A arrumadeira e babá Maria Verônica Costa Correia, 39, diz não ter dúvidas de que seria vítima de um estupro se o motorista e os passageiros de um ônibus não tivessem impedido o suspeito, procurado pelo 26º Distrito Policial, no Sacomã, zona sul de São Paulo.
O que dizem vítima e motorista
Moradora do bairro Vila das Mercês há 14 anos, quando se mudou de Pernambuco para São Paulo, Maria estava indo para o trabalho quando foi violentamente abordada. “Ele chegou me xingando, me jogando na parede e mandando eu calar a boca”, disse ela ao UOL.
A vítima conta que pensou que fosse um assalto. “Mas vi que não era porque ele mandou que eu subisse a ladeira como se fosse a mulher dele, que era para eu não abrir a boca e não dar sinal.”
O motorista Paulo Jorge de Sousa, 64, pensou que fosse uma briga de casal e parou o ônibus. “Ela estava caminhando sozinha, aí ele passou e começou a segui-la. Na hora certa ele apertou o passo, e eu só olhando… Aí quando abordou de forma brusca, eu pensei: ‘briga de casal'”, afirmou ao UOL.
“Ai eu parei, abri a porta e falei: ‘Moça, sua bolsa está no chão. Está tudo bem?'”, conta Paulo. “Aí ele colocou a mão na cintura dela e a obrigou a caminhar. Eu achei estranho e fui acompanhando bem devagarzinho.”
Maria diz que na hora “travou”. “Ele me deu uma perfurada nas costas, e saí com ele caminhando, mas consegui fazer um sinal com a mão. Eles, do ônibus, gritaram: ‘Está tudo bem aí?’.”
E ele disse: ‘Se você abrir a boca, vou estourar suas costelas’. Não sei o que ele estava segurando. Era algo perfurante: podia ser faca, canivete, estilete. Chegou a furar minhas costas. Maria Verônica
Quando os dois viraram a esquina, o motorista perguntou novamente se estava tudo bem, e a vítima fez um sinal negativo com a mão. “Aí eles partiram para cima e me tiraram. Eu estava travada, não estava mais em mim”, afirma.
A única coisa que ela se recorda é que o homem falava que não era “para se meter”. “Disse que eu era mulher dele, que era briga de casal, mas eu não conseguia falar nada”, revela Maria.
Segundo o motorista, o homem soltou a vítima, e uma passageira —que desceu para ajudar— a colocou no ônibus. “Ela estava em pânico, em choque. Ela sentou no assoalho do ônibus por dois minutos, quando conseguiu falar.”
O motorista perguntou à vítima se o rapaz era seu marido. “Ela disse que nunca o tinha visto. E ele sumiu. A gente não foi atrás porque achava que era briga de marido e mulher”, conta Paulo.
Ele [motorista] foi um anjo. Quando o vi novamente, caí no choro. Se não fosse isso, não sei o que teria sido de mim. Deus botou um anjo na minha vida. Maria Verônica
Homem detido não foi reconhecido
Por volta das 12h de hoje, ela e o motorista foram levados à delegacia para reconhecer um suspeito detido, mas disseram que não era ele. “O rosto, aquele olho preto dele… Se eu o vir, eu reconheço”, diz Maria, que faz aquele trajeto todos os dias para ir ao trabalho.
Paulo também se lembra dos detalhes. “O rapaz era baixo, forte, cavanhaque e tatuagem nos dois braços. Estava com um celular grande.”
Espero que consigam pegá-lo, que tenha justiça, porque é triste, só sabe quem passa. Maria Verônica
Suspeita é de estupro, diz delegada
Para a vítima, o motorista e a delegada Cibele Flor, o homem pretendia praticar um estupro. “Ele não demonstrou interesse pela bolsa da mulher, que caiu no chão, e ele seguiu andando”, diz Flor.
Como o homem detido pela polícia não foi reconhecido pela vítima e pelo motorista, as investigações continuam. “Temos novos elementos, mas ainda precários. Continuamos investigando”, informa a delegada.