Dia da Mulher: há 40 anos, futebol feminino começava a sair da marginalidade

Ao chegarmos neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, estamos em um ano de Copa do Mundo Feminina, que terá grande cobertura da mídia e jogos transmitidos em TV aberta. Vivemos o auge da projeção do futebol feminino, com mais valorização e melhor premiação, apesar de ainda sofrer com preconceito e falta de investimento. E há quarenta anos houve um marco na trajetória da mulher no futebol, quando o esporte começou a sair da marginalidade.

É importante lembrar que houve perseguição, criminalização e até exposição escusa do futebol feminino. Nos anos 1940, jogos entre mulheres eram atração de circo em Curitiba. Pouco depois desse acontecimento, o presidente Getúlio Vargas, em plena ditadura do Estado Novo, proibiu o esporte no Brasil. E por mais que seja inacreditável hoje, a lei só foi revogada em 1979.

Mas a primeira competição nacional surgiu apenas em 1983. Há quarenta anos, o futebol feminino ganhou a Taça Brasil. Disputada em apenas dois dias, 2 e 3 de julho daquele ano, quatro equipes fizeram semifinal e final em jogos de 70 minutos (dois tempos de 35). O campeão, que venceria também as cinco edições seguintes, foi o Radar, do Rio de Janeiro, praticamente sinônimo do esporte no País naquela época.

Hipersexualização do futebol feminino

Dominado por homens (até hoje), o jornalismo esportivo hipersexualizou o futebol feminino nos anos 1980. A célebre capa da revista Placar, à época o principal veículo esportivo do Brasil, com a jogadora Vandira, do Pinheiros (o clube que deu origem ao Paraná Clube), trajando a camisa azul tradicional e uma calcinha, é até hoje citada em estudos sobre o esporte. “Em momento algum eu soube que iria sair aquela foto, de calcinha, na capa“, disse Vandira, em 2018, numa entrevista ao g1.

Era uma tentativa de agradar ao público masculino, que se seguiu até meados dos anos 1990. Em agosto de 1995, a mesma Placar trouxe uma capa com modelos vestindo “uniformes” justos e cavados e a seguinte chamada: “Futebol Feminino: as garotas batem um bolão (e até trocam as camisas depois do jogo!”. Na página central, a imagem abaixo, com várias modelos – entre elas Ticiane Pinheiro – seminuas sugerindo uma troca de uniformes.

Hipersexualização do futebol feminino.
Era assim que a imprensa tratava o futebol feminino em 1995. Foto: Reprodução/Placar

De Sissi a Marta

O surgimento de uma jogadora extremamente técnica foi o segundo passo da afirmação do futebol feminino no Brasil. E não se fala ainda de Marta, mas sim de Sissi, que pavimentou o caminho para as últimas gerações da seleção brasileira. Entre 1988 e 2000, ela era a craque, a camisa 10, e seu estilo de jogo provocou o interesse pelo esporte. Considerada uma das maiores jogadoras da história, Sissi tem 56 anos e mora nos Estados Unidos.

Para manter o legado, surgiu a Rainha. A importância de Marta para o futebol feminino mundial ainda não pode ser medida, por ela ainda estar jogando. Mas os prêmios de melhor do mundo, as transações milionárias para a Suécia e depois para os Estados Unidos e os gols de placa fizeram dela uma personagem global do esporte. No Brasil, ela se tornou um símbolo do que o futebol poderia fazer para as meninas.

O futebol feminino hoje

Neste Dia Internacional da Mulher, vemos o futebol feminino cada vez mais forte. Ainda há muito a evoluir, porque existem severas distorções no esporte no Brasil, mas a visibilidade vem crescendo ano a ano. Neste 2023, houve até ‘passadas de perna’ na mídia pela nossa seleção. A Finalíssima, entre as campeãs da Copa América (Brasil) e da Eurocopa (Inglaterra) foi adquirida por SBT e ESPN, antecipando-se ao Grupo Globo, que detém os direitos do Brasileirão e da Copa do Mundo.

O desafio do futebol feminino hoje é ter um crescimento sustentável. Alguns clubes brasileiros – entre eles o Athletico – estão aumentando os investimentos no esporte. Outros, no entanto, apenas criam equipes por conta de uma obrigação da CBF de que os times da Série A tenham também um departamento feminino. Dos tempos de atração de circo e proibição por lei, avançamos muito. Mas a luta delas continua sendo a cada dia, por respeito e por isonomia. Nesses jogos, o Brasil ainda está perdendo.

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