Ponte. Se há substantivos tão importantes na língua portuguesa que abrem caminhos este é um. A ponte combina com comodidade, com cidadania e com união. Ela simboliza a junção de duas pessoas ou de comunidades inteiras em favor de um único ideal: a integração social e econômica.
Esta reportagem tem como objetivo retratar os esforços de um governo que em 2022, iniciou no Acre pós-pandemia da Covid-19, um esforço para levar cidadania a quem mais precisa: famílias inteiras isoladas nos mais profundos rincões deste estado.Por duas semanas, o ContilNet percorreu trilhas, andou em ramais, colheu depoimentos preciosos e ouviu das pessoas, sejam colonos, pescadores e ribeirinhos, sejam pequenos e médios agropecuaristas, os seus maiores anseios: a saída do isolamento com a oportunidade de levar seus familiares a um posto médico ou a uma diversão na cidade, tornando suas vidas mais felizes, por meio desse elo de ligação tão imprescindível sobre rios e igarapés.
Esse texto retrata situações como a vivida por José Xavier, mais conhecido como Seu Chita, o ex-balseiro sena-madureirense que não perdeu a esperança, cinco décadas depois, de ver seu município sendo ligado por uma moderna estrutura de aço sobre o rio Iaco. Ou do verdureiro Manoel Santos, de Xapuri, que não vê a hora de passar com seu coentro e o cheiro-verde sobre a ponte que liga o primeiro distrito à Sibéria (o nome do ex-seringal localizado na margem esquerda do rio Acre e hoje transformado em bairro).
Manoel Santos e a Sibéria
Manoel nasceu de família pobre. Seu sobrenome paterno Santos, ele herdou do pai que retornou à Bahia. E da mãe, a herança recebida foi a coragem de trabalhar. Manoel foi um dos moradores da Sibéria a ouvir do governo que a ponte que liga a sua comunidade à cidade de Xapuri (a 130 quilômetros de Rio Branco) deverá sair em breve.
“Seu menino, parece coisa de outro de mundo, mas eu sei que não é. Ela é do nosso mesmo. Uma ponte aqui ligando a Sibéria ao outro lado era algo fácil se os políticos passados tivesse (sic) interesse. Mas hoje, eu ouvi falar que esse governo que está aí vai fazer isso. Tomara, porque tudo é muito difícil para nós aqui”, diz Santos ao ser perguntado pelo ContilNet sobre como ele vê a situação de utilizar a balsa, toda vez que vai vender quibes com refrescos em Xapuri.
“Nasci aqui e aqui quero morrer. Não estou sendo orgulhoso. Mas acredito que antes de mim, tem muito mais gente querendo ver essa ponte. Imagina quanta lindeza será ver tudo lá da ponte”, completa o trabalhador. “Dá até pra namorar em cima dela”, gargalha.
A ponte da Sibéria em Xapuri será construída com técnica moderna de balanços que compensam a falta de apoio para escoramentos comuns, como é o caso em que existem grandes volumes de água e a correnteza é muito forte. As informações são do engenheiro Leandro Braga, um dos profissionais do Consórcio Rio Acre, responsável pela obra.
A obra da ponte da Sibéria está orçada em R$ 40 milhões, dos quais R$ 15 milhões são de recursos próprios do governo do Estado do Acre. Os demais R$ 25 milhões vieram de emenda parlamentar.
Em Sena Madureira: ponte sobre o Iaco mudará a realidade de uma comunidade inteira
Um sonho antigo de uma das regiões mais tradicionais do município de Sena Madureira (distante 144 quilômetros de Rio Branco), está em vias de se tornar realidade. O Segundo Distrito que engloba as comunidades São Francisco, Niterói e Quintal Florestal, que por décadas só contou com balsa e catraias para se comunicar com a maior parte do município, vai finalmente ser conectado com o Primeiro Distrito da cidade por meio da nova ponte sobre o Rio Iaco, em fase de finalização.
Em 2022, o governo do Estado do Acre deu início às obras da mais importante construção de mobilidade urbana em Sena Madureira, com investimentos próprios de quase R$ 40 milhões, e que devem beneficiar mais de 2,5 mil moradores. Planejada para ser entregue no período de dois anos, a segunda ponte sobre o Rio Iaco terá 232 metros de extensão, com rampas de acesso de 352 metros, e já está quase 80% concluída.
Segundo o governador Gladson Cameli, a estrutura é um presente para a população e a concretização de uma promessa. “Estou cumprindo um papel de melhorar a vida das pessoas, como prometi desde o meu primeiro dia de mandato. Essa obra está saindo em meio a inúmeras dificuldades, por conta da queda do FPE (Fundo de Participação dos Estados e Municípios), mas isso não desanimou a equipe”, destacou o governador.
A obra também é tida pelos moradores como um importante passo para o desenvolvimento da comunidade, que espera com grandes expectativas pela inauguração do empreendimento, um sonho de mais de 50 anos.
“É um sonho de mais de 50 anos. Dormia com tudo isso e não sabia que um dia essa ponte pudesse sair. Sinto alívio por saber que agora vai se tornar realidade e não vai mais ser preciso descer o rio para pegar catraia e atravessar”, declara animado Chita o ex-catraiero que enxerga um panorama promissor para todos que moram na região.
Ele conta que teve o privilégio de acompanhar as mudanças trazidas pela construção da primeira ponte; E que agora aguarda ansioso pela conclusão da nova estrutura.
Com a ponte, a travessia que atualmente é feita por duas catraias, funcionando em horários específicos, poderá ser feita de forma contínua e com o tráfego de veículos liberado a qualquer hora do dia. O turismo e o comércio serão alguns dos setores que mais se beneficiarão com a estrutura, mas toda a comunidade sentirá os impactos positivos na qualidade de vida.
“Os moradores estão muito animados, empolgados com as melhorias que a ponte vai trazer para a vida deles. Todo dia tem gente passando e perguntando quando vamos entregar. Já estamos em fase de finalização, com a força de todos os funcionários vamos vencendo”, conta Gilberto, um trabalhador da obra.
Uma breve história do 2º Distrito de Sena Madureira
O bairro do Segundo Distrito tem mais de 100 anos de fundação e muitas pessoas dependem exclusivamente das catraias para acessar o centro da cidade, seja para estudar, trabalhar ou realizar atividades cotidianas que podem se tornar ainda mais acessíveis com a utilização da estrutura. A conexão do Primeiro e Segundo Distrito, para quem vive na região, é um momento histórico.
Seu Chita, que também é comerciante, está empolgado com o andamento das obras. Ele espera que a ponte possa aumentar o fluxo de pessoas e que, consequentemente, novos clientes possam ter acesso aos seus produtos, uma vez que está implantada no porto da Feira Livre dos Colonos, um importante comércio local. “Esse lugar tem um grande potencial, é um patrimônio. Estávamos aguardando por isso há muito tempo”, comenta.
Além de facilitar o acesso, a mobilidade e trazer bem estar para a população, a construção também deve se tornar o mais novo cartão postal da cidade de Sena Madureira, popularmente conhecida como a princesinha do Iaco, e que atrai turistas de todo o estado, sobretudo, durante as festividades do Festival do Mandim e Expo Sena.
Nem só de ponte vivem as pessoas
A obra da ponte sobre o Rio Iaco é um dos diversos investimentos do governo do Estado em Sena Madureira. Portanto, outro importante empreendimento é o novo hospital, em processo de construção.
“Vencemos o desafio e essa obra será finalizada [referindo-se à ponte], assim como a do Hospital de Sena. Queria muito estar aqui inaugurando o hospital, mas algumas situações fogem do controle de quem está fazendo a obra. Esse compromisso eu não vou deixar de assumir. Estamos trabalhando com as equipes da SEOP (Secretaria de Obras Públicas) para retomar os serviços paralisados, concluindo todos no tempo mais breve possível. A necessidade é vida”, declarou Gladson Cameli durante visita no município.