Em dias frios, é comum os aviões deixarem uma trilha branca no céu, que pode ficar lá por alguns minutos ou por várias horas. O que acontece depois com aquele material, no entanto, ainda foi pouco estudado pela ciência.
Estes rastros são chamados de “contrail”, abreviação de “condensed trail” (trilha condensada). O fenômeno ocorre quando os gases soltados pelos motores dos aviões congelam, formando cristais de gelo que podem ser vistos de longe. Geralmente, o fenômeno ocorre entre 8 km e 13 km de altitude.
O contrail tem gases como materiais particulados e óxido de nitrogênio e também poluentes como o dióxido de enxofre. Geralmente, o rastro não inclui CO2.
“Esta condição não tem impacto apenas no clima, mas também na qualidade do ar e na saúde pública”, explica Florian Allroggen, diretor de clima e sustentabilidade aeroespacial no MIT.
O pesquisador falou sobre o tema na assembleia geral da Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo), em Istambul. A entidade, que representa mais de 300 empresas do setor, lançou neste ano uma força-tarefa para reduzir as emissões de gases que não sejam o CO2, o que inclui estudar formas de reduzir o contrail.
A pressão por adequação das empresas vem especialmente da União Europeia. A partir de 2025, as companhias que atuam no continente terão de mapear e reportar suas emissões dos demais poluentes.
As companhias aéreas se comprometeram a se tornarem neutras em emissões de carbono até 2050, mas precisam detalhar melhor os planos para outros resíduos gerados pelos voos.
“A maioria dos contrails dura menos de dez minutos. No entanto, ele pode persistir quando a umidade do ar supera os 100% em relação ao gelo, e formar nuvens que podem durar até um dia”, analisou Roger Teoh, pesquisador do Imperial College de Londres, em um estudo sobre o tema, de 2020.
Estas nuvens de contrail também acabam refletindo a radiação solar de volta para a Terra, gerando um aumento de gases do efeito estufa que contribui com o aquecimento global, ainda que em pequena escala.
“Estratégias de rearranjo de voos em áreas supersaturadas de gelo parecem ser a solução de mitigação mais factível a ser implantada em curto prazo”, considera Teoh. Um estudo feito por ele apontou que 2% dos voos no Japão geravam 80% do total de trilhas congeladas, e que mudar as rotas de 1,5% dos voos cortaria o problema em 59%.
A formação das nuvens de contrail ocorre com mais frequência em áreas com grande quantidade de voos, como em rotas de aproximação de aeroportos. A Iata estima que menos de 10% dos voos gerem rastros do tipo.
Há também avanços no mapeamento das áreas e condições climáticas que favorecem a formação dos cristais de gelo, para que os aviões possam desviar delas. Algumas empresas na Europa já oferecem esse serviço.