No comecinho da carreira, Reynaldo Gianecchini sentiu na pele o modo Zé Celso Martinez Corrêa de fazer teatro. E recuou. Havia uma orgia no meio do caminho, e o ator se recusou a fazê-la. Isso foi em 1999, em “Cacilda!”, peça que celebra Cacilda Becker.
No início do segundo ato, com Cacilda entre os atores de um espetáculo de vanguarda em Nova York, todos começam a se masturbar. Gianecchini pediu para não fazê-la. Não se sentia preparado, ficaria envergonhado quando sua família fosse vê-lo no palco.
Zé Celso entendeu. Ele topou refazer a cena e, enquanto o elenco ficava todo pelado, Giane acompanhava a orgia e a masturbação coletiva trajando um elegante smoking, numa cena inspirada em “De Olhos Bem Fechados”, filme de Stanley Kubrick daquele mesmo ano.
Mais de 20 anos se passaram e, em 2021, Gianecchini e Zé Celso se reencontraram em “Fedro”, dirigido por Marcelo Sebá. O filme, uma longa conversa de travesseiro regada a vinho tinto e baseados, propõe um diálogo (a maior parte do tempo com os dois na cama, deitados) entre o diretor e o ator. Assuntos em questão: libertação, desejo, tesão pelo teatro.
O ator mostra-se constrangido quando Zé Celso sugere que ele tire a roupa. Reluta, mas por fim aceita. “Tá, vou tirar a roupa aqui embaixo da coberta, tudo bem?”, pergunta, tímido.
Só contornos aparecem, e o papo entre os dois continua assim, com Giane sob o edredom, enquanto o dramaturgo, morto na manhã desta quinta-feira (6), anda pra lá e pra cá nu, à vontade. “Trabalhar com ele de novo foi muito desafiador”, disse o ator, em entrevista, na época do lançamento de “Fedro”.