Envolvido em operação da PF por grilagem no Acre foi condenado pela morte de Dorothy Stang

Religiosa norte-americana foi morta no sudeste do Pará, em 2005, num crime agenciado por Amair Feijoli, que passou a viver no Acre desde 2020

Um dos presos das “Operações Terra Prometida” e “Xingu”, desencadeadas pela Polícia Federal nos Estados do Acre e do Amazonas na manhã desta terça-feira (29) de agosto, e que resultou no cumprimento de 35 mandados judiciais expedidos pela Justiça Federal, é o pecuarista paraense Amair Feijoli, conhecido como Tato, condenado a 18 anos de prisão por envolvimento como agenciador de pistoleiros na morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, no Pará, em 2005.

No Acre, o acusado, que vivia na região de Sena Madureira após cumprir pena de prisão pela morte da religiosa no Sul do Pará, em Anapu, é investigado como invasor de terras.

SAIBA MAIS: PF cumpre 35 mandados contra grupos suspeitos de grilar e desmatar terras da União

As terras das quais o criminosos pretendia se apossar e as quais chegou a batizar como o nome de Fazenda Canaã, o que explica o nome da Operação da PF desta manhã, pertence à União e fica dentro da floresta estadual do Antimary (FEA), que está ocupada atualmente pela família de Feijoli. Além de Feijoli, um filho dele sempre teve problemas com a polícia desde que a família chegou ao Acre e passou a habitar parte da zona rural de Sena Madureira.

Na operação desta terça-feira, a Polícia Federal cumpre um total de 35 mandados expedidos pela Justiça Federal do Acre e do Amazonas contra grupos suspeitos de grilar e desmatar áreas de propriedade da União. O objetivo da Operação, segundo a PF, é reprimir organização criminosa destinada à prática de crimes de desmatamento, invasão de terra pública, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

Moradores e extrativistas da Floresta Estadual do Antimary relataram, nas primeiras denúncias, intenso desmatamento para a venda ilegal de madeiras nobres e abertura da floresta para transformação em pasto de criação e engorda de gado.
O total da área invadida pela família Feijoli é de 598 hectares, o que corresponde a quase 600 campos de futebol, cuja maior parte já foi totalmente desmatada ao longo de anos . Somados os desmatamentos cometidos pelos antigos e atuais invasores, o prejuízo ao meio ambiente alcançou um valor aproximado de R$ 18 milhões de reais, avalia PF.

Nas duas operações de hoje, foram cumpridos quatro mandados de prisão preventiva, 25 mandados de busca e apreensão e seis mandados de proibição de acesso e frequência à área Floresta Estadual do Antimary. Feijoli e seu filho, que já possuía um mandado de prisão expedido pela Justiça de Sena Madureira, por tentativa de homicídio, estão entre os presos.
Feijoli ou Tato cumpriu parte dos 18 anos por intermediar a morte de Dorothy Stang. Segundo a Justiça do Pará, foi ele quem contratou os pistoleiros Rayfran e Clodoaldo Carlos Batista para assassinar a religiosa, missionária a mando de Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão.

Dorothy Stang. Foto: Reprodução

Dorothy Stang, norte-americana naturalizada brasileira e que vivia entre os extrativistas paraenses, foi morta a tiros em Anapu, Sudoeste do Pará, por lutar pela reforma agrária. Ela coordenava projetos de uso sustentável da floresta em áreas de assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e sofria ameaças de madeireiros na época.
Antes de ser preso nbo Acre, Amair Feijoli respondia por acusações de agre4ssões e ameaças a posseiros vizinhos. Um dos vizinhos chegou a acusa-lo formalmente de se apropriar de uma área de terras que ele comprou há dois anos no Ramal Cassirian, zona rural do município de Sena Madureira. Após a compra, o agricultor afirma que Amair começou a invadir uma área de 5 mil hectares que fica próximo da terra dele e acabou tomando sua propriedade também.

O homem havia dado uma paulada na cabeça de Amair, pai de Patrick, após cobrar uma dívida por uma terra que Amair teria tomado. Ele acabou baleado no tórax e na barriga. Ele passou por cirurgia em um hospital de Rio Branco e já se recupera em casa, na zona rural de Sena Madureira.

O agricultor registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Sena Madureira. A defesa de Amair Feijoli e de Patrick da Cunha alega que os disparos foram feitos para tentar evitar que Amair fosse morto durante a briga.

O morador acusa Amair também de ameaçar quem vive na região. Disse que ele anda armado e com segurança para intimidar os agricultores.

Foto: Reprodução

O advogado Ayres Dutra, que representa a família de Amair Feijoli, procurado pelo Contilnet, não foi localizado. Em defesa anteriores, o advogado tem dito acrescentou ainda que os casos envolvendo seu cliente serão esclarecida para que a justiça seja feita.

Em janeiro de 2021, um grupo de 40 pessoas, entre moradores e invasores da Unidade de Conservação Ambiental Floresta Estadual Antimary (FEA), localizada na BR-364 entre Sena Madureira e a cidade do Bujari, no interior do estado, procurou a Promotoria de Justiça da cidade para denunciar que Amair tinha se mudado para uma fazenda na localidade e estaria fechando alguns ramais (estradas de terra), retirando madeira ilegalmente e criando gado.

Na época, ele virou alvo da Polícia Civil e do Ministério Público do Acre (MP-AC) por desmatar uma área de 600 hectares, além de criar gado e ameaçar moradores e outros invasores da área protegida. O Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA), Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) e Secretaria de Meio Ambiente Estadual (Sema) também apuravam denúncias, na época, contra a filha de Amair, Patrícia Coutinho da Cunha.

Ela é quem se apresentava como dona das terras que, supostamente, o pai teria invadido e desmatado. A família de Amair Feijoli se mudou para o Acre em 2020. Ele, no entanto, continua mantendo residência no Pará, onde também teria terras.

Em maio deste ano, o Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA) e o Grupo de Comando e Controle coordenado pela Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) foram mais uma vez à Unidade de Conservação Ambiental Floresta Estadual Antimary (FEA) apurar denúncias de crimes ambientais.

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