Pedro Dutra Fonseca: há vida lá fora

A guinada antiglobalização que a política comercial dos EUA promete assumir oportuniza que a do Brasil também seja repensada. Política externa nunca foi prioridade nestes trópicos. Fernando Henrique e Lula, apesar das diferenças, mantiveram uma linha comum em apostar no Mercosul e não se aproximar da Alca, dois projetos que agora, por motivos diferentes, cambaleiam. Um dos equívocos do governo Dilma foi ignorar a política externa, cuja face mais visível se verificou no abandono das embaixadas brasileiras, sem verba até para pagar a luz.

Foto: Ilustração

Hoje, o intercâmbio com os EUA alcança apenas 15% do comércio exterior do Brasil, bem menos do que, em média, no século 20, pois a China passou a ocupar a primeira posição. Entretanto, o país ainda é de onde mais se importa. E, diferente das exportações para a China, que são principalmente de commodities e matérias-primas brutas, para os EUA, exportam-se bens de alto valor agregado, os quais perfazem mais de 60% do total, como aviões, máquinas mecânicas e elétricas, turbinas a gás e automóveis. Trata-se, portanto, de parceiro relevante, cuja mudança de orientação preocupa e impõe a busca de alternativas.

Deve-se ter presente, para início de conversa, que outros países não adotarão a mesma política de fechamento – e é daí que podem surgir novas oportunidades. A Comunidade Europeia e a Parceria Transpacífico (TPP) inserem-se nessa perspectiva. Este era para ser o maior bloco do mundo, do qual estávamos fora e, agora, deverá ser remodelado com a mudança norte-americana. Japão, Índia e países latino-americanos como Peru, Colômbia e México, e especialmente este último por ter apostado todas as fichas na integração com os EUA, são fronteiras de comércio que o Brasil vem negligenciando, mas que ora devem ser vistos de outra forma.

Tudo sugere que o governo atual não tem disposição nem cacife para qualquer protagonismo internacional. Cogita-se até que José Serra teria saído do ministério não só por motivo de saúde, mas porque, mesmo sua postura moderada ao apoiar o México e criticar a construção do muro, fora mal recebida pelo “núcleo duro” de Temer. Mas política externa é matéria que exige prazo de maturação, por isso é preciso que entre na pauta das discussões desde agora.

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Pedro Dutra Fonseca: há vida lá fora