Veja fotos dos imóveis abandonados da família von Richthofen

Parte dos endereços chegou a ser ocupada por 'falsos sem-teto'. Em Campo Belo (SP), invasores já ganharam até título de propriedade por usucapião

Vinte anos após ter ganho na Justiça o direito de herdar todo o espólio dos pais, Manfred e Marísia von Richthofen, Andreas von Richthofen, hoje com 36 anos, vem demonstrando desinteresse em usufruir ou mesmo administrar os bens que recebeu. A decisão de duas décadas atrás impediu que a irmã de Andreas, Suzane von Richthofen, condenada pela morte do casal, ficasse com parte da fortuna familiar, avaliada em cerca de R$ 10 milhões à época.

Na lista da herança havia carros, terrenos e seis imóveis, entre eles a mansão onde o casal foi assassinado em 2002 — vendida por R$ 1,6 milhão —, além de dinheiro em contas correntes e aplicações. Mas a situação hoje é bem diferente. Andreas enfrenta 24 ações na Justiça de São Paulo por dívidas de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) e condomínios atrasados, somando um calote de aproximadamente R$ 500 mil. E o abandono dos imóveis ajuda a ilustrar a situação. Veja abaixo alguns dos exemplos com fotos.

Abandonada, casa onde família von Richthofen morou, em Vila Congonhas, foi invadida e ocupada — Foto: Ullisses Campbell

Abandonada, casa onde família von Richthofen morou, em Vila Congonhas, foi invadida e ocupada — Foto: Ullisses Campbell

Ao identificarem o abandono, os “falsos sem-teto” chamam um chaveiro e entram nas casas sem arrombar portas e portões. Limpam o terreno, fazem reformas, pintam a fachada, mandam ligar luz e água e passam a morar de graça até que alguém reivindique judicialmente a propriedade.

Abandonada, casa onde família von Richthofen morou, em Vila Congonhas, foi invadida e ocupada — Foto: Ullisses Campbell

Abandonada, casa onde família von Richthofen morou, em Vila Congonhas, foi invadida e ocupada — Foto: Ullisses Campbell

A casa acumula R$ 48.524,07 em tributos de IPTU atrasados, segundo levantamento feito em novembro de 2023. Essa pendência refere-se ao exercício 2021 e 2022, período em que a casa já estava ocupada por invasores.

Abandonada, casa onde família von Richthofen morou, em Vila Congonhas, foi invadida e ocupada — Foto: Ullisses Campbell

Abandonada, casa onde família von Richthofen morou, em Vila Congonhas, foi invadida e ocupada — Foto: Ullisses Campbell

No bairro de Campo Belo, onde Andreas tem outras duas casas, invasores já ganharam título de propriedade por usucapião. Trata-se de aquisição de imóvel por meio da posse prolongada, contínua, pacífica e sem oposição, também chamada no Direito Imobiliário de prescrição aquisitiva. O tempo dessa posse pode ser entre 5 e 15 anos.

Irmão de Suzane von Richthofen transforma herança de R$ 10 milhões em dívida milionária — Foto: Editoria de Arte

Irmão de Suzane von Richthofen transforma herança de R$ 10 milhões em dívida milionária — Foto: Editoria de Arte

Clínica psiquiátrica deixada de lado está sob risco de invasão

Outro imóvel sob risco de ser invadido está localizado na Rua República do Iraque, no bairro Brooklin Paulista. Ali funcionava a clínica da psiquiatra Marísia von Richthofen, mãe de Andreas e Suzane von Richthofen. A casa geminada de dois pavimentos tem 135 metros quadrados e acumula débito de R$ 20.170,17 até julho de 2023.

Imóvel onde funcionava a clínica psiquiátrica de Marísia von Richthofen, na Rua República do Iraque, no Brooklin Paulista — Foto: Maria Isabel Oliveira  / Agência O GLOBO

Imóvel onde funcionava a clínica psiquiátrica de Marísia von Richthofen, na Rua República do Iraque, no Brooklin Paulista — Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O GLOBO

Andreas chegou a morar no imóvel por alguns anos, época em que cursava Farmácia e Bioquímica na Universidade de São Paulo, entre 2005 e 2015. Esse período inclui um doutorado feito por ele em Química. Segundo vizinhos, Andreas reunia amigos e fazia festas esporádicas no local com outros estudantes mantendo o som alto até a madrugada. No entanto, os vizinhos de porta nunca se queixaram do barulho. “Esse garoto era tão triste que não tínhamos coragem de reclamar quando ele estava se divertindo com os amigos”, disse a dentista Olívia Massaoka, vizinha de porta da casa da República do Iraque.

Outro vizinho de Andreas na República do Iraque é o empresário Allan Zurita. Segundo ele, o irmão de Suzane alternava momentos em que se apresentava bem vestido e comunicativo e outros em que mal falava “bom-dia” e andava com a mesma roupa por até uma semana. Zurita já impediu duas vezes que a casa ao lado fosse invadida. Para não passar a impressão de que o imóvel está abandonado, o empresário pega os boletos deixados pelos carteiros na caixa de correios e paga a conta da luz. Ele também manda limpar o mato que cresce nos buracos da calçada e rente ao portão. “Minha intenção é comprar a casa dele, mas ninguém consegue localizá-lo para fazer a oferta”, diz Zurita.

Prejuízo de R$ 150 mil por inadimplência em condomínio

Há ainda uma unidade de 32 metros quadrados em um prédio no bairro Campo Belo, adquirida à vista por Andreas em 2017, por R$ 430 mil. Só no processo que o condomínio do edifício Greenwich Village Campo Belo move contra o rapaz desde 2021, por inadimplência, ele já perdeu R$ 150 mil entre taxas e honorários de sucumbência, que são os valores que se paga aos advogados da parte vencedora de uma ação.

Fachada de Prédio, um dos bens da família Richthofen, em Campo Belo — Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O GLOBO

Fachada de Prédio, um dos bens da família Richthofen, em Campo Belo — Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O GLOBO

O condomínio tem piscina, sauna, salão de festas, uma vaga na garagem, espaço gourmet e portaria 24 horas. Em 2023, o apartamento já valia R$ 630 mil — ou seja, valorizou 46%. Desde 2020, quando se mudou para um sítio no interior do estado, Andreas não paga condomínio (R$ 718 + taxa de reserva de R$ 22) nem IPTU desse apartamento.

Os bens de Andreas localizados no bairro de Campo Belo eram administrados pela imobiliária Laert de João Imóveis. As corretoras tentaram encontrá-lo durante todo o ano passado para que ele assinasse contratos de locação. Em vão. “A última vez que compareceu aqui, em 2021, ele estava irreconhecível. Estava tão sujo e maltrapilho que parecia um morador de rua. Aparentava estar em surto. Ficamos até com medo de abrir a porta”, contou a dona da imobiliária, que pediu para não ser identificada.

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