Escrevi não leu, o pau comeu!
A propósito da coluna anterior, na qual fiz algumas considerações sobre o possível calote no 13º dos servidores públicos estaduais (que acabou por se confirmar nesta quinta, 27), um leitor externou suas impressões sobre o que certamente não leu. E se leu, não foi capaz de interpretar. Aos olhos do dito-cujo, este colunista parecia torcer para que o Sr. Tião Viana não pagasse o abono salarial. Outro me acusou de promover uma campanha do ‘quanto pior, melhor’, convicto de que o petista fosse honrar seus compromissos. Ledos enganos, conforme vimos. Ainda assim, vou desenhar.
Abecedário
Pra começo de conversa, só aos parvos é concedido o direito de tirar conclusões do que não está escrito. Ao contrário do que supôs o ‘leitor’, em nada me apraza a desgraça alheia, e menos ainda dos que levaram calote, tendo recebido apenas metade do 13º. Segundo que não há necessidade de se fazer campanha infamante contra um governo e um partido que trataram de se aviltar por si sós. Terceiro, é preciso explicar que minha função é reportar e analisar os fatos, e não deleitar, com fantasias, os miolos-moles e puxa-sacos que agora culpam a imprensa – conforme já fizeram com Michel Temer – pelo desastre que nos assola. Por último, aos que me acusaram de inventar notícias, eis que a realidade, infelizmente, tratou de confirmar meu prognóstico.
Muito pra poucos e pouco pra muitos
Quem se der ao trabalho de pesquisar com cuidado o Portal da Transparência do governo do Acre verá por que faltou, de um lado, dinheiro para pagar o 13º dos pensionistas e aposentados do estado, enquanto, do outro, teve até de sobra para os que haverão de passar o Réveillon dos sonhos.
Ó mundo tão desigual…
A turma do primeiro escalão, que recebeu ao longo do ano salário mensal de R$ 21,3 mil, não precisou mofar na fila do gargarejo para ver na conta bancária os valores correspondentes à rescisão contratual. Ou pelo menos parte deles. Já a maioria daqueles que outrora ocuparam cargos comissionados não viu ainda a cor do dinheiro. E nem verá – não na gestão do petista.
Herança maldita
A propósito, fonte da coluna que trabalha na Secretaria de Gestão Administrativa (SGA) esclareceu ontem que muitos entraram com pedido de recebimento das verbas indenizatórias, mas o andar de cima mandou que fossem feitos vários questionamentos a fim de se protelar a quitação. Ou seja, a ideia é transferir mais esse passivo para o governador eleito Gladson Cameli.
Primos ricos
Enquanto isso, os secretários de Tião Viana enchem os bolsos, conforme se pode ver na imagem aí abaixo, reproduzida do Portal da Transparência. Trata-se do pagamento das verbas indenizatórias (que incluem o 13º salário) ao secretário de estado de Educação, Marco Antônio Brandão Lopes. O pobrezinho embolsou, de uma só vez, mais de R$ 49,7 mil. Fora o salário de dezembro, que conforme dissemos, está fixado em R$ 21,3 mil. Total bruto: 71 mil reais.
Acachapante
Cabe lembrar ao leitor que são atualmente 21 secretarias de governo. E se acaso cada um dos titulares tiver recebido valor idêntico ao embolsado pelo Sr. Marco Brandão, o conjunto terá custado mais de R$ 1,4 milhão ao contribuinte. Só este mês.
Tem mais
E não para por aí. Antes, é preciso lembrar que a reforma administrativa de Gladson Cameli extinguirá seis secretarias, entre as quais a de Habitação e Interesse Social e a de Política Para as Mulheres. Além de duas autarquias e cinco fundações que também serviam como cabide de empregos.
Lupa
Conforme afirmei acima, se procuramos com cuidado no Portal da Transparência, poderemos ver por que parte dos servidores públicos e a maioria dos antigos comissionados não receberam o abono salarial, uns, e a rescisão, outros.
O governo como ele é
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) nos dá uma pista. As despesas contabilizadas pelo órgão totalizam quase R$ 7 milhões só neste mês. E para que o leitor tenha ideia de como as coisas funcionaram no governo do Sr. Tião Viana, os gastos da Polícia Militar do Acre não chegaram a R$ 900 mil em dezembro. Em pleno período de crise na segurança pública…
Indecência
Pois bem, o demonstrativo de despesas da Sema mostra pagamentos de tantas diárias neste mês que – confesso – não tive a paciência de contar, e menos ainda de somar os valores. Mas asseguro que é uma coisa pra lá de indecente.
Farra na floresta
Pior que as diárias, talvez, seja se deparar com cinco pagamentos, em um só dia (12 de dezembro) à mesma pessoa, cada um deles no valor bruto de R$ 16.480,33. O print segue aí abaixo para que os jumentinhos louvaminheiros não se deem ao trabalho de ir à fanpage da ContilNet dizer que produzo fake news.
Tá na regra, Arnaldo?
Carlos Ovídio Duarte Rocha, beneficiário dessa bolada que totaliza R$ 82.401,65, é engenheiro florestal. Os pagamentos decorrem, segundo o governo, da prestação de consultoria no âmbito do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Acre, Fase II, cujos recursos foram captados, em forma de empréstimo, no guichê do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em 2013. Trata-se de outra dívida que nos deixa de ‘herança’ o companheiro Tião Viana.
Lá e cá
Diante de valores tão salgados, e de montantes que a maioria de nós nunca teve em conta bancária ou possuiu em espécie, é fácil deduzir a razão pela qual o estado quebrou. Em conversa com uma amiga que trabalha no governo, ontem à noite, ela afirmou que não estamos no fundo do poço, mas no ‘pós-sal’, tal a profundidade do buraco em que nos jogaram os governos companheiros. O de lá e o daqui.