto, é possível também enxergar um potencial mercado criativo saindo disso.

A artista acreana Hellen Lirtêz, produz obras plásticas desde os 12 anos de idade e aponta que soluções instantâneas como o Lensa são uma realidade inevitável. “Fazem parte do que a gente está vivendo hoje, é uma questão de adaptação, e a gente faz parte disso, inclusive eu que sou da Geração Z, que nasceu acostumada com isso. Apesar de eu não fazer esse tipo de arte, mas sim a arte mais tradicional, com lápis, tela e pincel, que é diferente, não desvalorizo os outros meios que as pessoas têm de fazer e consumir.”

Lirtêz também acredita que essa área pode revelar novas funções no campo das artes. “Eu acho muito legal as artes geradas por IA, porque podem trazer uma nova perspectiva para um futuro que a gente desconhece e também desvendar outras habilidades e potencialidades do ser humano. Devem surgir novos profissionais habilitados para lidar com essa área”, diz.

Se as artes feitas por inteligência artificial podem ser consideradas como obras artísticas ou manifestações digitais, só o futuro poderá responder. Mas a realidade já nos traz uma resposta: essas ferramentas chegaram e devem permanecer. Em dezembro, o volume de usuários curiosos por essa nova potencialidade disponível no Lensa, fez o aplicativo desenvolvido em 2016 lucrar mais de 8 milhões de dólares em poucos dias.

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