Nesta quarta-feira (15), acontece o Júri Popular de Hitalo Marinho Gouveia e o réu foi interrogado nesta manhã, com intervalo para almoço e retornando pela tarde. Após o interrogatório, a promotoria do Ministério Público do Acre (MPAC) iniciou sua fala questionando quem estava sendo julgado neste processo e apresentou dados sobre feminicídio. Nesta fase do julgamento, a defesa e a acusação tem 1h30 para apresentar as teses.
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“Me perguntei quem estava sendo julgado neste caso, se o réu ou se era Adriana, que parece que está sendo culpabilizada pela morte dela”, iniciou a promotora Manuela Canuto.
“Infelizmente, quando as mulheres morrem, os réus, aqueles que esfaquearam pelas costas, estrangularam até a morte, culpam as vítimas. O que resta agora? Resta a família chorar. Lágrimas, que talvez nunca acabem e hoje se decide o futuro do réu, mas cadê o futuro da vítima? E do bebê, que hoje tem 2 anos e 3 meses? Qual o futuro que essa criança vai ter da mãe? Qual a lembrança que ele vai ter? Acabou”, disse.
A promotoria continua falando que “esse tipo de postura é típica. Os assassinos adoram achar culpados pelos seus crimes. Juridicamente falando, esse crime é feminicídio e esses crimes não são novidade”.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2022, 1400 mulheres foram assassinadas por seus maridos. “Esse número triste coloca o nosso país no quinto lugar de feminicídio. Segundo os dados oficiais de 2022, o Acre é o quarto estado que mais mata mulheres. Nada a comemorar, só a lamentar. Há diversas características desses crimes e algumas delas se evidenciam nesse processo”, disse a promotora.
A promotora seguiu falando que feminicidas podem ser pessoas “acima de qualquer suspeita” e “gente boa”.
“Adriana tinha 24 anos quando morreu, era uma jovem mulher que tinha o sonho de casar e ter uma família, que é o sonho de muitas mulheres. Adriana perdeu o pai muito jovem e teve que se virar: começou a trabalhar, trabalhou em casa de família, foi babá e dada sua desenvoltura com crianças, cuidava da criança de outras pessoas, talvez alimentando o sonho de ter um filho. Adriana foi crescendo e arrumou outro emprego no shopping, cuidando de crianças. Eu sou mãe e sei quanto ter filho, para uma mãe, é importante, sobretudo para quem desejou ter filhos e pautou sua vida com base nesse sonho”, disse a promotora.
O MPAC mostrou publicações nas redes sociais de Adriana Paulichen que contém fotos dela e do filho, com declarações para o pequeno. “Dizer que uma mãe ama seu filho é como chover no molhado, é óbvio. Dizer que uma mãe partiu para cima do seu filho, isso sim, é contra a natureza humana. Uma mãe também vira leoa, se for preciso. Essa é Adriana, aquela que tão jovem se relacionou com o réu, manifestou seu sincero e profundo desejo de ser mãe. Parece que a defesa coloca a Adriana como um monstro”.
A promotoria apontou a quantidade de pessoas para quem o réu ligou após matar Adriana. “Ele esfaqueou, estrangulou e deu mata leão na frente do filho e depois liga para 4 pessoas”.
O MPAC também falou que acha estranho a mãe de Hitalo ter feito um diário com as informações das brigas e agressões com o filho. A promotora também chama atenção para as falas que apontam que o relacionamento de Hitalo e Adriana era tranquilo antes da gravidez.
O promotor Thalles Ferreira disse, em sua fala, que Hitalo continua matando Adriana. “Antes de descobrir as traições, ele e todas as pessoas que estiveram aqui, disseram que Adriana era um amor de pessoa”.
O promotor Thalles perguntou como um rapaz, que serviu o Exército não conseguiu conter uma mulher com 1,58m e 54kg. “Não conseguiu conter uma mulher de 54 quilos, precisou dar duas facadas e estrangular ela. Ele é tão mentiroso e dissimulado porque perguntei se tinha mexido no corpo dela e disse que não. Ele conhece tudo desse processo”, destacou. O promotor também chamou Hitalo de “narcisista, perverso e egoísta”.
Segundo relatos de especialistas, as mulheres passam 34 situações de violência antes de romper com o abusador, seja moral, física, psicológica ou financeira. “Naquele dia, ela estava decidida a ir embora e ele conhece a necessidade que a vítima tinha em não ser abandonada. Ele é manipulador”, disse.
O promotor também mostrou imagens e disse que Hitalo mexeu no corpo e colocou panos nas feridas. “Colocou pano e gazes na ferida. Mexeu no corpo e fez tudo isso porque uma personalidade narcisista não aceita um não”, apontou.