O convidado do podcast ‘Fala Operacional’ é o policial rodoviário federal Barbosa Silva. Barbosa, mais conhecido no mundo operacional é natural de Xapuri no Acre, e vem contar como um menino nascido em Xapuri, conseguiu chegar na PRF e ser mecânico de helicóptero. Sua trajetória foi iniciada na Policia Militar do Estado do Acre depois foi para a CIOPAER, logrando exito em sua aprovação na PRF em 2019.
Acompanhe um pouco de sua história real do Operacional Barbosa Silva
Baseado numa real ocorrência policial.
– Ciosp… Ciosp…. Policial baleado na cabeça… Reforço… Reforço…
Alguns barulhos me atraem e os estampidos de tiros são um exemplo, ainda mais se forem seguidos de cheiro de pólvora queimada e assobios esfuziantes sobre a cabeça. Isso quer dizer que alguém está atirando em você, a pouca distância e, o pior, que estão quase acertando.
Olá! Não me tenha. Estou aqui para contar uma história.
Antes uma breve apresentação. Sou necessário, estou em todos os seus passos, tenho muitos nomes e muitos amigos. Estou na sua mente, mas quando te encontrar dará sinais de mim em todo seu corpo. Dilatarei sua pupila, segurarei suas palavras na garganta, arrepiarei seus pelos. Mas acalme-se, pois se está vivo hoje é porque já nos vimos e te segurei em alguma situação que custaria sua vida.
O que te conto agora aconteceu aqui mesmo em Rio Branco. Era apenas mais um dia de serviço. Eu estava disfarçado de rotina e todos policiais fingiam não me sentir. Nesse dia de trabalho três militares me encontrariam e não seria muito prazeroso. Para eles.
Domingo de sol e dia de serviço. É assim, enquanto todos procuram lazer eu trabalho, nisso me pareço com os policiais. É cedo da manhã e a viatura já está aos cuidados do motorista que se equipou e fez sua oração. Comandante e patrulheiro se aprestam com cassetetes e armas. Ao trabalho.
Foram várias ocorrências de todos os tipos, com isso o dia passou rápido e logo chegou a noite. Os três homens estão mais íntimos, eles compartilharam dificuldades, sorrisos, cansaço e ainda sobrou espaço para me dividirem em algumas situações, mas nada comparado ao que estava por vir.
Um deles brinca comigo e diz sentir cheiro de sangue falando, sob risos, ser isso um mal presságio. Acho engraçado quando, às vezes, tentam me esconder atrás de palavras duras e estórias de bravuras, sendo que sempre estou ali na consciência de todos.
Eu aguardava a visita de uma amiga, minha melhor amiga, a Morte. Sem dúvidas ela é a que mais dá trabalho, pois mesmo passando por longe sempre me emprega e me deixa no ar. Quando ela vem e não faz seu trabalho eu fico responsável por alertar a pessoa de que algo está errado.
Sou sucinto…. Rápido…. Chego e saio logo. Derramo adrenalina no seu corpo e deixo todo o resto com você.
Eram 23 horas de um domingo junino, o ano era 2009. Escuta-se no rádio:
– Viatura Comando/1 do Bope… É o Ciosp….
– Prossiga com a mensagem… Respondeu o comandante da guarnição.
– Pergunto se está pronto para atender ocorrência? Indagou a operadora de rádio da Policia Militar.
– Positivo em QAP (pronto)… Responde o Sargento usando a linguagem castrense.
Estava marcado o encontro.
A voz do rádio disse que deveriam interceptar um grupo com quatro ladrões que acabara de roubar 11 mil reais, uma moto e armas de uma fazenda que fica na estrada que leva ao município de Porto Acre, no entanto antes de saírem da cidade eu os interceptei, mais precisamente, na rotatória da Avenida Antônio da Rocha Viana próximo ao supermercado Casa dos Cereais.
Ao passar pela rotatória os bopeanos olharam atentos para uma aglomeração formada no meio da rua devido a um bar que funcionava ali mesmo no contorno. Logo após o aglomerado avistam uma moto com todas as características da que fora roubada a pouco. E era mesmo estava com o piloto e um garupeiro. Cruzaram por ela e ao ter certeza dos suspeitos o motorista fez a volta e saíram em busca. Ao chegar próximo da dupla o homem da garupa sem se preocupar com as centenas de pessoas ali reunidas dispara contra a viatura, ele parecia saber exatamente o que fazer e tentava contra o motorista e o radiador do carro sempre no intento de parar o veículo.
Os tiros, o cheiro de pólvora e os assobios dos projéteis me chamaram. E lá estava eu trabalhando. A morte apenas aguardava.
Após a primeira investida me sentia em todos eles, policiais e bandidos, ainda mais, depois que a morte passou o dedo na cabeça de um dos homens de preto.
– Ciosp… Ciosp… Policial baleado na cabeça… Reforço… Reforço… Solicitava o comandante.
Foram segundos jamais esquecidos na vida daqueles homens, garanto que enquanto viverem se lembrarão de mim e daquele dia.
Agora eu ia dar espaço para alguns amigos trabalharem. A primeira que ví chegar foi a Raiva, ela tomara de conta dos guardas e a captura daqueles bandidos passou a ser prioridade.
– Sargento…. Temos que pegar essas caras. Atiraram na gente… Assinalou o motorista me ignorando por completo.
Logo em seguida avistei a Vergonha esperando uma falha deles para cobrá-los perante seus companheiros caso não tomassem uma atitude eficiente. Contudo, para meu desgosto, quem assumiu a situação foi minha principal oponente, a Coragem.
Confesso que fiquei espantado ao ver aqueles homens saírem em busca de mim. Em busca dos agressores, indo de encontro aos seus instintos me enfrentando e rejeitando a reação que normalmente causo nos seres vivos, que é a fuga. Três encontros entre nós (Os policiais, os bandidos e eu) antecederam o final dessa História, todos ocorridos na Avenida Getúlio Vargas. O primeiro na rotatória do Posto Thalma, o segundo no outro círculo de conversão que fica próximo a Ponte sobre o igarapé São Francisco e o terceiro em frente ao SESC/bosque. Encontros sempre com muita adrenalina e tiros.
O piloto da motocicleta achando que tinha se livrado dos seus perseguidores entrou numa rua sem saída em busca de atendimento no hospital Santa Juliana, pois o da garupa tinha sido atingido na perna. Enquanto isso, dentro da viatura, uma dúvida surgia, continuar a busca ou passar direto em direção ao Pronto Socorro para tratar do amigo? Por decisão do próprio policial baleado seguiram no confronto e, mais uma vez, me senti superado pela Coragem.
No final da rua um hospital, no estacionamento dele uma moto caída e dois homens correndo, esse seria o cenário final desse fato. Ao fundo do espaço destinado aos carros um criminoso sobe no muro e retoma o tiroteio, o outro atingido não consegue pular o obstáculo e se vira para esboçar, com tiros, sua última reação. Os policiais atiravam na tentativa de cessar o ataque e o que subiu no muro consegue fugir. O outro fica até descarregar sua arma, foi quando outra dúvida me levou de volta a cena. Matamos ou não? Se perguntaram os PMs. A Preocupação era se o excesso iria trazer problemas como prisão e expulsão da caserna. Isso fez com que acertassem na escolha e não atirassem mais depois que acabou a agressão por parte do ladrão. Preocupação, esse é um dos meus muitos nomes. Viu? Sou necessário.
Como resultado um policial baleado de “raspão” na cabeça e um suspeito com seis tiros pelo corpo e preso pelos crimes de roubo e lesão corporal. A morte apenas me mandou como aviso.
Percebi a chegada dos reforços solicitados pela guarnição e então me retirei dando espaço a novas estórias de bravuras em que pouco, ou nada, eu aparecia. Novamente homens tentavam me esconder atrás de palavras.
Meu trabalho foi feito, não precisei mais do que quinze minutos. Esse foi o tempo desse fato, porém afirmo que foi uma eternidade para seus personagens.
No dia seguinte foram presos os demais integrantes do grupo e tudo voltou ao normal, mas não para aqueles homens que através de mim enxergaram minha amiga Morte.
Ainda não sabe quem sou?
“O medo da morte é o maior medo sentido pelo homem, nele está o fulcro do modo de vida de cada um, assim como o de todas as religiões…” Não perca essa conversa!
O Fala Operacional vai ao ar, excepecionalmente, nesta quarta-feira (07/02) às 19h (ao vivo) pelo canal do Fala Operacional Podcast no YouTube.
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