Remanescente dos movimentos estudantis e políticos da Bahia do início dos anos 2000, o Coletivo Quilombo é presente nos espaços políticos de Rio Branco há alguns anos, porém, depois de dissidências e baques por um período político conturbado, em 2023, a organização se encontra em um período de renovação.
Na última quinta-feira (14), o psicólogo social Rodrigo Paiva, 25, conversou com o ContilNet sobre este momento, ações práticas e metas do coletivo para o futuro. Rodrigo é muitas coisas, além de psicólogo social, militante convicto, ele desenvolve ações no NEPSE (Núcleo de Estudos, Extensão e Pesquisa Psicossocial Euclides Fernandes Távora) e no Comitê Chico Mendes.
“A gente pensa em movimento estudantil, como no passado, mas a gente pensa para além, a gente pensa no combate à injustiças sociais, ao racismo ambiental e estrutural, na aprovação de direitos das pessoas LGBTQIAP+, das mulheres, da população de periferia, os ribeirinhos urbanos, que moram nas proximidades de igarapés dos rios da cidade. A gente pensa nos extrativistas, nos povos indígenas. É essa pessoa que a gente quer pensar”, explica Rodrigo.
Caso você pesquise pelo termo Quilombo na internet, pode achar a seguinte definição: “Consistem em grupos que desenvolveram práticas cotidianas de resistência na manutenção e reprodução de seus modos de vida característicos e na consolidação de um território próprio”, como encontrado no site do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Rodrigo conta que em agosto de 2023 ao se aproximar de Júlia Feitosa, uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores no Acre e do Comitê Chico Mendes, e de Sarah França, foi engajado a ajudar no fortalecimento e facilitação da organização.
“Na verdade, a minha intenção é facilitar que as próprias pessoas da organização consiga identificar o seu líder, consiga ter uma gestão do coletivo consiga organizar os seus encontros e suas reuniões, então eu busco facilitar alguns processos de mobilização de saúde psicossocial”, reflete Rodrigo sobre suas atribuições dentro do Coletivo.
Júlia Feitosa é a coordenadora dessa retomada do coletivo como movimento de esquerda popular socialista, corrente político do Partido dos Trabalhadores, depois da evasão de muitos participantes e de um governo, como afirma Rodrigo, totalitário, conservador e de direita. Como o psicólogo fala, este é um momento onde você é impelido a cuidar dessas pessoas que querem fazer parte.
“Só sabe quem vive essa realidade, então, a gente também vê a necessidade da gente poder falar dessa nossa realidade, né?”, Rodrigo responde ao falar sobre as ações do Coletivo que, neste momento, visa a participação em eventos estaduais e nacionais como a Semana Chico Mendes e o congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes).
Outro objetivo, é a construção de quatro diretorias dentro do Coletivo – uma sobre Letramento Étnico-Racial e Político, outra sobre Escrita e Manifesto, uma sobre Movimentos Culturais e Atividades Culturais e, uma quarta sobre articulação e Mobilização para Encontros sobre Direitos Humanos e Justiça Climática.
Através de rodas de conversa e atividades que combatam preconceitos e desinformações sobre o modo de vida amazônico, o Coletivo Quilombo busca uma noção de política de cultura política nova e, principalmente, jovem.
Rodrigo acredita, por exemplo, na construção de uma chapa coletiva e majoritariamente composta por jovens. Para isso, ele afirma que é necessário se firmar com partidos políticos que conversem com as lutas do Coletivo Quilombo.
Na sua última fala, Rodrigo aborda como o estado pode ser diverso em política e em lutas sociais e, essencialmente, isso pode ser apenas o começo de uma nova história.
“ Então é isso, somos um território que não tem, por conta da sua própria história, condição de ser coadjuvante em qualquer história. Eu acho que o Acre tem condições, pelo sangue do povo, de ser protagonista nas políticas, mas na política que preserve a Amazônia, que pensa os povos tradicionais e indígenas”.