Órfã, jovem em situação de rua é aprovada em 1º lugar em vestibular de universidade pública

Vanusa perdeu os pais cedo, viveu nas ruas de Ponta Grossa e vendeu paçocas para sobreviver; hoje, comemora a realização de um sonho

Aos 11 anos de idade, a então menina Vanusa Jaqueline dos Santos enfrentou uma das piores dores que alguém pode sentir: a morte da mãe — em um acidente de trânsito. Sete anos mais tarde, quando completou 18 anos, “viu” seu pai morrer após uma árdua luta para vencer um câncer em estágio avançado. Agora, aos 21, a jovem que ficou órfã e vive em Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná, comemora a realização de um sonho: a aprovação em 1º lugar no curso de Letras da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

Natural de Reserva (PR), cidade com pouco mais de 26 mil habitantes e situada a cerca de 220 quilômetros de Curitiba (PR), Vanusa passou a maior parte da vida sendo criada pelos avós maternos. A mãe a visitava com certa frequência, mas a morte precoce dela – aos 25 anos – impediu o fortalecimento de alguns vínculos entre ambas. A decisão de morar com o pai foi tomada quando ela tinha 16 anos. Embora tenha convivido pouco com ele, Vanusa sorri ao se referir ao pai como um “homem determinado”.

Órfã, jovem em situação de rua é aprovada em 1º lugar em vestibular de universidade pública do Paraná

A jovem Vanusa Jaqueline dos Santos, aos 21 anos – Foto: Reprodução/@vanusa_jaqueline no Instagram

Mesmo após ter concluído o ensino médio na época em que o pai morreu, a jovem se viu diante da iminência de viver nas ruas, onde ela diz ter encontrado uma “alternativa para sobreviver”.

Por falta de estrutura familiar, eu fui para as ruas e comecei a vender paçoquinhas nos sinaleiros e nas ruas. Fazia isso das 9h às 17h e ganhava, em média, R$ 70 por dia“,

relatou a jovem à Banda B.

Vanusa dividia a cama dos albergues municipais pelos quais passava com a solidão, a fome, o medo. A dúvida, por outro lado, era quem a cobria nas noites mais frias. Os albergues municipais são acomodações disponibilizadas pelas prefeituras para atender pessoas que vivem em situação de rua. Ela viveu em locais como esses até o final do ano passado. Agora, vive em um “quartinho alugado” enquanto espera as aulas do curso de Letras começarem na UEPG.

Apesar das dificuldades e da falta de oportunidades, a jovem que sonha em ser professora descreveu que entrar em uma universidade sempre foi um sonho. Por isso, passou a usar a internet do Terminal Rodoviário Intermunicipal de Ponta Grossa para estudar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O celular usado para estudar foi conquistado com a venda de paçoquinhas, vendidas a R$ 1 cada.

A aprovação em 1º lugar no curso de Letras, por meio da Lei de Cotas (vagas destinadas a quem concluiu o ensino médio integralmente em escola pública), só foi possível por causa do “empurrão” de uma outra pessoa: uma psicóloga que atendia Vanusa no Centro POP de Ponta Grossa, serviço ofertado para pessoas que vivem em situação de rua. A jovem foi aprovada por meio das notas de seu histórico escolar do ensino médio.

“Foi através do meu histórico escolar que eu passei em 1º lugar em uma cota para alunos da rede pública e em 5º na cota universal. Eu sempre quis esse curso, desde criança. Quando apareceu o resultado, não vi meu nome na lista e fiquei muito decepcionada, chorei. Depois, fui até a psicóloga que pagou meu vestibular e expliquei que não tinha passado. Ela me convenceu a olhar o resultado de novo e me mostrou que eu havia passado em 1º lugar”, explicou ela.

Hoje, Vanusa já não vende mais paçocas nas ruas e vive de doações. Enquanto isso, a menina que já recebeu convites para usar drogas e se prostituir aguarda as aulas começarem, a partir de fevereiro.

“Meu maior sonho é ter um emprego e uma casa”, finaliza ela, que recentemente ganhou uma bolsa de estudos para cursar Direito no Centro Universitário Internacional (Uninter).

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