Debate sobre linguagem neutra sai da esfera pública e começa a chegar em empresas privadas

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), tomada no último dia 10 de fevereiro, ao derrubar uma lei do Estado de Rondônia que vedava o uso da linguagem neutra nas escolas, aos poucos está deixando o debate na área pública para atingir também a esfera privada. É que a decisão abriu precedente em todo o país para a utilização da linguagem, também chamada de neo linguagem, já que ocaso é tema de debates pela internet há anos e seu uso se amplia no ambiente corporativo.

“Independentemente dos argumentos contrários ou favoráveis, uma questão é inegável: a maneira como nos comunicamos influencia diretamente a percepção das pessoas sobre outras e sobre si mesmas”, diz Andréa Migliori, fundadora e CEO da Workhub.

Estudos comprovam que esse formato linguístico afeta as representações mentais sobre os gêneros. O uso da linguagem “justa”, ou seja, que equipara o uso de termos masculinos e femininos através da neutralização, é recomendado por diversas instituições relevantes, incluindo a Unesco (desde 1999), Comissão Europeia (desde 2008), Associação de Psicólogos da América (desde 2009), entre outras.

No dia a dia corporativo, o tema também se faz mais presente, seja na busca incessante por igualdade entre homens e mulheres, seja nas metas de inclusão e representação da comunidade LGBTQIAP+. De acordo com os defensores da ideia, a linguagem neutra apresenta uma série de vantagens. Veja–as:

  • Valoriza colaboradoras mulheres e também pessoas não-binárias
  • Usar o masculino como norma padrão para “todos” desconsidera e até inferioriza o feminino, o que acontece os isso acontece frequentemente em discursos que se referem a muitas pessoas ou até em exemplos que partem do pressuposto masculino, como “o especialista”, “o gestor”, “o CEO”.

Em idiomas como inglês ou sueco, em que muitos pronomes já são naturalmente neutros, as alterações a favor da inclusividade são mínimas. No português, espanhol e outras, a situação se torna mais complexa, mas há mais opções. É possível utilizar versões adaptadas de pronomes, como “elu”, “amigue” ou ainda alterar o texto estruturalmente de modo que a aplicação de gênero nem seja necessária. Ambas opções são usadas com frequência.

Pesquisa da plataforma de aprendizagem Lingoda demonstrou que o interesse de profissionais no assunto é bem relevante: 55% das mulheres e 44% dos homens consideram que a linguagem inclusiva é importante no trabalho.

Agilizar essa abordagem nos diversos departamentos e dispositivos de uma empresa pode parecer complicado, “mas uma intranet de qualidade e já formatada com essa proposta resolve o problema com facilidade”, afirma a CEO da Workhub, cuja intranet funciona com linguagem neutra. Isso mostra que a empresa dialoga com as questões atuais, já que a linguagem inclusiva faz parte de um fenômeno político e de inclusão para que a comunidade LGBTQIAP+, entre outras, sinta-se representada.

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