20 de abril de 2024

Facebook vs Snapchat: um resumo da guerra entre Stories e Snaps

Facebook, WhatsApp e Instagram declararam guerra contra o Snapchat, um aplicativo de rede social que nasceu em 2011, tem sua sede na beira da praia, em Venice (Califórnia), e atende pelo ícone de um amistoso fantasma nas telas dos celulares. No início, a plataforma ficou famosa por tolerar posts de nudes e polêmicas de todos os tipos — já que a proposta é de que as fotos e os vídeos publicados no feed durem poucos segundos e desapareçam em até 24h.

Stories e Status em várias plataformas, além do Snapchat (Foto: Carolina Ochsendorf/TechTudo)

Tempos depois, o Snapchat “tomou jeito”, as fotos de nudez foram diluídas por uma enxurrada de selfies, o spam foi controlado e a plataforma ganhou o coração de adolescentes e jovens entre 13 e 24 anos — agitando também os rivais, que tiveram que correr atrás para entender a onda das redes sociais efêmeras. O efeito, porém, não foi o nascimento de funções inovadoras nos concorrentes, mas uma avalanche de réplicas que têm gerado polêmica por onde se instalam.

Criado por Evan Spiegel, Bobby Murphy e Reggie Brown na Universidade de Standford, o Snapchat tem bastante em comum com o Facebook: foi criado por universitários, viveu uma briga entre sócios, arrebatou uma geração e criou tendências de comportamento. As semelhanças, no entanto, paravam por aí. Até que Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, viu nos snaps a fórmula ideal para manter seu império vivo entre o público mais jovem e a replicou à exaustão.

O que o Snapchat tem?

O que atrai no snap é a irreverência de textos coloridos, desenhos, stickers, filtros locais e lentes 3D que aplicam máscaras divertidas com orelhas de animais, vomitando arco-íris e fazendo face swip (troca de rosto). No início, o aplicativo ficou marcado como terreno livre, sem pais, mães, professores e pessoas mais velhas monitorando perfis. O que ainda motiva os mais jovens a entrarem na plataforma.

“O Snapchat conquistou um público jovem com um formato de compartilhamento e consumo de conteúdo rápido e volátil, com foco na onda de selfies. Para ter uma ideia, a minha afilhada é mais ativa no Snapchat por que, segundo ela, seus pais ainda não estão lá. O Facebook vem perdendo público jovem vertiginosamente e oferecer uma solução parecida com a do Snapchat, provavelmente, é uma estratégia para reconquistar esse público”, acredita Lisandra Maioli, especialista em mídias sociais e UX na UXpressocafe e Marketing na Fluid UI (Dublin).

O que é o Snapchat?

Somado isso ao fato de que os snaps desaparecem ao badalar dos sinos — encorajando a compartilhar qualquer foto ou vídeo sem relevância — a receita ainda leva pitadas de conteúdo de sites, revistas, emissoras de TV e marcas famosas e, para completar, caiu nas graças de celebridades. No jeito Snapchat de ver o mundo, as fotos precisam ser registradas com a câmera do app e não são aceitas mídias da galeria do celular na função original. Vai fazer printscreen? Pense bem. O app avisa ao dono do post que uma captura de tela foi feita: “quebraram a regra do jogo”. Nada parecido com redes sociais tradicionais, até então.

Mas é só isso?

Algumas pessoas podem não ver sentido em usar uma rede social em que tudo que é compartilhado desaparece. Porém, trocando em miúdos, o snap é o oposto de tudo o que o Facebook e o Instagram se tornaram ao longo do tempo: espontâneo. Para contornar isso, foram lançados os já famosos Stories.

Vejo os Stories como um novo formato de comunicação, algo que o público encontrou como uma alternativa ao feed de notícias com curtidas e comentários. O formato nasceu dentro do Snapchat e começou a se popularizar principalmente pela facilidade de criação de conteúdo e isso começou a agradar aquele público que gosta de coisas mais efêmeras. Produzir conteúdo que depois some é a melhor forma de deixar o usuário livre e à vontade com as questões estéticas e de formato”, acredita Cristiano Santos, palestrante e consultor de mídias sociais.

Num cenário em que, para os mais jovens ou que não apreciam uma longa discussão, o Facebook se tornou um lugar chato, “cheio de textão”, uma plataforma como o Snapchat parece o paraíso. O mesmo acontece com aqueles que entendem o Instagram como uma “vitrine fake com selfies maravilhosas, mergulhadas no Photoshop e com frases de efeito. Os snaps são a tradução em bits do momento, sorrisos verdadeiros, coisas que fugiram do controle e viraram boas histórias — sem qualquer compromisso de se tornarem eternas.

A snapchatização do Facebook

E se alguém tinha medo da Orkutização do Facebook com listas, testes, comunidades, correntes, gifs piscantes e todo tipo de conteúdo irrelevante viralizando, o que arrebatou o site foi outro fenômeno: a snapchatização. Em tempo recorde, redes sociais e mensageiros ganharam as suas próprias versões: Instagram Stories, WhatsApp Status, Messenger Day e Facebook Stories.

O Facebook, que comprou o Instagram por US$ 1 bilhão em 2012 e depois o WhatsApp por incríveis US$ 19 bilhões em 2014, não teria poupado esforços para adquirir também o Snapchat. Segundo a revista Forbes, Zuckerberg teria oferecido US$ 3 bilhões pelo aplicativo, enquanto o Google esticado até US$ 4 bilhões. Nenhuma das duas empresas confirma ter feito as ofertas, tampouco levaram a startup para o seu leque de serviços. Em 2017, o app abriu capital, avaliado em mais de US$ 20 bilhões. As investidas de rivais em versões semelhantes, porém, frearam o otimismo e derrubaram o preço das ações.

Com adversários de peso sob o chapéu da gigante de Palo Alto, o Snapchat viu seu total de usuários diários brecar em crescimento, conforme os documentos do IPO na bolsa de Nova York — na época, ainda maior que o Instagram Stories. Com tantas opções, é natural escolher a plataforma em que está a maioria dos seus amigos ou do seu público. É aí que a turma do Facebook vence, no tamanho.

– Snapchat — 160 milhões de usuários diários
– WhatsApp Status — 175 milhões de usuários diários
– Instagram Stories — 200 milhões de usuários diários
*Ainda não há dados para Facebook Stories e Messenger Day

Publicidade em Snaps e Stories

Entretanto, se engana quem pensa que todo esse esforço do Facebook é apenas para rivalizar com o Snapchat em funções semelhantes. Entre um snap e outro, as empresas lucram com publicidade. O formato, copiado sem cerimônia, abre uma nova janela de exibição de anúncios, longe de plugins que bloqueiam banners, com linguagem jovem e conteúdo direcionado, em tela cheia nos celulares.

No Brasil, o Instagram já vem apresentando anúncios entre os Stories, que respeitam o formato efêmero e temporário da mensagem, contando histórias rápidas e divertidas, apenas para o usuário dos seus apps em smartphones.

A união faz a força

Após as aquisições, o Facebook iniciou uma série de mudanças. Em 2013, o Instagram ganhou o Direct, um inbox para fotos e mensagens. No ano seguinte, em 2014, chegou um embrião de clone para o Snapchat, o Slingshot (estilingue, em inglês) — que funcionava com um vai e volta de fotos com um jeito bem parecido com os snaps, mas ainda em fase de amadurecimento. Assim como o Facebook Poke (app apenas para cutucar), a “atiradeira de selfies” não vingou.

Em março de 2016, o Facebook comprou o MSQRD (Masquerade), que faz exatamente a mesma função das Lenses (lentes divertidas que mudam o rosto dos usuários do Snapchat). Não encerrou o app, mas incluiu as suas funções nos vídeos criados no Facebook Messenger. Em agosto, foi lançado o Instagram Stories. Exatamente igual ao Snapchat, o Stories tinha um diferencial: enviar fotos da galeria do celular, mas apenas dentro das últimas 24 horas.

No mesmo ano, o Facebook investiu no Flash, um clone de Snapchat exclusivo para mercados emergentes, que possuem Internet de baixa qualidade. Escolheu o Brasil para desembarcar no Android, e depois no iPhone (iOS). Deste, não se ouve mais falar. Também em 2016, o Instagram e o Facebook investiram em recursos mais espontâneos, como vídeos ao vivo, textos com fontes maiores e fundo colorido e o próprio Facebook Reactions, que tenta humanizar as reações dos usuários, saindo do “like” — tradicional curtida — que é frio e mecânico.

Se incluir mudanças no Instagram parecia pouco, em 2017 quem ganhou o seu próprio snap foi o WhatsApp. O aplicativo de mensagens renovou a função Status, que agora mostra fotos e vídeos efêmeros com um detalhe perigoso: os posts ficam visíveis para todos os contatos da sua agenda. É preciso alterar as configurações para fechar o cerco. O app foi motivo de reclamação por ficar pesado, ter privacidade sensível e matar o antigo status — que voltou mais tarde.

A empresa achou por bem voltar atrás. Sem destituir o WhatsApp Status, introduziu o Recado, que trouxe de volta o “status antigo”, sem fotos e vídeos efêmeros ou temporários. Atualmente, os dois convivem em harmonia na mesma interface, deixando o mensageiro com jeitão de uma rede social.

O ano ainda está longe de acabar, e a briga mais quente da tecnologia também. Ainda no primeiro trimestre de 2017, o Facebook liberou o Messenger Day — outra função de snap, agora dentro do Facebook Messenger. A proposta é bastante objetiva: mostrar momentos do seu dia para os amigos. Seria simples, se não fosse outra alternativa e concorrência para o Snapchat, também do Facebook.

Já que o Messenger Day é exclusivo daqueles que além do aplicativo da rede social usam o Facebook Messenger, uma quarta e última opção atinge aqueles que usam apenas o app do Facebook no Android. Em março, a rede social liberou o seu último tiro: o Facebook Stories, com interface bem similar à do Instagram Stories. Desta vez, porém, o usuário da conta pode escolher entre publicar a foto como snap ou como post tradicional — mudando tudo, mais uma vez.

A mudança levou também a caixa de mensagens Direct para o aplicativo, dividindo a atenção do usuário entre o fluxo do feed de notícias, dos posts do Facebook Stories e das mensagens temporárias trocadas nos snaps que vão parar na caixa do Direct, sem qualquer relação com o chat do Facebook Messenger ou com o bate-papo na versão desktop. Algo um tanto confuso.

E se boa parte dos usuários de redes sociais desconheciam o Snapchat, agora verão seus apps favoritos se transformarem. Resta saber qual das opções — Instagram Stories, Facebook Stories, WhatsApp Status ou Messenger My Day — vai fazer mais sucesso e especulações não faltam. No WhatsApps e no Facebook Messenger os posts temporários podem ficar expostos a contatos não tão próximos, adicionados à agenda por motivos profissionais, por exemplo. No Facebook e no Instagram, onde o controle de acesso é mais óbvio, é provável que as Stories ganhem mais força e também sejam usadas de forma mais criativa.

“No WhatsApp e no Messenger não vinga. Lá não é o ambiente em que nos sentimos conectados com todo mundo. É onde as pessoas estão tendo conversas mais íntimas. Vejo o Facebook como uma gritaria e o Messegner e WhatsApps como um cochicho. Estou acompanhando com atenção o formato de Stories no Instagram”, opina Cristiano Santos, citando marcas que já estão investindo em histórias temporárias para atingir o público que se forma neste novo nicho.

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