A vitória, por 49 votos a 32, que permitiu a permanência do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na presidência da mesa diretora do Senado da República em votação encerrada na tarde desta quarta-feira (1) foi possível com dois votos dos três senadores do Acre. Dos três, apenas Alan Rick, que tomou posse hoje, votou em Rogério Marinho, senador pelo PL do Rio Grande do Nortes e apoiado por senadores de extrema direita vinculados ao bolsonarismo, o qual contou com apoio ostensivo da ex-primeira dama Michele Bolsonaro e do general Braga Neto, candidato a vice de Jair Bolsonaro.
Há dois anos, Pacheco recebeu 57 votos. O número mínimo exigido para vencer a eleição em primeiro turno é de 41 dos 81 votos possíveis..
Apesar do apoio da ala mais radical, Rogério Marinha alcançou apenas 32 votos, o que significa que o senador Eduardo Girão (PL-CE) acabou retirando sua candidatura. Os senadores Márcio Bittar (União-AC) e Sérgio Petecão (PSD-AC) votaram em Rodrigo Pacheco. Dos dois votos no candidato apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e demais partidos que integram o Governo, o voto mais surpreendente foi o de Márcio Bittar, que sempre foi um bastião do bolsonarismo e muito ligado ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos cabos eleitorais de Marinho e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Mesmo reafirmando ter convicção de que continua a ser de direita, uma conversão depois de mais de 20 anos atuando em partidos de esquerda inclusive no Partido Comunista Brasileiro (PCB), através do qual chegou a viver como estudante em cursos preparatórios de lideranças em Moscou, na União Soviética, Márcio Bittar guindou para a direita a partir da campanha de 2018, quando se elegeu senador pelo MDB mas já apoiando Jair Bolsoanro e mais tarde se aliou ao então presidente ao ponto de se transferir para o PSL e depois para o União Brasil, que apoiavam o ex-presidente e se tornou inclusive relator do Orçamento Geral da União de 2020, um dos cargos mais ambicionados do Congresso Nacional.
Apesar do voto em Pacheco, não significa que Márcio Bittar aderiu ao Governo de Lula, segundo ele confirmou ao ContilNet. Antes mesmo da votação ser aberta, já se sabia que Márcio Bittar não votaria com os bolsonaristas, segundo ele havia confidenciado a amigos.
Apesar do voto em Pacheco, Bittar não se diz rompido com o bolsoanarismo. “Eu pensei que qualquer um dos que ganhassem a eleição, o Senado estaria em boas mãos porque os dois, tanto Marinho como Pacheco, são preparados a para a função”, disse os senador pelo Acre.
Márcio Bittar, no entanto, discordou da pauta bolsonarista segundo a qual a eleição de Rogério Marinho proporcionaria a abertura de processo de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente contra Alexandre de Moraes, ministro considerado inimigo fidagal do ex-presidente.
“O próprio Rogério Marinho revelava que não há votos suficientes para se abrir processos contra ministros do Supremo, que são necessários 54 votos e isso não se tem na Casa. Portanto, não há clima para processos de impeachment contra ministros do STF e isso precisa ficar claro, Não há clima para cassação de ministros do STF”, disse o senador.
O que há, segundo ele, como mecanismos para barrar possíveis avanços do STF sobre o Legislativo ou o Executivo é a capacidade de legislar do Senado. “E legislando a gente pode estabelecer mandatos para os ministros tirar penduricalhos que eles recebem. Mas apenas isso”, disse. “E para isso eu acho o Rodrigo Pacheco melhor preparado, porque ele já demonstrou isso, embora eu também conheça a capacidade do Rogério Marinho”, acrescentou.
Sobre as possíveis cobranças dos aliados de Jair Bolsonaro quanto a seu voto em Pacheco, Márcio Bittar disse que, se é para haver coerência, os partidos que votaram contra Pacheco, não poderiam, na Câmara dos Deputados, ter apoiado também a reeleição do deputado Arthur Lira. “Não parece incoerente que no mesmo Congresso Nacional, os mesmos partidos votem de forma diferente na Câmara e no senado?”, questionou o senador.
O voto do senador Sérgio Petecão, do mesmo partido e aliado de Pacheco, já era esperado.