O dia 9 de julho é conhecido como o dia do médico oncologista, especialidade que trata pacientes diagnosticados com câncer. No Acre, o tratamento de câncer é feito pela rede pública, através do Sistema Único de Saúde (SUS) e pela rede privada.
A médica Lyvia Bessa, formada na Universidade Federal do Acre (Ufac) em 2008 e que atua na oncologia há 10 anos, conta que nessa área os médicos lidam com pacientes em uma fase delicada. “Não é só aquela pessoa, é aquela família inteira e você precisa ter muita sensibilidade para entender as prioridades daquela pessoa, daquela família. Antes mesmo de impor o seu tratamento, porque de um lado você, oncologista, quer tratar aquele paciente, quer curar, quer diminuir o sofrimento, quer prolongar a vida, mas você tem o impacto de tudo que você fala e faz naquela vida, naquela família”, explicou.
Além disso, Lyvia conta que entender as limitações como médica é importante. “Quando eu aprendi a ver isso, a enxergar vitórias nisso, e não só na cura ou evitar a morte, a oncologia foi se tornando leve ao fim de cada dia de trabalho. No fim de 12 horas seguidas de trabalho fica em mim aquela gratidão por cada pessoa que ajudei, que saiu com um sorriso, que disse que estava melhor, um agradecimento que recebi da família. Isso me deixa bem ao fim do dia e renovada para atender no outro dia”, acrescentou.
A médica acreana contou ao ContilNet que logo após formar médica, sabia que queria ser clínica e por isso já entrou na residência de clínica médica, que é pré-requisito para sub-especialidades, como a oncologia.
Durante a residência de clínica, Lyvia começou a dar plantão como médica na emergência do Hospital do Câncer e começou a se identificar com o atendimento a pacientes oncológicos e por isso decidiu fazer o estágio opcional da residência nessa área.
“Passei um mês no Icesp, Instituto do Câncer de São Paulo, vendo só oncologia e então me apaixonei pela área e a foi a única sub-especialidade que fiz prova. Logo que formei, pensava em fazer medicina interna para trabalhar em Unidade de Terapia Intensiva (UTI)”, disse.
Atualmente, a médica acreana trabalha no SUS no Hospital do Câncer do Acre e na rede privada no INCAM (antiga Oncoclínica). Segundo ela, uma das coisas mais difíceis de trabalhar nessa área é lidar com pacientes jovens. “Eu sei que eu acho que não conseguiria fazer oncologia pediátrica, mas mesmo atendendo só adultos, quando eu atendo pacientes muito jovens, de 19 ou 20 anos, ou mães jovens com crianças pequenas, isso me dá um entalo na garganta e mexe particularmente comigo desde que me tornei mãe”, explicou.
Mesmo com essas situações e lidar com a morte de pacientes, Lyvia afirma que jamais pensou em desistir e apenas incentiva a estudar e pesquisar cada vez mais, além de trabalhar mais para levar o melhor que puder para os pacientes.
Para Lyvia, a importância da oncologia na medicina está justamente com o aumento dos casos e diagnósticos. “Nós sermos capazes de atender esses pacientes, oferecer tratamento e cuidar deles é uma das coisas importantes. Acho que o grande avanço que a gente precisa ter é em garantir acesso aos pacientes, sobretudo do SUS aos novos tratamentos e melhorar o rastreamento, fazer com que os exames disponíveis para rastreamento naquelas doenças que tem rastreio, que não são todos os tipos de câncer que tem, para que a gente possa detectar mais precocemente as doenças, porque a gente ainda detecta em fases avançadas e isso diminui as chances de cura”, explicou.
Aumento de diagnósticos
A médica acreana explica que já existia essa previsão de que os casos de câncer iriam aumentar ao longo das últimas décadas. “Acho que uma coisa que impactou em maiores diagnósticos foram os avanços nas tecnologias. A população também está mais informada e a gente acaba que está diagnosticando mais. Antes, pacientes às vezes morriam sem diagnóstico, sem ter acesso a exames e diagnóstico. É claro que o estilo de vida da população tem aumentado alguns tipos de câncer”, explicou.
Lyvia disse ainda que a oncologia ainda precisa avançar e hoje em dia há grandes avanços em tratamento. “É inegável que a oncologia ainda precisa avançar em garantir o acesso a pacientes, sobretudo do SUS, a esses novos tratamentos e voltando assim para o diagnóstico, a gente infelizmente ainda diagnostica a doença em fases muito avançadas, o que impacta mais na necessidade de mais tratamentos e na menor chance de cura. Então a gente ainda precisa avançar no rastreamento”, finalizou.