Servidora pública e mulher trans, Rubby de Oxum se gradua Yalorixá no Acre

Rubby é servidora do Ministério Público do Acre (MPAC)

A servidora pública e militante do Movimento Social por direitos Iguais para a População LGBTQIAP+, Rubby Rodrigues, mulher trans, se tornou Iyálorìṣa, ou ialorixá – termo também conhecido como mãe de santo, no Acre.

Segundo Rubby, a religiosidade conservadora, discrimina e exclui as pessoas com identidade de gênero e orientações sexuais que diferem do padrão hétero cisgênero. No Acre, alguns Bàbálòrìsà ou babalorixás – também conhecido como pai de santo, não incluem mulheres e homens trans de acordo com o que se reconhecem em seus terreiros e casas de candomblé.

Quando Rubby iniciou no candomblé. Foto: Cedida

“Com isso, muitas pessoas trans precisam rejeitar sua própria identidade para fazer parte dos cultos afro-religiosos, assim como em outras igrejas também é necessário que pessoas trans e homossexuais rejeitem as suas identidades ou orientações sexuais para poderem seguir essa fé”, explica.

No Acre, Rubby foi iniciada no candomblé sendo reconhecida como mulher. Segundo ela, o Babalorixá Germano Marino de Oxum, que fez sua iniciação, sofreu grandes críticas e perseguição por ser um pai de santo inclusivo. “Ele entende que as identidades não tem nada a ver com a fé, que é algo que está no coração e não as roupas ou forma de se expressar”, disse.

Festa em homenagem as orixás yabas. Foto: Cedida

Após 7 anos de iniciação no candomblé, a pessoa recebe o grau de ialorixá, se for mulher, e babalorixá, se for homem. A servidora pública conta que passou pelo ciclo da iniciação e tomou a obrigação de ialorixá no último final de semana.

Rubby lembrou que desde 2012 frequenta o candomblé e que sempre via o babalorixá sofrer preconceito e retaliações por incluir pessoas trans.

“Eu cumpri com as obrigações de 7 anos, dentro do candomblé. Eu não conclui aqui no Acre, foi em São Paulo, com outro babalorixá”, explicou.

“ Dona Menina, minha Rainha, a que me faz ser feliz e forte todos os dias”, diz Rubby. Foto: Cedida

“Quando eu sai do Axé de Oxum, por razões pessoais, não consegui me firmar em nenhum outro terreiro por conta da minha identidade de gênero, foi através da internet que encontrei o Bàbá Ofalomí em São Paulo, que me acolheu de forma amorosa e me preparou e me graduou com o Odu Ejé (obrigação de 7 anos) e está comigo até agora”, lembrou.

Rubby contou ao ContilNet que o terreiro que ela é responsável fica na Baixada da Sobral, em Rio Branco. “Eu tenho aproximadamente 35 filhos de santo, entre os que frequentam e os que não frequentam regularmente. O meu terreiro abriu em 2021 e desde lá eu venho tocando, comecei tocando umbanda e agora com a minha graduação no candomblé irei cumprir com os ritos e obrigações dessa religião”, disse.

Rubby quando completou o Odu Ejé (obrigação de 7 anos de iniciação). Foto: Cedida

A servidora pública disse que além de um sentimento de orgulho, é também um sentimento de libertação. “Eu sempre fui apontada como a transgressora da religião, mas eu sempre tive uma integridade moral e física preservada. Nunca fui uma pessoa que usou a religião de forma errada, assim como tem outras pessoas que utilizam. Eu sempre cumpri tudo direitinho, de acordo com o que os orixás e os guias espirituais me indicam e orientam. Nesse período todo eu sempre fiz o que meus orixás e Dona Menina, me indicavam e consegui vencer esse ciclo e a transfobia das pessoas”, disse.

Segundo a Iyálorìṣa Rubby de Osún, nos terreiros de candomblé e casas de umbanda, “homossexuais e lésbicas são aceitas, já as pessoas trans só são aceitas desde que rejeitem a sua identidade de gênero, ou seja, para uma mulher trans, ela tem que usar roupas masculinas e para um homem trans fazer parte, tem que usar roupas femininas”.

A servidora pública afirma que a situação não tem nada a ver, visto que o orixá não é uma vestimenta. “O orixá é a simplicidade, o amor, nosso coração, nossa dedicação e a nossa fé. Só que muitos ainda estão enraizados dentro de padrões baseados em tradições escravagistas, misoginia, machismo e outros conceitos, que oprimem as pessoas trans nesse sentido”, diz.

Rubby lembra que apesar dos preconceitos e discursos de ódio praticados por alguns, a religião é a prática do bem. “Nossa religião não é do diabo, ela é do amor e da inclusão dos excluídos, porque nossa religião foi e ainda é todos os dias apontada como demonizada, todos os dias nós sofremos com intolerância religiosa. Eu quero passar essa mensagem: nossa religião é transformação de vida, mudança de hábitos, de comportamentos, é paz amor, consideração ao próximo, assim aconteceu comigo quando conheci o verdadeiro sentido da fé. As religiões não são ruins, são as pessoas que estão à frente delas que acabam destruindo a imagem de Deus e excluindo a nossa população LGBTQIAPN+. Que a gente possa exercer nossa fé em qualquer espaço, independente de orientação sexual ou identidade de gênero”, finaliza.

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