Os anos 90 e 2000 foram marcados pelo início de diversas franquias como Tomb Raider, Resident Evil e Final Fantasy, títulos que ajudaram a definir seus respectivos gêneros e, mesmo hoje em dia, servem como referência para muitos jogos modernos. Contudo, o fato de ser um clássico não impede que os game sofra com o envelhecimento, seja por uma gameplay mais arcaica, gráficos que não são mais tão impressionantes ou temas que não são mais tolerados, como Bully, por exemplo. A seguir, veja a lista do TechTudo com games clássicos que ainda são muito amados pelo público, mas que “envelheceram mal”.
1. Bully (2006)
Bully é um jogo lançado pela Rockstar Games em 2006. Levando o estilo da desenvolvedora, Bully é um game em terceira pessoa em um mundo aberto cheio de quests para serem realizadas. O protagonista é Jimmy Hopkins, que vai parar em um internato após ser expulso de sete escolas. A gameplay foca bastante no gênero beat’up, os famosos “brigas de rua”, mas com toda a violência ocorrendo na escola entre os alunos.
Esse detalhe, somado à inclusão do tema bullying, agressão e intimidação a alunos dentro de uma escola, foi o bastante para Bully ser polêmico e receber críticas na época, embora o jogo trate de quebras de barreiras sociais colocadas devido a diferenças de interesses e classes.
Quando falamos a respeito de “envelhecer mal” no caso de Bully, além das polêmicas, o que vem à mente são os gráficos. Porém, há outros aspectos que fariam do título não ser visto tão bem por lentes mais modernas. Por exemplo, há uma cena em que Gary Smith, o principal antagonista do jogo, aparece vestindo um uniforme nazista no Halloween, uma piada que não cabe nos dias de hoje.
E isso ocorre em diversas temáticas polêmicas, como relacionamentos entre professores e alunas, representações caricatas de personagens, entre outras possibilidades. Enfim, a história de Bully é fruto de seu tempo e o game certamente enfrentaria problemas se fosse lançado (ou até relançado) hoje.
2. Resident Evil (1996)
O Resident Evil de 1996 foi o início de uma das franquias de maior sucesso da Capcom. Lançado inicialmente para Playstation, Resident Evil não foi o primeiro survivor horror, mas foi o jogo que ajudou a definir a fórmula de game de terror e sobrevivência. Com uma atmosfera assustadora, muitos jump scares e a necessidade de saber controlar seus escassos recursos, como armas e munição, o game serviu de referência para diversos títulos futuros.
Outros detalhes como a resolução de puzzles, a possibilidade de jogar com dois personagens (Chris Redfield ou Jill Valentine), mais de um final e a ênfase na atmosfera amedrontadora foram pontos a se destacar no começo da franquia.
Na época, o jogo foi muito criticado pelos diálogos e a atuação ruim na dublagem, mas o que faz Resident Evil ter envelhecido mal é sua gameplay. Para jogar, era necessário lidar com os chamados “tank controls“, por se assemelhar bastante à movimentação de um tanque de guerra antigo.
Em resumo, quando você aperta para cima em seu D-Pad ou analógico, o personagem andará para a direção que ele está apontando, sem importar a perspectiva da câmera. Esquerda e direita giram o personagem, enquanto o botão para baixo inverte a direção. Esse estilo arcaico caiu no esquecimento para dar lugar a controles mais modernos em jogos 3D. A câmera fixa em um canto do cenário também já caiu em desuso há algum tempo (tanto que, em Resident Evil 2 Remake, foi repaginada).
3. Tomb Raider (1996)
O Tomb Raider clássico é mais um exemplo de jogo que pode não ser tão bom quanto você se lembra. Em 1996, o título, desenvolvido pela Core Design, foi um estrondoso sucesso. Seu estilo de ação e aventura, a exploração em ruínas antigas e a gameplay viciante, com muitos saltos, acrobacias, escaladas e tiroteios, fizeram de Tomb Raider servir como referência para muitos jogos de plataforma em 3D. Junto de todas essas qualidades, está Lara Croft, a protagonista que acabou por se tornar em um dos nomes mais conhecidos da história dos videogames.
Hoje em dia, o jogo não envelheceu bem por conta do combate, que levam a uma dificuldade injusta. Além disso, os gráficos também estão bem datados, tendo em vista que o Tomb Raider original vem de uma época em que as desenvolvedoras iniciavam os trabalhos em 3D para tentar pôr o mínimo de realismo com os famosos polígonos.
Ainda há o problema da forma como Lara Croft foi representada, com corpo, roupas e movimentos exageradamente sensuais, questões que não condizem a representação das mulheres nos games nos dias atuais. Tanto que Tomb Raider (2013) buscou levar uma Lara Croft menos sexualizada do que nos títulos originais.
4. Trilogia Prince of Persia (2003, 2004 e 2005)
Nos anos 2000, foi lançada a trilogia “Sands of Time” de Prince of Persia pela Ubisoft. Ela é formada por Prince of Persia The Sands of Time, Prince of Persia: Warrior Within e Prince of Persia: The Two Thrones. Os três jogos foram capazes de realizar um retorno digno para a franquia, que vinha esquecida e possuía como último lançamento o pouco inspirado Prince of Persia 3D, de 1999.
Há excelentes motivos que fazem a trilogia ser interessante mesmo nos dias de hoje. Entre eles, está a qualidade da narrativa e da história, a divertida mecânica de correr pelas paredes e a marcante trilha sonora.
Infelizmente, alguns pontos da trilogia envelheceram mal. Os gráficos, mesmo tendo sido feitos em uma boa engine na época, não impressionam. Prince of Persia: The Sands of Time, em especial, conta com um CGI fraco e modelos de personagens pouco trabalhados.
As mecânicas de combate do jogos são divertidas, mas, ao mesmo tempo, repetitivas, principalmente para os padrões atuais. Os puzzles eram e ainda são frustrantes, o que pode desanimar qualquer jogador. Por fim, há inevitável comparação com Assassin’s Creed, também da Ubisoft, uma vez que os títulos têm mecânicas muitos parecidas.
5. Max Payne (2001)
Max Payne de 2001 foi um jogo tão bem recebido na época que chegou a ser considerado como o melhor de todos os tempos. Trata-se de um game de tiro em terceira pessoa que chamou atenção principalmente pelo uso da mecânica chamada “Bullet Time”, que fazia com que o jogador visse o tiroteio em câmera lenta e tornasse o combate ainda mais interessante.
A história de Max Payne também possui suas qualidades, focando em elementos de histórias de detetive das décadas de 30 e 40, valorizando a atuação na dublagem e até utilizando de elementos de histórias em quadrinhos.
O que era muito elogiado no começo dos anos 2000 pode não ser mais tão impressionante mais de duas décadas depois de seu lançamento. Max Payne (2001) ainda conta com mecânicas de combate sólidas, mas o Bullet Time já não possui mais seu mesmo impacto. A história, lida com mais calma, também não envelheceu bem. O jogo não consegue levar realmente a sério o assassinato da família do protagonista e seu objetivo de vingança. Para piorar, alguns diálogos ainda apresentam muita misoginia na forma de se referir às mulheres.
6. God of War (2005)
O primeiro God of War, para PlayStation 2 (PS2), levou o gênero hack’n slash a outro nível. Sua gameplay é interessante, levando combates desenfreados carregados com muita violência, e que se destaca por possuir controles muito responsivos, tanto para atacar como para defender. A qualidade da trilha sonora e da dublagem são um espetáculo à parte até hoje, assim como suas cutscenes e a própria construção do protagonista Kratos, que não precisou de muita profundidade para ser um dos nomes mais lembrados dos videogames.
De uma forma geral, God of War (2005) envelheceu muito bem em boa parte dos seus quesitos, mas não se pode dizer o mesmo do ritmo apressado de sua narrativa, o que poderia não se encaixar na era atual, e de suas famosas polêmicas.
Há temas que não passaram despercebidos na época e que até hoje são lembrados de forma negativa. Alguns exemplos clássicos são os mini-games em que Kratos faz sexo com mulheres e a sexualização de personagens femininas, sempre representadas sem alguma parte das roupas. No final das contas, a figura controversa, mortal e impiedosa de Kratos foi substituída em God of War (2018) por um protagonista mais paciente, menos violento do que o original e que se destaca por seu novo papel de pai, mudança que agradou muitos fãs.
7. The Elder Scrolls V: Skyrim (2011)
Apesar de ser um jogo, de certa forma, recente, The Elder Scrolls V: Skyrim também entra na lista. Na época de seu lançamento, o título foi aclamado pela crítica. Entre as melhorias em relação a The Elder Scrolls IV: Oblivion, estão o divertido sistema de combate, o vasto mundo aberto e a direção de arte, foram pontos muito elogiados por todos. O RPG de ação serviu de referência para outros jogos do estilo e de mundo aberto que vieram nos anos seguintes, e foi neste momento que o título da Bethesda ficou um pouco para trás.
Para começar, a física e as animações dos personagens são travadas e nada naturais, detalhes que chamam muito mais atenção após mais de uma década. Seu mundo aberto era fantástico, mas somente para a época, haja vista que jogos lançados posteriormente, como GTA 5 e Red Dead Redemption 2, entregaram uma experiência de mundo aberto muito superior.
Sua narrativa, excelente em 2011, tornou-se fraca com a nítida evolução dessa característica nos games, como visto em The Witcher 3: Wild Hunt, por exemplo. Em resumo, Skyrim é e sempre será espetacular, mas é inegável que certas características não envelheceram bem.
8. Manhunt (2003)
Polêmico desde o lançamento em 2003, Manhunt se destacou pelo seu excesso de violência. O objetivo do jogo da Rockstar Games é, em resumo, cometer assassinatos sorrateiramente. Para piorar, sua atmosfera de terror psicológico apenas colabora em tornar o game ainda mais controverso.
Mesmo que tenha recebido alguns elogios da crítica e até mesmo prêmios na época, Manhunt recebeu uma gigantesca onda de comentários negativos, que afirmavam que o título não possuía desafios como outros jogos eletrônicos e que era carregado somente por uma violência cruel e realista, e que ainda mostrava detalhadamente execuções de personagens.
Manhunt foi banido em diversos países e até chegou a ser ligado a assassinatos na vida real. Apenas esse tema já seria o bastante para afirmar que o jogo envelheceu mal devido a tantas polêmicas que ele se envolveu. Somado a isto, suas mecânicas de combate são básicas, sem muita inspiração, o que torna um game repetitivo e ainda menos atrativo para os tempos atuais.
Vale destacar ainda Manhunt 2, de 2007, que recebeu as mesmas críticas sobre a violência excessiva, mesmo com censuras da Rockstar, e ainda foi massacrado pelos próprios fãs por ser uma decepcionante sequência.