Em entrevista ao colunista Matheus Pichonelli, do jornal UOL, o diretor do aclamado filme “Noites Alienígenas”, primeiro longo do Acre a estrear em cartaz nos cinemas brasileiros, contou sobre a experiência de gravar em solo acreano e opinou sobre o cenário sócio-político enfrentado atualmente no estado.
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Nascido no interior de São Paulo, Sérgio de Carvalho chegou ao Acre no início dos anos 2000. Formado em Cinema no Rio de Janeiro, o diretor encontrou na floresta amazônica uma maneira de iniciar seus trabalhos cinematográficos.
“Foi uma aventura. Não conhecia a região Norte, até então. Minha ligação eram os amigos da ayahuasca que viviam no Rio. Naquela época estava acontecendo muita coisa por aqui. Tudo era muito promissor. A bandeira era o desenvolvimento sustentável. As ONGs bombavam, e os povos tradicionais e indígenas estavam se fortalecendo. E eu era a única pessoa formada em cinema. Isso me permitiu viajar pela floresta. Era mais interessante estar aqui do que no Rio”, disse em entrevista.
Morando há 20 anos na capital acreana, Sérgio de Carvalho fundou a produtora Saci Filmes, responsável por gravar e produzir o filme “Noites Alienígenas”, premiado no Festival de Gramado de 2022, um dos mais importantes do país.
Noites Alienígenas é a adaptação do livro homônimo lançado por Sérgio de Carvalho. Após a vivência no Acre, o diretor aborda na obra o crescimento das facções criminosas do sudeste do país que fincaram raízes em terras acreanas, além da evangelização dos povos originários e o empoderamento feminino da mulher da Amazönia.
Em uma clara crítica ao ex-governo Bolsonaro [que teve mais de 70% dos votos proporcionais no Acre na última eleição], na entrevista, Sérgio faz um parâmetro do Acre que encontrou há 20 anos quando chegou, do atual cenário que o estado se encontra atualmente.
“Acabei de voltar da reserva Chico Mendes, em Xapuri. Estou com o coração partido. A coisa lá perdeu o rumo. A boiada passou, muita gente da reserva extrativista vendeu suas terras para fazendeiros de outros estados e o choque cultural, além da devastação, é muito grande”, declarou o diretor.